Em exposição no Centro Cultural Banco do Brasil - Belo Horizonte (CCBB BH) desde o início deste mês, a mostra “Ancestral: Afro-Américas” reúne mais de 130 obras de artistas contemporâneos com ascendência africana do Brasil, Estados Unidos e Cuba.
Além disso, há uma seção quase secreta que apresenta uma série de máscaras, esculturas e outros objetos ritualísticos históricos vindos de diferentes povos de África. Trata-se do núcleo Áfricas, que, sob a curadoria de Renato Araújo da Silva, celebra as conexões entre a herança artística-cultural do continente e a arte feita nas Américas na contemporaneidade.
A sala que recebe esse conteúdo, claro, está devidamente sinalizada, mas passa despercebida por muitos visitantes por ficar na contramão dos trajetos.
Explica-se: os trabalhos, que ocupam as galerias do terceiro piso do prédio, podem ser vistos em percursos livres, seja no sentido horário ou anti-horário, pois não há uma noção de primeira e última sala, diferentemente de outras exposições já realizadas no lugar. Mas esta galeria, especificamente, fica ligeiramente mais deslocada ao se fazer esses trajetos intuitivamente, exigindo um certo zigue-zague para ser acessada.
A reportagem visitou a exposição, passou direto, e, ao consultar os guias do CCBB BH ouviu que a situação não era incomum: muita gente saia da exposição sem acessar o núcleo Arte Africana Tradicional. O que é uma pena pelo quilate histórico das obras apresentadas no lugar. Aliás, para quem já visitou e não viu, vale a pena voltar. Para quem ainda vai, vale dobrar a atenção.
Seção foi incorporada à exposição em BH
Marcello Dantas, diretor artístico de “Ancestral: Afro-Américas”, conta que o núcleo Áfricas é uma novidade na mostra. “Essa seção não existia quando a exposição foi apresentada no CCBB de São Paulo e foi integrada, em BH, ao conjunto apresentado pela força que essas obras possuem”, determina.
Ele detalha que os objetos chegaram ao Brasil apenas no século XX. “Ou seja, quando os africanos fizeram, forçadamente, a travessia transatlântica, não puderam trazer consigo seus objetos ritualísticos e tiveram que recriar tudo do zero. Então, essa sala nos ajuda a compreender que África era essa que estava no imaginário daqueles que foram trazidos para as Américas”, aponta.
No texto de apresentação da sala, o curador Renato Araújo da Silva destaca que as obras africanas da exposição refletem a diversidade e continuidade das culturas africanas, que moldaram a economia, a linguagem, a religião e as artes nas Américas. “Contribuições daquele continente aparecem no cultivo de commodities coloniais, na cerâmica afro-americana Face Jug e nas festas populares afro-brasileiras. Destacam-se as rotas Congo-Angola, Moçambique e Costa da Mina, conectando igualmente Brasil e os EUA a países como Gana, Togo, Benim e Nigéria”, cita.
“A arte tradicional africana, neste contexto, transcende o tempo e o espaço, sendo símbolo do poder artístico negro para a humanidade em meio a intercâmbios, desafios e possibilidades”, conclui.
SERVIÇO:
O quê. Mostra ‘Ancestral: Afro-Américas’
Quando. Até 12 de maio. Visitação de quarta a segunda, das 10h às 22h
Onde. CCBB BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Gratuito. Ingressos disponíveis nas bilheterias físicas do centro cultural e no site ccbb.com.br/bh