O período da pandemia tem sido bastante proveitoso para a atriz Inês Peixoto. Confinada em Belo Horizonte, ela tem participado de vários projetos online do Galpão, como o Pausa Pro Café, em que integrantes da companhia contam casos sobre o grupo, faz parte da equipe de criação de uma websérie para o projeto Teatro EmMov Digital, do Teatro em Movimento, e aproveita o tempo também para estudar música e cinema. “Estou tentando me envolver com atividades e processos que sejam criativas criativos e de conhecimento. A pandemia tem sido um momento de descoberta de possibilidades no espaço web”, ela comenta.

A mais nova empreitada de Inês Peixoto é levar o monólogo “Órfãs de Dinheiro”, que estreou há um ano, para o universo online. Nesta quarta-feira (2), a atriz encena o espetáculo como parte da programação do Festival de Teatro Online Feluma. Ao vivo, a peça será transmitida gratuitamente às 20h pelo canal do Feluma no YouTube.

Primeiro projeto autoral da atriz, “Órfãs de Dinheiro” tem direção de Eduardo Moreira e concepção, texto e figurino da própria Inês, que vive, numa obra tragicômica, três personagens femininas em situação de vulnerabilidade: uma mulher vendida para exploração sexual ainda criança; uma refugiada que luta pela própria sobrevivência e de seu bebê; e uma empregada doméstica sonhadora.

No espaço cênico, uma canoa, presente nas três histórias, é o signo que representa a travessia a ser realizada.  “O barco vai sendo ressignificado a cada história, vai se integrando às narrativas”, comenta a atriz.Inês conta que o projeto partiu da vontade de criar uma obra autoral e que a experiência é resultado de reflexões sobre acontecimentos reais e leituras sobre assuntos que a atraíam no universo feminino.

“Quis escrever um monólogo que passasse por mim, pelo meu corpo. As coisas vieram de uma forma muito forte. Tinha vontade de falar sobre a situação a que mulheres são sujeitas pela dependência econômica do homem. É um assunto que me provoca indignação. 

Na versão presencial, cueja estreia completou um ano em agosto, Inês Peixoto escolhe uma pessoa da plateia para interagir e dialogar na parte em que ela vive a empregada doméstica. Em junho, quando interpretou o mesmo quadro para um projeto da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, ela usou outros meios. “Foi uma experiência muito legal, transformei a câmera na moça que vende o bilhete para andar nos barquinhos. Faço essa interlocução. É uma experimentação, uma brincadeira com o formato”, diz.  

Essa será a primeira vez que “Órfãs de Dinheiro” e seus 58 minutos de duração serão exibida na íntegra nos meios digitais. Inês Peixoto valoriza o fato de o espetáculo ser encenado e transmitido ao vivo e diz que a experiência vai além do teatro, que não é televisão nem cinema. “Vai ter a respiração do ao vivo, do aqui e agora, de estar junto no mesmo tempo ao mesmo tempo”, afirma Inês.

Para a atriz, o momento é de se jogar em novas experiências: “Esse teatro é o que é possível agora, temos que transformar isso num momento de investigação. A arte vai muito correspondendo o que está acontecendo no seu tempo. Talvez seja um rastro que continue por muito tempo”.