Ziraldo vive. Sem demagogias. O chargista e escritor mineiro, falecido aos 91 anos em 6 de abril, tem uma obra atual e pulsante, que faz dele praticamente um imortal – o artista, a propósito, chegou a ser cotado para ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras.
“É enorme a quantidade de material produzida pelo Ziraldo. Quando olhamos seu acervo, percebemos que ele não deve ter trabalhado durante 70 anos, mas, sim, 140!”, brinca a sobrinha do quadrinista, Adriana Lins.
E agora seus trabalhos ganham uma nova vida na exposição gratuita “Mundo Zira – Ziraldo Interativo”, que chega a Belo Horizonte nesta quarta-feira (26) e fica em cartaz até o dia 9 de setembro, depois de ter passado por Brasília e Rio de Janeiro, tendo atraído mais de 250 mil pessoas, somando as duas cidades.
Quem passar pela praça da Liberdade nos próximos dias vai se deparar com um gigantesco Menino Maluquinho inflável sentado na área externa do CCBB-BH, que “convida” os transeuntes para conferir a exposição, localizada nas galerias do térreo do espaço.
Ao adentrar pelo centro cultural, o visitante é chamado a fazer um mergulho na obra de Ziraldo, em uma experiência interativa e sensorial, que promete empolgar tanto crianças quanto adultos. Não se trata de uma mostra clássica, com informações cronológicas e as fases da obra do autor.
“A linguagem digital tecnológica tem como um dos propósitos fazer com que quem ainda não conhece a obra do Ziraldo tenha acesso a ela. É um mergulho no mundo do Ziraldo de uma maneira sensorial prazerosa. Esperamos que as pessoas tenham a sensação de saírem abraçadas por ele”, diz Adriana, diretora do Instituto Ziraldo, que assina a curadoria da exposição ao lado de Daniela Thomas, filha do artista.
Essa sensação de proximidade com o autor começa logo na primeira sala, já que lá está a turma do personagem mais famoso de Ziraldo, o Menino Maluquinho. Os visitantes são convidados a trocarem a cabeça e os membros dos personagens, exibidos em totens interativos, além de colorirem digitalmente outros tantos. “Queríamos trazer para a exposição a maior paixão do Ziraldo, que é o quadrinho”, afirma Adriana.
Na segunda galeria, há uma união entre o analógico e o digital em uma sessão que homenageia o livro “O Menino Quadradinho” (1989). Isso porque, em uma das paredes, estão plotados quadrinhos do autor, mas o visitante pode alterar as falas dos personagens, movendo balões feitos de ímãs removíveis.
“Propomos, assim, que os visitantes reescrevam as histórias dos quadrinhos e que sejam coautores de Ziraldo”, afirma Guto Lins, responsável pelos textos da mostra.
Ele também escreveu um livro com as ilustrações do artista, com previsão de lançamento em setembro, durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. No lado oposto da sala, no chão, há onomatopeias clássicas do autor, que são projetadas na parede ao toda vez que alguém bota os pés nela.
Na sequência, o visitante vira regente das melodias do livro “Flicts” (1969), que conta a trajetória da cor Flicts (um tom terroso de bege). Quanto a obra, Adriana tem uma divertida história.
“Quando o Neil Armstrong veio ao Brasil, o Itamaraty fez para ele uma versão do livro em português. Ele gostou, quis conhecer o Ziraldo, que o parabenizou, mas Armstrong respondeu: ‘eu quem te devo dar os parabéns, eu apenas pisei na lua, você fez um livro’”, relembra Adriana. Na ocasião, Armstrong ainda escreveu “The Moon Is Flicts” – em tradução literal, seria algo como “a lua é flicts”, ou seja, a lua é bege.
Talvez a sala mais esperada pelo público seja a terceira, em que os visitantes são colocados dentro de três desenhos do Ziraldo, por meio de projeções. “Essa brincadeira é quase uma releitura mais sofisticada de uma selfie, mas dentro de algo que você admira. É uma das estações mais legais”, comenta o artista visual Daniel Morena, que ficou responsável por toda parte tecnológica da exposição.
Enquanto espera na fila para tirar fotos dentro das obras de Ziraldo – esta costuma ser a sessão mais disputada –, o visitante pode brincar com um caça-palavras, no qual estão dispostas frases emblemáticas do escritor.
Depois de passar por lá, é hora de seguir um corredor com paredes plotadas com obras do escritor mineiro e finalizar a visita com um pique-esconde interativo com “A Turma do Pererê”, publicada originalmente em cartuns em 1959, na revista “O Cruzeiro.”
Comoção com a morte de Ziraldo
Tendo tido uma forte convivência com o tio, a curadora Adriana Diniz se emociona ao lembrar da morte dele, ocorrida há quase três meses. “A exposição estava no Rio de Janeiro, e um dos monitores já tinham me contado. Quando o público soube, primeiro, houve um silêncio, depois, todos começaram a aplaudi-lo. Foi uma grande comoção”, relembra Adriana.
Depois disso, a mostra foi prorrogada por mais três semanas no centro cultural da Cidade Maravilhosa, mas Ziraldo não chegou a visitá-la. “Ele já estava acamado. A última exposição que ele viu foi ‘Terra À Vista e Pé na Lua”, em 2021, no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Foi lindo, porque esperávamos que ele ficasse 20 minutos, mas acabou ficando duas horas, olhando e perguntando sobre tudo”, relembra.
SERVIÇO
Exposição “Mundo Zira – Ziraldo Interativo”
Quando. De 26 de junho a 9 de setembro
Onde. CCBB-BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários), de quarta a segunda, das 10h às 22h
Quanto. Gratuito, com retirada de ingresso no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria
Observação: Semanalmente, às quartas-feiras, novos ingressos serão disponibilizados para a semana seguinte, tanto no site, quanto na bilheteria. Crianças menores de 5 anos não precisam apresentar ingresso.