A belo-horizontina Marina de Barros Bicalho é cirurgiã-dentista, especializada em radiologia e imaginologia. Logo, ela sempre viveu em meio a imagens odontológicas, como tomografias e radiografias, mas nunca viu nelas nada além de laudos dos pacientes.

Até que um dia, durante a pandemia, a mãe dela, Júnia Bicalho, que é artista, observou que uma daquelas imagens formava algo além de um diagnóstico.

“Ela percebeu que se parecia com uma caverna. Então, ela sugeriu que as tomografias poderiam se tonar obras de arte”, relembra Marina. Daí, a mãe sugeriu que a filha entrasse em contato artista Breno Barbosa – colega de sala de Júnia na Escola Guignard –, e, juntos, os dois elaboraram a Galeria Radiológica, exposição on-line que entra em cartaz a partir da próxima terça-feira (11). 

Marina percebeu que, unindo ciência com arte, seus pacientes poderiam enxergar laudos de maneiras diferentes. “Eu também sou professora, e, por conta disso, sei que despertamos a curiosidade do aluno quando conseguimos gerar interesse pelo aprendizado, e o lúdico tem um papel fundamental nisso. Com a visão da minha mãe, tivemos a ideia de envolver artistas. Correlacionar arte com tomografia pode não apenas aproximar o paciente, mas também ajudá-lo a compreender melhor o exame. Se um paciente tem um trauma, como a perda de um dente, o laudo geralmente é negativo. Mas, ao transformá-lo em arte, ele pode ser reinterpretado de forma mais acolhedora”, analisa.

Até o dia 11 de maio, os internautas poderão conferir 28 imagens elaboradas por 14 artistas de diferentes partes do país. Para cada um deles, foram oferecidas três tomografias dentárias, das quais poderiam escolher uma delas para trabalhar. Além disso, os artistas também produziram em cima de uma única imagem em comum para todos.

“Escolhi três diferentes cortes do exame: coronal, sagital e axial. A tomografia permite essa percepção em três dimensões, enquanto a radiografia oferece apenas uma visão bidimensional. Com a tomografia, conseguimos obter profundidade e uma compreensão mais completa da estrutura analisada”, relata Marina. 

Já a seleção dos artistas ficou por conta de Breno Barbosa. “Comecei escolhendo de forma afetiva, quase como uma brincadeira. Depois, analisei os trabalhos, as leituras e as diversas técnicas dos artistas. Com o tempo, o projeto se expandiu, envolvendo artistas de diferentes contextos. Há participantes, por exemplo, de 15 a 70 anos, de diversas regiões do Brasil, do Amazonas ao Sul do país, e até outros que moram fora. O grupo é bastante diversificado, abrangendo desde o desenho puro até técnicas de vídeo e assemblage, que combinam diferentes materiais e linguagens em uma única obra”, comenta Barbosa.

Além de ficar responsável pela curadoria da exposição, Barbosa também é um dos artistas que integra a exposição.

“Em uma tomografia, vi duas senhoras fofoqueiras, e essa visão coincidiu com sensações muito pessoais. Nunca havia pensado na radiografia dessa forma antes. Então, fiz um trabalho em tela, unindo desenho com pintura em tinta vinílica. Na outra imagem, cheguei em urubu, meio sombrio, que parecia emergir da imagem. Sou um artista figurativo, adoro fazer animais, e, muitas vezes, meus trabalhos são mais ilustrativos. Mas, desta vez, as figuras, que são abstradas, foram sendo construídas no meio do processo”, conta o artista.

Lives e acessibilidade

A programação da Galeria Radiológica também inclui lives e bate-papos com os artistas, professores, estudantes, pacientes e público em geral. Esses encontros funcionarão como oportunidade para desvendar o processo por trás das obras e explorar a relação entre a área da saúde. Toda a programação é acessível para Libras, e as obras serão levadas, ainda, para três escolas públicas de Belo Horizonte.

“Desde o início, a exposição foi projetada para o digital, que é um formato muito mais acessível e econômico. Além disso, como cada artista está em um lugar diferente, o digital facilita essa conexão e permite a interação global. Mas nada impede que as próximas edições sejam presenciais”, espera Marina de Barros Bicalho. 

Os artistas da Galeria Radiológica receberão retorno dos pacientes que disponibilizaram suas próprias tomografias para a elaboração dos trabalhos. “Cada tomografia é de um paciente diferente, todas foram autorizadas por eles. Após verem os trabalhos, eles poderão dar uma devolutiva sobre as obras. O mais interessante desta exposição é que as imagens exigem precisão, enquanto a arte trabalha com o imaginativo. E essa conexão é muito rica”, celebra o artista e curador Breno Barbosa.


SERVIÇO

O quê. Exposição Galeria Radiológica

Quando. De terça (11 de fevereiro) a 11 de maio)

Onde. Visitar no site www.galeriaradiologica.com.br

Quanto. Gratuito 

Confira a programação. Os detalhes serão divulgados no perfil @galeriaradiologica.

13/2, às 19h30 - Live: Diálogos entre imagens - 1 - Origem do projeto com Marina Bicalho, Júnia Bicalho, Maria Beatriz Carrazone, Breno Barbosa e Marci Silva;

18/2, às 19h30 – Live: Diálogos entre imagens 2 - O que a Radiologia pode aprender com a Arte?

20/2, às 19h30 –  Live: Diálogos entre imagens 3 - O que a Arte pode aprender com a Radiologia?

25/2 –- 1ª Tour Virtual: Escola 1 - Atividade presencial com estudantes de Instituição Pública de Ensino.

11/3, às 19h30- Live: Pílulas Poéticas 1 - Processos de Criação, Olhares e Leituras: conversas entre artistas, profissionais, estudantes e pacientes de Radiologia.

13/3, às 19h30–  Live: Pílulas Poéticas 2 - Processos de Criação, Olhares e Leituras: conversas entre artistas, profissionais, estudantes e pacientes de Radiologia.

18/3, às 19h30 – Live: Pílulas Poéticas 3 - Processos de Criação, Olhares e Leituras: conversas entre artistas, profissionais, estudantes e pacientes de radiologia.

25/3, às 19h30 – 2ª Tour Virtual: Escola 2 - Atividade presencial com estudantes de Instituição Pública de Ensino.

3/4, às 19h30– Live: Metodologias Educativas - Arte, ciência e Tecnologia.


10/4 - 3ª Tour Virtual - Escola 3 - Atividade presencial com estudantes de Instituição Pública de Ensino.