Sentada no ateliê que montou em seu apartamento, em São Paulo, Isabel Teixeira, 50, conversou com O TEMPO, por videochamada. “Agradecidíssima pelo convite e pela oportunidade de falar sobre uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida; a principal também (que eu faço)”, inicia ela, com um grande sorriso no rosto. Logo em seguida, ao falar dos ofícios que traz em seu currículo – atriz, diretora, dramaturga, autora de livros e fundadora da editora Fora do Esquadro –, Isabel fez questão de apresentar o espaço que estava, com estantes cheias de livros, e falar sobre a importância daquele lugar para ela. 

“Eu estou aqui nessa sala, hoje, que é um espaço que eu projetei desde muito tempo; a minha ambição era essa aqui. É uma editora que conta com algumas máquinas artesanais; é um espaço que tem uma mesa para se trabalhar em conjunto; eu ensaiei a peça aqui”, afirma ela, referindo-se ao monólogo “Jandira: Em Busca do Bonde Perdido”, em cartaz hoje e amanhã em Belo Horizonte, e que motivou o convite para a conversa com a atriz. “Tudo começa aqui, nesse espaço”, frisa.

A peça é uma montagem do último texto inédito da atriz e dramaturga Jandira Martini, que morreu em janeiro, aos 78 anos, após uma longa batalha contra um câncer no pulmão. No espetáculo, a personagem título – interpretada por Isabel – fala da tomada de consciência da finitude, da fragilidade humana e do inevitável confronto com a morte. 

“Nunca me encontrei com Jandira, mas sempre vi Jandira”, conta. “Jandira era paulista, era daqui de São Paulo, e era de uma geração anterior a minha – apesar de eu não acreditar nisso no teatro, acho que uma hora se mistura e não tem idade. Quando eu estava na Escola de Arte Dramática, eu observava muito, com muita admiração, esse movimento desses atores dramaturgos. Eu fiz faculdade de Letras, depois fui para a Escola de Arte Dramática lá na USP, e meu lance sempre foi a palavra; foi a palavra que me levou para o teatro, a escrita foi o meu primeiro movimento”, revela a atriz, que cita o também ator, diretor e dramaturgo Marcos Caruso como inspiração – responsável pela direção do espetáculo, ele e Jandira Martini tiveram uma amizade e parceria de 40 anos.

Isabel diz que sempre desejou trabalhar com Caruso. “E olha que louco, foi a televisão que nos uniu, não o teatro”, diz, referindo-se à recente parceria deles no remake de “Elas por Elas”, da Globo – Isabel viveu Helena, filha de Sérgio, papel que foi de Caruso. “Durante o nosso trabalho na televisão, eu falava ‘Caruso, vamos fazer uma peça’. Foi um presente para mim estar em cena com ele, estar no camarim com ele, decorando texto. Eu ia na casa dele, a gente leu algumas peças e ele depois me convidou para ler essa, após a morte da Jandira”, lembra, acrescentando que pediu a ele para poder interpretar Jandira no teatro.

Momento especial

“Jandira: Em Busca do Bonde Perdido” marca o retorno de Isabel Teixeira aos palcos após um hiato de quatro anos. “A última vez que eu entrei em cena antes de fazer ‘Jandira’ foi na cidade de Lille, na França, em janeiro de 2020; foi a última vez que eu apresentei a peça que eu fiz muito tempo fora, chamada ‘E Se Elas Fossem pra Moscou?’”, detalha. “Eu já tinha feito uma série (‘Desalma’), uma novela (‘Amor de Mãe’), e aí veio a pandemia e depois, realmente, eu tive esse apaixonamento por essa plataforma da teledramaturgia. E fiquei nela, estou nela. Agora volto como atriz no palco da melhor maneira; eu não poderia imaginar maneira melhor. Eu sonhei com isso, e isso é louco”, explica Isabel.

O retorno aos palcos em “Jandira” também marca uma experiência nova para a artista: este é o primeiro monólogo da extensa e premiada carreira dela. “Já estive sozinha em cena, mas não dessa maneira. Já estive lendo, performando...”, relembra ela, que estreou “Jandira: Em Busca do Bonde Perdido” no dia 20 de julho, em Santos (SP), cidade natal de Jandira Martini – BH é a segunda cidade a receber o espetáculo. “Está só começando essa delícia, eu tenho vontade de fazer essa peça pelo Brasil todo”, garante Isabel.

Para ela, o espetáculo é uma celebração à vida. “Essa peça já me ensinou a estar celebrando a minha presença nesta vida aqui”, afirma. “Às vezes a gente está tão envolvido com os nós da vida, que fazem parte, com as coisas que a gente tem que resolver, com as coisas que faltam, com as angústias”, analisa. “A Jandira escreve com muito humor, uma pessoa que gostou muito de estar presente, e fazendo o que faz, e gostou muito de fazer teatro. A peça traz isso e eu acho que o espectador vai ter isso de ‘nossa, como é bom estar aqui agora’”, ressalta Isabel.

“Não sou eu que faço ser grandioso, é o telespectador”

Com uma carreira premiada no teatro, Isabel Teixeira ficou nacionalmente conhecida por interpretar Maria Bruaca no remake de “Pantanal” (2022). O carinho do público e o sucesso da personagem é celebrado pela artista. “É um marco mesmo, e é uma coisa que eu revisito pensando, inclusive, o alcance da televisão que, às vezes, chega a unir o país – não acontece sempre, mas esporadicamente acontece”, diz.

Isabel agradece ao público que, segundo ela, foi o responsável por tornar Maria Bruaca um fenômeno. “Não sou eu que faço ser grandioso, é o telespectador”, afirma. “Eu nunca mais vou esquecer que, para mim, foi muito revelador uma cena em que, pela primeira vez, ela virava e falava para o Tenório (Murilo Benício) assim: ‘Bruaca é a sua mãe’. E o público, eu via pelas redes, celebrou. Parecia que era uma libertação que estava todo mundo esperando”, relembra, referindo-se à transformação da personagem no folhetim que, segundo ela, pode influenciar muitas pessoas a se libertarem de situações de opressão e infelicidade. 

“Quando eu ganhei o Melhores do Ano lá no Luciano Huck me veio isso: esse prêmio é para quem viu e se transformou; isso requer coragem. E quando você percebe que uma obra de arte fez você se movimentar, posso morrer feliz”, diz.

Serviço

O quê. “Jandira: Em Busca do Bonde Perdido”, com Isabel Teixeira
Quando. Sábado (3), às 20h; domingo (4), às 17h.
Onde. Teatro do Centro Cultural Unimed–BH Minas (rua da 
Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia) / Ingressos Populares: R$ 39 (inteira), R$ 19,50 (meia)
Vendas na bilheteria do teatro e na plataforma Sympla