Uma das figuras mais influentes e profícuas da música, Hermeto Pascoal chega aos 88 anos desconhecendo fronteiras, sendo premiado, prestigiado, biografado e, sobretudo, se mantendo fiel à usina humana que sempre foi.
Inventivo e inquieto, o músico se apresenta em Belo Horizonte, com seu grupo, neste sábado (27), na casa de shows A Autêntica. O espetáculo, no caso, integra o Tabuleiro Jazz Festival – projeto que, em sua quarta edição, além de uma extensa e diversificada programação no distrito de Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro, trouxe dois shows para a capital mineira: além de Hermeto e seu grupo, que abrem a noite, Chico Amaral Quarteto também sobe ao palco, reunindo nomes reconhecidos na cena musical, incluindo Chico Amaral, no sax, Christiano Caldas, no piano, Pablo Souza, no baixo acústico, e André Limão Queirós, na bateria.
“Vai ser um show só. Mas também vai ser mais de mil”, assinala o artista, para quem a criação – “100% intuitiva e autodidata” – nunca é obra de um autor só, dependendo sempre da interação entre os músicos e o público. “É engraçado porque o público também não escuta a mesma coisa. Cada um escuta do seu jeito, porque todos, quando escutam, têm a mesma liberdade que eu de criar”, defende ele, que, na apresentação deste sábado, será acompanhado por Fábio Pascoal, na percussão, Itiberê Zwarg, no baixo, Felipe Montanaro, no piano, Jota P, nos saxes e flautas, e Ajurinã Zwarg, na bateria.
Novo álbum
Além de, aos 88 anos, seguir na estrada, Hermeto Pascoal continua gravando novos álbuns. Em maio, ele pôs no mundo “Para você, Iza”, o seu 35º disco, que sai pela gravadora Rocinante. O novo trabalho é dedicado a Ilza Souza Silva, mulher que é mãe dos seis filhos do artista, que foi sua companheira entre 1954 e 2000, ano em que faleceu, vítima de um câncer.
Sobre “Para Você, Iza”, lançado nas mídias digitais e também em formato físico, em vinil, ainda emociona o artista. “Nossa… É mais uma confirmação de como é bom criar, de como é bom fazer as coisas que a gente gosta sem nenhum atropelo”, indica, assinalando que tudo tem o seu tempo – que não necessariamente vai ser o tempo cronológico. Daí que o disco mais recente, em vez de usar composições mais frescas – durante a pandemia, por exemplo, ele estima ter composto em média três faixas por dia –, é baseado em um livreto de partituras escritas entre os anos 1999 e 2000.
Biografia
Outro lançamento recente é o livro “Quebra tudo! A arte livre de Hermeto Pascoal”, que, escrito pelo jornalista Vitor Nuzzi e publicado pela editora Kuarup, chega às livrarias com o mérito de ser a primeira obra a mergulhar na biografia do alagoano – que, entre outros feitos, ousou criar nada menos que uma música por dia, entre junho de 1996 e junho de 1997, deixando tudo registrado em partituras no livro “Calendário do Som”.
A publicação também recupera o episódio em que o artista foi censurado pela ditadura militar quando, no Festival Internacional da Canção de 1972, tentou apresentar a música “Serearei”, que contava com um coral de porcos – mais uma entre as tantas histórias curiosas e até insólitas vividas por Hermeto.
O músico, aliás, garante não ter acompanhado o processo de pesquisa e escrita do jornalista, de forma que o resultado o surpreendeu. “Foi um acontecimento espetacular na minha vida. Quase aos meus 90 anos, fazendo essas coisas todas e, de repente, vem essa história…”, assinala, emendando que o encontro entre ele o autor, na sua acepção, era inevitável. “Por isso que Deus, com a inteligência Dele, fez esse mundo, para quem viesse para cá, redondo. Ele fez a Terra redondinha justamente para que todos que têm que se encontrar se encontrem, por mais que demore”, diz, convicto, buscando, em seguida, distanciar sua fala de qualquer viés doutrinário: “Eu acho tudo isso muito espiritual, mas sem religião nem nada, pois minha religião, eu falo para todos, é a música”.
Mostra e reconhecimento
Também deste ano é a mostra “Ars Sonora – Hermeto Pascoal”, que exibe, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, até 3 de novembro, uma faceta menos conhecida do multi-instrumentista: sua produção como artista visual, que já foi saudada em 2019, durante a 14ª Bienal de Curitiba.
Na exposição, que tem curadoria de Adolfo Montejo Navas, o público pode conhecer desenhos, pinturas, objetos e proto-instrumentos musicais do artista, que, em 2023, realizou turnês pela Europa, América do Norte e Japão e recebeu o mais alto título da prestigiada escola de ensino superior de Música, Dança e Dramaturgia dos Estados Unidos, a Juilliard School, entregue pelo multi-instrumentista e trompetista Wynton Marsalis.
Em termos de reconhecimento, Hermeto também já foi agraciado com um Grammy Latino, em 2019, pelo álbum "Hermeto Pascoal e Sua Visão Original do Forró", e, em 2018, pelo álbum "Natureza Universal" com a Big Band (Scubidu Music).
SERVIÇO:
O quê. Tabuleiro Jazz Festival apresenta Hermeto Pascoal e grupo e Chico Amaral Quarteto
Quando. Neste sábado (27), a partir de 20h
Onde. A Autêntica (rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia)
Quanto. A partir de R$ 40 (lote promocional). Até R$ 140 (lote 3, inteira). Ingressos à venda no Sympla.