O pincel não é a ferramenta principal usada por Sérgio Marzano para criar seus quadros. Para dar cor e formas às suas obras, ele se vale de uma peneira. O instrumento filtra elementos como poeira e terra de minério, que funcionam como tinta em suas telas. O resultado é uma “cena tanto científica quanto coreografada, em que o artista cria um movimento quase colaborativo do fazer artístico com o acaso”, sinaliza Sarah Ruach, curadora da exposição “Se, Ser, Serra”, que entra em cartaz a partir desta quarta-feira (25), no Parque do Palácio.
Os materiais e minérios utilizados pelo artista em suas 15 obras foram coletados na região da Serra do Curral. Dessa maneira, a exposição propõe um olhar que extrapola os limites da tela, chegando, também, à contemplação da serra símbolo de Belo Horizonte. “As obras do artista Sérgio Marzano nos introduzem uma percepção de serra profunda, onde o uso de elementos como a poeira do minério e o próprio pó da terra que compõe a essência da terra formam mais do que fragmentos e, sim, verdadeiras memórias minerais de um tempo antigo e presente”, pontua Sarah.
Sendo assim, na avaliação da curadora, que também é fundadora do escritório de arte Ruach, as obras de Marzano propõem uma visão poética da Serra do Curral. “Ao apreciar as obras do artista, somos capazes de também entender quais são as cores da serra, saindo de uma visão apenas de estrutura e forma, como nós já conhecemos, e entrando também nos aspectos mais profundos sobre qual é a cor da serra, do que ela é feita nos seus detalhes. E isso, de alguma forma, nos aproxima, enquanto espectadores, a entender outras realidades que a contornam”, diagnostica.
Nesta exposição, Marzano, além dos materiais citados, usa um novo elemento, que se relaciona com o momento pelo qual passa o planeta Terra. “O artista nos expõe a um novo composto, o carvão, a fim de retratar a crise climática, em especial as queimadas. Desta forma, ele busca provocar, em quem aprecia as obras, respostas e uma consciência intencional sobre o que são as ocorrências climáticas do entorno, não só da Serra, como de outras paisagens de Minas ou do Brasil”, avalia.
A escolha do local onde estarão expostas as obras de Marzano, o Parque do Palácio, aos pés a Serra do Curral, não foi mero acaso. “Isto representa não apenas uma homenagem clara à Serra, mas também a oportunidade de que os visitantes possam explorar essa dualidade entre o natural e o criado, em que as obras de arte, feitas do mesmo material que se compõem à Serra, estarão dispostas de frente a ela. Essa é uma forma de contar uma história sobre um passado geológico e o presente da Serra, o que torna tudo um grande tributo a Minas Gerais”, comenta Sarah.
O artista
Nascido em Conselheiro Lafaiete em 1965, Marzano é um artista autodidata que mora e trabalha em Belo Horizonte. Sua trajetória artística começou após o fim da graduação em administração, quando descobriu da pintura por meio da serigrafia e a experimentação com materiais alternativos. Dessa maneira, nunca se limitou apenas ao pincel, mas também a desempenadeiras, rolos, rodos de serigrafia e peneira – que se tornou sua principal ferramenta de trabalho.
SERVIÇO
O quê. Exposição “Se, Ser, Serra”, do artista Sérgio Marzano
Onde. Parque do Palácio (edificação de Niemeyer, frente à Serra do Curral)
Quando. De 25 de setembro a 30 de novembro
Quanto. R$10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada), para entrada no parque. Às quartas, o ingresso é gratuito, mediante retirada de ingresso sympla.