PROGRAME-SE

Mostra em BH reflete dinâmicas de vida nas margens dos centros urbanos

Fotógrafo Daniel Moreira apresenta, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, a exposição “Bordas não brotam do nada”

Por Alex Bessas
Publicado em 08 de maio de 2024 | 06:30
 
 
 
normal

Andarilhos de beira de estrada que emulam as esculturas dos profetas criadas por Aleijadinho entre 1800 e 1805, expostas no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Esta é a senha para a deambulação em torno da constelação de imagens realizada nos últimos 15 anos do fotógrafo e artista visual Daniel Moreira, que apresenta, na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas, a mostra “Bordas não brotam do nada”, em que volta suas lentes para as dinâmicas de vida que estão à margem, no entorno dos centros urbanos.

“A exposição surge a partir do livro (homônimo ao atual projeto) que lancei no ano passado, englobando um período longo da minha carreira como fotógrafo, pesquisando as periferias das cidades por onde passo”, explica Daniel Moreira, detalhando que o título reúne sete séries fotográficas, abordando as populações periféricas.

Para a mostra, o autor explica ter feito, junto com o curador Eder Chiodetto, um recorte de fotos anteriormente publicadas, acrescentando registros extras, que permaneciam inéditos. “Nesse trabalho, não tenho o intuito de criar um embate ou de denúncia, mas, sim, de falar da vida e da relação entre as pessoas. Nossas escolhas foram norteadas pelo tema das construções das sociais que se formam nas bordas da cidade, falando da convivência humana”, explica.

“Para mim, o processo do fazer é tão importante quanto o que é feito. Por isso, optei por fazer os registros com câmeras analógicas, que exigem cliques mais certeiros, diferentemente das fotos digitais, que nos permitem fazer várias fotos em sequência, prejudicando, na minha opinião, a convivência”, reflete, assinalando que buscou criar laços com as pessoas retratadas antes de mirar nela as suas lentes.

Chiodetto faz apontamento semelhante. “O trabalho (apresentado na mostra) tem tudo para ser um manifesto revoltado sobre questões sociais. Mas vai para o lado da candura, da superação e do direito de sonhar seu lugar no mundo”, avalia.

Além das fotografias, a mostra conta também com uma obra comissionada. “É um vídeo intitulado ‘Almoçando com Dona Januária’, que é uma senhora que conheci no Vale das Ocupações, na região do Barreiro. Ela chegou lá há 30 anos e começou cozinhar e vender marmita para seus vizinhos, ao mesmo tempo que alimentava quem não podia pagar”, relata o fotógrafo, que classifica seu trabalho como uma pesquisa expandida, que não é necessariamente documental e tampouco se fia apenas na criação de artes visuais. “É algo que fica nesse limbo, que eu chamo de ‘fotografia de construção humana’”, descreve.

Conteúdo

Na exposição “Bordas não brotam do nada”, Daniel Moreira, que atua como diretor do espaço cultural Viaduto das Artes, no Barreiro, exibe 44 fotografias impressas em pigmento mineral sobre papel de algodão, em tamanhos variados, além de uma videoinstalação. Nela, Dona Januária aparece sentada, à mesa, na cozinha de sua casa. Enquanto almoça, a personagem real encara o espectador, causando uma oportuna sensação de intimidade. 

As fotos, por sua vez, são organizadas em séries. Em uma delas, intitulada “Paisagem ambulante”, retratos em preto e branco de andarilhos ganham dimensão escultórica em quadros de 1,70 m. “Essas fotos foram feitas na BR-381, conhecida como ‘rodovia da morte’, que liga Minas aos Estados da Bahia e Espírito Santo”, descreve, lembrando que, à época dos registros, percorria trechos da via com certa recorrência. “É um conteúdo que eu já havia exposto anteriormente, mas não com a dimensão de agora”, detalha.

Já em “Sob o mesmo céu”, Moreira investe em impressões coloridas de pessoas em suas comunidades, suas construções e alimentos. “Nela, retrato elementos do dia a dia e a relação entre os moradores e os territórios que eles habitam”, descreve. Em “Área de risco”, por sua vez, ganham destaque os diversos itens perdidos por moradores de locais vulneráveis durante enchentes. “As imagens foram feitas em um córrego, onde, quando chovia, víamos coisas que eram arrastadas das casas das pessoas, como eletrodomésticos e móveis”, comenta.

Outra série apresentada na mostra é a “Catadores”, em que ele volta a fazer retratos. Desta vez, no entanto, volta seu olhar para as pessoas que trabalham com materiais recicláveis e seus cavalos, usados para o transporte dessas cargas. Há, ainda, o recorte “Desencantos” e outras fotos avulsas, que não integram nenhuma das séries apresentadas na mostra.

SERVIÇO:
O quê. Exposição Bordas não brotam do nada, de Daniel Moreira
Quando. Até 30 de junho. Visitação de terça a sábado, das 10h às 20h. Domingos e feriados, das 11h às 19h
Onde. Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas (r. da Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. Entrada gratuita. Classificação livre.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!