Poucas figuras históricas representam tão bem os excessos e contradições do Antigo Regime quanto Jeanne du Barry. De origem humilde, sem linhagem nobre ou privilégios, ela ascendeu até o coração da monarquia francesa, tornando-se amante de Luís XV. No filme A Favorita do Rei, dirigido e estrelado por Maïwenn, sua trajetória é narrada de forma grandiosa, destacando tanto seu carisma quanto as barreiras que enfrentou. “Ela aprendeu a jogar o jogo, mas jamais foi aceita como uma verdadeira peça”, diz um dos personagens, sintetizando o dilema vivido por Jeanne.

Johnny Depp assume o papel do rei francês, entregando uma interpretação contida e reflexiva. Longe dos exageros que poderiam transformar Luís XV em uma figura teatral, Depp constrói um monarca melancólico, ciente de sua decadência. Sua conexão com Jeanne, que desafia protocolos e ousa exibir sua liberdade dentro da corte, torna-se o centro da narrativa. “Se nem mesmo as rainhas têm esse direito, como uma mulher como ela poderia tê-lo?”, questiona um dos nobres, evidenciando o desconforto da aristocracia com sua presença.

A grandiosidade de A Favorita do Rei se estende ao visual, com uma recriação meticulosa de Versalhes. Mas por trás do luxo, há uma crítica feroz ao sistema de privilégios que sustentava a monarquia. Jeanne, constantemente julgada e humilhada, vê seu poder desaparecer tão rápido quanto surgiu. Com a morte de Luís XV, ela é expulsa de Versalhes, aprendendo da pior maneira que seu status dependia unicamente da vontade do rei. “No fim, não restou nada além de um nome e um escândalo”, comenta um cortesão, resumindo seu destino.

Mais do que um retrato biográfico, o filme se posiciona como um reflexo dos mecanismos de exclusão e poder. Jeanne du Barry não foi uma revolucionária, mas sua história expõe as falhas de um sistema que já caminhava para o colapso.