Quando, aos 21 anos, avisou que queria ser poeta, a resposta da mãe de Rogério Salgado foi ainda mais rápida e objetiva: “Eu já imaginava!”, devolveu Glória Salgado, pianista que tinha por hábito realizar saraus na sua residência em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio.

Com a morte da matriarca, Rogério mudou-se para Belo Horizonte em 1980, dando continuidade à carreira poética iniciada em 1975. A estreia no mercado editorial aconteceu em 1982, com a edição independente de “Tontinho”. Em 1984, publicou “Meu Íntimo”, com os poemas trazidos na bagagem do Rio para BH.

Insistência 

Com cinco décadas de estrada no ofício literário, Rogério afirma que a poesia o presenteou com “a sensibilidade de compreender a vida além das estrelas”. “Foram muitos os obstáculos no início, poucos acreditaram em mim, mas insisti…”, ressalta. O poeta acredita que a poesia “tem o poder de aguçar a sensibilidade humana na maioria das pessoas”. 

“Os verdadeiros poetas levam as pessoas a reflexões sobre suas próprias vidas. O poeta, ao escrever algo que vivenciou, leva as pessoas a perceberem que passaram por algo parecido ou imaginarem como seria se tivessem vivido aquilo. A poesia comprometida, não politicamente partidária ou ideológica, diz aquilo que o leitor precisa saber”, sustenta ele, que, por fim, recorre a um ensinamento de Ferreira Gullar.

Do erotismo à boemia 

“A poesia tem que se aproximar de mim e me buscar onde quer que eu esteja”, parafraseia Rogério. Ele conta que cada livro lançado correspondeu a um momento específico da sua existência. “Escrevi poemas eróticos, tive minha fase boêmia e por aí afora. Guardo o que escrevi na gaveta, e, semanas depois, retomo o escrito e começo a burilar o poema”, esclarece. 

Nesse percurso, a mudança foi sua única companhia constante. “A ingenuidade de 50 anos atrás transformou-se num poeta mais amadurecido e consciente do que é preciso dizer. Entendi que mais importante do que ser um grande poeta é ser um grande ser humano. No mundo de hoje, encontramos muitos poetas e poucos seres humanos…”, diz Rogério, que enumera suas influências.

Encontros 

“Apesar de ler milhares de poetas, destaco Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Mario Quintana”. Os primeiros que o despertaram para o instante poético foram Carlos AA. de Sá e seu livro “Canto Tentado” e Artur Gomes com “Um Instante No Meu Cérebro”, ambos de Campos dos Goytacazes. Para celebrar a trajetória, Rogério será homenageado, em maio, no “Baticum”, evento multicultural que acontece no bairro Concórdia, na capital mineira. 

Já em setembro, viaja à cidade natal como convidado do Festival Doces Palavras. Até o final do ano, deve chegar à praça um livro com 50 poemas de sua autoria selecionados pelo crítico literário Luiz Otávio Oliani. Rogério, que em 2024 publicou o recente “Antes Que a Lua Enfarte”, agora se reserva ao direito de “curtir as comemorações” e mantém sua crença no âmago da poesia. “A sensibilidade humana jamais perderá um round para a tecnologia artificial…”, arremata.