Xande de Pilares, 54, lida com sentimentos contraditórios. “Nervoso pela responsabilidade que é cuidar do filho de alguém”, ele já arrumou “um lugar na estante” na expectativa de realizar mais um sonho. “Ganhar o Grammy Latino, que ainda não tenho, vamos trabalhar!”, diz. Há uma semana, ele foi laureado no Prêmio da Música Brasileira nas categorias de melhor intérprete e melhor lançamento por “Xande Canta Caetano”, lançado no ano passado, e que chega agora a BH como uma das principais atrações do Festival Sensacional!, nesta sexta (21), depois de estrear em Salvador. “Estou muito feliz com as premiações, até nisso o Caetano foi importante na minha vida…”, celebra Xande, que também teve o álbum consagrado pelo Prêmio Multishow.

Ao expandir o repertório do disco para o show, o antigo vocalista do grupo Revelação deixa em aberto a possibilidade de um segundo volume da empreitada, e admite que algumas canções novas estão sendo gravadas. “Meus projetos pintam na hora, sou um cara que não gosta de ficar parado, tem muita coisa boa vindo por aí, mas vou segurar a onda senão pode não rolar”, despista. Além de “Luz do Sol”, “Tigresa”, “Alegria, Alegria”, “Gente”, “Lua de São Jorge”, dentre outras, a apresentação na capital mineira vai contar com “Força Estranha”, “Queixa”, “Tieta” e “Reconvexo”, imortalizada por Maria Bethânia, que Xande destaca como um dos pontos de identificação com o ídolo. “Toda vez que você fala da Bahia perto do Caetano, ele reage diferente. Tem essa coisa de defender as raízes, e de respeitar todas as culturas, mas a dele vem primeiro”.

Certa vez, ao cantar “Toda Menina Baiana”, de Gilberto Gil, em um programa de televisão, Xande pôde constatar a emoção de Caetano, que se repetiu no estúdio, agora com lágrimas nos olhos, durante as gravações do álbum “Xande Canta Caetano”. “Há muito tempo defendo a importância de homenagear as pessoas em vida. O que aconteceu foi muito impactante. Nunca tinha visto a Paula Lavigne chorar. O Caetano já tinha visto algumas vezes”, relata Xande, que teve seu som apresentado ao mestre por Zeca e Tom, filhos do baiano, dando início “a uma amizade muito bacana”, que contou com o empurrãozinho de Pretinho da Serrinha, produtor do disco. Os dois batiam perna no subúrbio do Rio, tocando pandeiro e cavaco. Pretinho insistia em levar Xande à residência de Caetano, mas ele só enrolava. Até ceder e “não sair mais de lá”.

Tributo

Um dia, Caetano flagrou Xande cantarolando “Ela e Eu”, lançada por Bethânia em 1979, no histórico LP “Mel”, que ele ganhou na infância, enquanto escutava “Alegria, Alegria” na abertura da novela “Sem Lenço, Sem Documento”, descobria Gal Costa e se encantava por um universo fascinante, presente em suas primeiras memórias. “Irene”, cantada cotidianamente pela avó de mesmo nome, entrou na vida de Xande quando ele ainda nem sabia que a música era de Caetano. Para completar, no ano em que o cantor nasceu sua escola de coração, o Salgueiro, sagrou-se campeã do Carnaval carioca com o enredo “Bahia de Todos os Deuses”. “Queria descobrir porque sou tão apaixonado pela Bahia”, diz Xande, que tem compartilhado esse amor.

Uma sobrinha o agradeceu por tê-la “ensinado a escutar Caetano”. E as pretensões vão além do círculo familiar, mas mantêm Xande nas raízes que ele tanto preza. “Fico feliz de levar a música do Caetano para a favela. Tem muita gente ouvindo trap, funk e agora ‘Xande canta Caetano’ também”, comemora. Dona Onete, outra atração do festival, carrega o seu Pará, “para o Brasil todo”. Com 85 anos recém-completados, ela festejou a data com “Bagaceira”, seu mais novo disco, o quarto da carreira. “Quis fazer uma homenagem aos ritmos do Pará, uma mistura grande, como nas festas de interior. Tem brega, tem lambada, tem banguê, tem carimbó. É uma grande mistura da festa do Ver-o-Peso com a festa do açaí”, proclama Dona Onete, exaltando o clima de festança.

No palco, ela promete deixar “o público feliz, pulando e cantando”, com um desfile de sucessos como “Banzeiro”, “No Meio do Pitiú” e “Jamburana”, para “todo mundo tremer”, provoca, além das canções mais recentes. O retorno a Belo Horizonte, para Dona Onete, é sinônimo de prazer, principalmente culinário, uma das temáticas de sua obra. “Já estou sonhando com o pão de queijo”, diverte-se. Sem romantizar a idade, ela afirma que já não faz “mais tantos shows como antes”, mas o amor ao ofício auxilia no pique que Dona Onete demonstra diante da plateia, aproveitando a deixa para um convite. “Também quero que as pessoas visitem o Pará, venham me ver na minha terra para aproveitar tudo o que eu canto nas minhas músicas, o açaí, o jambu, a priprioca, a festa no Ver-o-Peso e tudo mais!”, enaltece. Outro retorno aguardado é o da Banda Uó.

Novidades

Formado por Davi Sabbag, Mateus Carrilho e Mel Gonçalves, o trio goiano deu fim ao hiato anunciado em 2018, quando cada integrante decidiu investir em caminhos próprios. A mistura de brega e pop que catapultou músicas como “Shake de Amor” e “Catraca” a trilhas de novela da Globo volta a dar as caras, “com uma nova roupagem”, salienta Mel. “É um show pensado e dedicado aos nossos fãs, com as músicas que eles amam e que sentiram tanta falta nesse tempo todo”, completa a vocalista, que, há décadas, voou pela primeira vez de avião para se apresentar com o trio em BH. Além de cantar, Mel pretende prestigiar os shows de Djavan, Marcelo D2, Marina Sena e Ebony, que ela morre de “vontade de assistir”. “Sou muito fã…”, declara.

Quanto à possibilidade de um novo trabalho de inéditas, ela admite que a trupe, por ora, “dá uma ‘sabonetada’”, ou seja, escorrega para não responder diretamente. “Não temos mais 19 anos e a banda sempre foi muito inovadora, precisamos sentir que temos algo diferente para dizer”, sustenta Mel, que se sentiu “reenergizada” com o show de Madonna na praia de Copacabana, em maio. “Ela nos mostrou que os problemas pelos quais passou nos anos 1980 ainda são muito pungentes, o que é muito bizarro. Precisamos acelerar o motor da nossa evolução, porque as pessoas ainda têm uma visão muito moralista, que atrasa o ser humano”. Para ela, “o artista não está aí só para agradar e fechar publicidade, mas também tem que fazer refletir”. Já a cantora Letrux é a convidada especial do rapper FBC, cria das batalhas de rima de BH.

“Estou muito feliz em realizar esse sonho que é estar no palco com o FBC. O show mais impactante que vi ano passado foi o dele. Amo as letras, a vibração, a atmosfera, a cabeça dele é bem genial e a banda é espetacular”, elogia Letrux, que privilegiou o critério afetivo na seleção das músicas do repertório. No ano passado, ela colocou na praça o álbum “Mulher Girafa”, com o qual pretende “rodar bastante nesse segundo semestre”, que já prevê um concerto com orquestra em Brasília. “Ainda há muita selva para desbravar”, brinca a artista, que marcou presença no mais recente álbum de Sérgio Pererê, “Canções de Outono”, ao lado de Mônica Salmaso, Fernanda Takai, Coral e Maíra Freitas. “Tenho ouvido direto, e acho um disco deslumbrante”, arremata.

Serviço. 

O quê. Festival Sensacional!, com Xande de Pilares, Djavan, Dona Onete, Marina Sena e mais

Quando. Nesta sexta (21), das 18h às 22h; e sábado (22), de 12h às 22h

Onde. Parque Ecológico da Pampulha

Quanto. A partir de R$140,00 (sábado) e de R$230,00 (sexta)