Vencedora do Prêmio Camões 2024, a poeta, professora, filósofa, romancista e contista mineira Adélia Prado disse estar “duplamente em festa”. Ela também havia vencido o prêmio Machado de Assis, na semana passada.

Em um depoimento encaminhado à reportagem de O TEMPO, a escritora contou que recebeu com “muita alegria e emoção” a informação sobre a premiação portuguesa. “Foi com muita alegria e emoção que recebi, hoje, dia 26 de junho, um telefonema da sra. Dalila Rodrigues, ministra da Cultura de Portugal, me informando que fui agraciada com o Prêmio Camões. Estava ainda comemorando o recebimento do Prêmio Machado de Assis, da ABL, e agora estou duplamente em festa”, afirmou. 

Para dividir a alegria “com todos os amantes da língua portuguesa, esta fonte poderosa de criação”, a poetisa recorreu a um de seus poemas: 

“O Nascimento do Poema

O que existe são coisas,
não palavras. Por isso
te ouvirei sem cansaço recitar em búlgaro
como olharei montanhas durante horas,
ou nuvens.
Sinais valem palavras,
palavras valem coisas,
coisas não valem nada.
Entender é um rapto,
é o mesmo que desentender.
Minha mãe morrendo,
não faltou a meu choro este arco-íris:
o luto irá bem com meus cabelos claros.
Granito, lápide, crepe,
são belas coisas ou palavras belas?
Mármore, sol, lixívia.
Entender me sequestra de palavra e de coisa,
arremessa-me ao coração da poesia.
Por isso escrevo os poemas
pra velar o que ameaça minha fraqueza mortal.
Recuso-me a acreditar que homens inventam as línguas,
é o Espírito quem me impele,
quer ser adorado
e sopra no meu ouvido este hino litúrgico:
baldes, vassouras, dívidas e medo,
desejo de ver Jonathan e ser condenada ao inferno.
Não construí as pirâmides. Sou Deus.”

Premiação

Com o reconhecimento, a escritora mineira conquistou uma premiação de 100 mil euros, um dos maiores valores do mundo entre prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e do Governo de Portugal.

Segundo o júri responsável pela escolha do prêmio, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo…”, Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.