“Conheço a Nara [Leão] desde menina. Eu cantava as coisas dela, a minha voz se adequava bem. Eu tinha um disquinho, um compacto simples, que tinha ‘O Leão’ de um lado e ‘A Banda’ do outro. Eu ouvia tanto aquilo e meu pai ficava brincando comigo, dizendo que eu ia furar o disco”, rememora a atriz Zezé Polessa. Ela conta ainda que gostava tanto das canções que chegou a apresentá-las durante um show na escola, no final do ensino médio. Agora, décadas depois, a atriz se encontra novamente com as canções e com a própria artista no musical “Nara”, que ela apresenta nesta quinta (6) e sexta-feira (7) no Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte. O espetáculo, escrito e dirigido por Miguel Falabella, mergulha na história da cantora, relembrando sua vida através de canções que mostram sua relação com os pais, com a irmã Danuza Leão (1933-2022), o namoro com o compositor e jornalista Ronaldo Bôscoli (1928-1994) e seu casamento com o cineasta alagoano Cacá Diegues, além de sua relação com a bossa nova e os embates que sofreu com o regime militar.
Para Zezé Polessa, todas essas questões eram, até então, desconhecidas. Isso porque, a artista considera que só conheceu Nara Leão (1942-1989) de vez durante a pandemia, quando entrou em uma livraria e “deu de cara” com uma biografia da cantora. O título, “Ninguém Pode Com Nara Leão”, chamou a atenção de Zezé, que até então, tinha uma imagem mais doce e delicada da artista. “Fui ler na orelha do livro e aquela era a forma como Glauber Rocha se referia a ela, que era aquele poder todo. Fiquei curiosíssima”, lembra Zezé. “Li o livro e amei conhecê-la. Para mim foi uma revelação de uma mulher muito íntegra, muito forte, muito sensível, muito inteligente e muito moderna. Ela estava muito inserida no seu presente, mas hoje a gente vê o quanto ela projetou coisas para frente”, afirma.
Entre os avanços impulsionados por Nara, Zezé Polessa cita a influência artística. “O próprio jeito de ela cantar, era um novo canto, né? Um canto com a voz que ela tinha, ela também trazia novas canções, sempre um novo repertório. Ela gravou o primeiro disco com canções que que ela quis gravar. Mesmo que tivesse uma ligação com a turma da bossa nova, ela não quis gravar bossa nova. Ela foi gravar samba de morro, canção de protesto. E ela foi sempre assim, cada disco era um trabalho de descobertas, de cantar coisas que ela nunca tinha cantado, de trazer para o conhecimento das pessoas algo que ela tinha descoberto nas suas pesquisas dentro do cancioneiro brasileiro”, diz Zezé Polessa, que lembra também que cantora foi a responsável pela descoberta de Chico Buarque.
Para além da contribuição na música - vista ainda nos 28 discos lançados e em sua participação em outros projetos icônicos como a “Tropicália” -, Zezé cita a importância de Nara como figura pública. “É engraçado, porque ela era tímida, bastante tímida, mas não era inibida. Era um pouco reservada, principalmente quanto à vida pessoal, mas não era assim quanto às posições políticas, culturais, em relação a outros artistas, outras pessoas e ao governo da época. Ela viveu o tempo inteiro, praticamente, na ditadura militar e quando morreu, aos 89 anos, tinha pouquíssimo tempo que havia acabado. Mas ela se pronunciou muito sobre isso, falou sobre o cerceamento que os artistas sofriam no cinema, no teatro, na música”, afirma. “E uma coisa que é muito impressionante é que ela tinha falas contundentes, às vezes até violentas, mas com muita suavidade, com muita doçura e segurança do que ela estava dizendo”, complementa.
Todo o conhecimento sobre a artista que ela dá vida no palco, Zezé conta, é fruto de uma imersão que tem vivido há pelo menos quatro anos. “Estou vendo muita coisa dela, tem uma série que foi lançada, e tem muito conteúdo, entrevistas, muita imagem”, afirma a artista, que tem como plano continuar com a turnê do espetáculo e, ainda, trazê-la para uma temporada maior em BH. “Fiz dois meses no Rio, num projeto da Petrobrás Cultural, que é bem popular, agora estamos com a turnê em outras cidades do Brasil. E, aqui, em Belo Horizonte, é algo extra, porque é parte da Mostra Cine Brasil de Teatro e Música, e vamos apresentar só dois dias, mas pretendo voltar para fazer pelo menos um fim de semana mais longo. Eu estou muito envolvida com esse trabalho, é a única coisa que estou pensando”, conta a artista.
Mas há, também, um embrião de outra proposta. Zezé Polessa adianta que tem preparado uma palestra. “Eu estou com muita vontade de falar sobre minha trajetória, minha carreira, sobre o meu trabalho, como faço ele hoje, como penso nele e como levo. Não vai ser uma peça de teatro, um monólogo, mas sim um bate-papo. Hoje em dia tem vários atores, artistas e pessoas de outras áreas também fazendo isso, falando com as pessoas sobre como se deu sua trajetória, claro que geralmente são trajetórias bem-sucedidas, positivas, mesmo que tenham altos e baixos, são trajetórias de sucesso. Então estou começando a preparar isso”, revela.
Serviço:
O quê: Nara - com Zezé Polessa
Quando: quinta (6) e sexta (7) , às 21hIngressos:
Onde: Cine Theatro Brasil (Av. Amazonas, 315 - Centro)
Quanto: R$80 a inteira e R$40 a meia entrada
Ingressos na bilheteria do teatro e pela Eventim