Betty, a feia, precisou tirar os óculos para ser bela. Já para Clark Kent, o acessório significa um manto de invisibilidade, fazendo dele um “zé ninguém” perto do Super Homem, que só encarnava quando despido das lentes. Para os rock stars dos Paralamas do Sucesso, então, que as meninas do Leblon já não olhavam mais porque, enfim, vocês sabem: eles usavam óculos.

Mas, talvez, com a armação certa, nenhuma dessas histórias fosse bem assim – ao menos, atualmente. Afinal, já está claro – tanto quanto uma miopia corrigida pelo grau correto – que o tempo em que “quatro olhos” era apelido ofensivo ficou no passado, e já faz tempo desde que os itens deixaram de ser vistos como peças feias, desajeitadas, vergonhosas e indesejadas.

Essa mudança de percepção em relação ao acessório contou com a contribuição de muitos rostos famosos, como os apresentadores e entrevistadores Marília Gabriela e Jô Soares, que fizeram do item – geralmente de armação robusta e colorida – uma de suas tantas marcas registradas. O problema é que para seguir a tendência que eles ditavam, era preciso desembolsar uma boa grana e procurar muito: artefatos como aqueles eram difíceis de ser encontrados.

Os entrevistadores Jô Soares e Marília Gabriela | Créditos: Zé Paulo Cardeal/Globo e Reprodução/Instagram @gabi_mariliagabriela
Os entrevistadores Jô Soares e Marília Gabriela | Créditos: Zé Paulo Cardeal/Globo e Reprodução/Instagram @gabi_mariliagabriela

Não mais: os óculos, cheios de personalidade ou discretíssimos, entraram de vez para os guarda-roupas, afinal, com o caimento certo, funcionam como peça coringa ao se vestir – isso quando não se tornam quase o protagonista do look. Além disso, não custam mais, necessariamente, os olhos da cara – embora, claro, aqueles mais exclusivos seguem mais salgados.

Em Belo Horizonte, são muitas as casas que atraem quem precisa e quem, mesmo prescindindo, quer usar óculos de grau – ou que parecem ter grau –, sejam coringas ou especialmente pensados para todos os repertórios, da gala ao casual, passando pelo fashionismo à la Iris Apfel e por outros tantos léxicos dos modos de se vestir e se apresentar no mundo.

É o caso da Zótika, pioneira na criação de óculos pensados como peças de design na capital mineira. A marca, fundada por José António Maia e Ruth Maia, há mais de 40 anos, sempre buscou oferecer itens que fugissem do lugar-comum, com produção própria. Já a Zerezes, nascida no Rio de Janeiro, abriu sua primeira unidade em BH há dois anos e compartilha da mesma proposta, mas com apelo mais popular.

Um olhar atento aos detalhes

“Desde o começo, com a ótica Metrópole, fundada em 1979, na rua da Bahia, meu pai já tinha essa preocupação de ter óculos que fugissem do lugar-comum, fugindo dessa ideia que as pessoas fazem das óticas, como se fosse as peças fossem todas mais ou menos iguais”, assinala Thiago Maia, à frente do empreendimento mais recente do negócio da família, a unidade da Zótika localizada na rua Santa Rita Durão, na Savassi, aberta há pouco mais de dois anos.

Opções de óculos encontrados na Zótika | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Opções de óculos encontrados na Zótika | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Ele prossegue assinalando que esse olhar atento de seu pai aos detalhes se converteu em uma filosofia para a família.

“Eu e meus irmãos crescemos nesse ambiente. Mais crescidos, entramos de cabeça e entendemos que essa era nossa marca, que a gente devia inclusive agregar mais valor a essa característica. Então, passamos a desenvolver ainda mais a nossa marca próprio e, ao mesmo tempo, fomos buscar peças que se adequassem a esse cuidado em ateliês internacionais – principalmente, franceses, belgas, alemães e italianos –, alguns com edições limitadas e numeradas, outros desenvolvidos em parceria com grandes instituições de arte, como o MoMA”, observa Maia, que usava com roupas discretas, em tons terrosos, e vestia óculos da grife francesa Anne Et Valentin, com hastes e ponte em aço escovado de cor esverdeada, que emprestam ares mais contemporâneos à peça, e aros em acetado fosco tipo “casco de tartaruga”, mais clássicos, bem ajustados à largura das lentes, que têm desenho mais retangular e bordas curvilíneas. A marca é encontrada em apenas sete lojas em todo Brasil. Em Minas, é representada exclusivamente pela Zótika.

“Hoje, para atender a demanda dos nossos clientes, que têm nível de exigência elevado, estamos sempre em feiras internacionais e trabalhando em uma curadoria voltada para esse produto mais de nicho, que está até um pouco mais na moda atualmente com essa onda do ‘quiet luxury’, que inclui também esses produtos com design elaborado e matéria-prima de altíssima qualidade”, aponta Maia, detalhando que a clientela das lojas da família é majoritariamente feminina, embora cresça significativamente o número de homens que procuram por seus serviços. Em comum, esse público é formado por pessoas mais maduras, descritas por Maia como “mais seguras do que procuram”. 

Peça da Zótika | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Peça da Zótika | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Das opções de design próprio, a Zótika mantém a coleção Capolavoro, cujos modelos custam a partir de R$ 920. Já entre os ateliês europeus, destaques para peças Anne et Valetin e Caroline Abram, ambas da França, Theo, da Bélgica, e Lindberg, da Dinamarca, que saem a partir de R$ 2.100.

Atendimento com ares de consultoria de imagem

Gerente da unidade da Zerezes em Belo Horizonte, Karina Dias celebra que a marca tenha sido abraçada pelos mineiros. “A nossa ideia foi sempre assim mudar o mercado ótico, mudar a forma como esse objeto era tratado, fugindo daquele modelo mais tradicional de reduzir o item a seu uso médico. Nós acreditamos que, com a peça certa, você agrega a sua imagem, imprime ali sua personalidade”, defende.

Óculos da Zerezes em estilo aviador | Crédito: Reprodução/Instagram @zerezes
Óculos da Zerezes em estilo aviador | Crédito: Reprodução/Instagram @zerezes

Ela acredita que a tendência é que esse movimento seja acompanhado por outras lojas à medida que fica mais claro que as pessoas estão buscando uma peça que é também de moda. Tanto que, hoje, parte dos clientes da loja nem sequer precisam de correção de grau. “Essas pessoas gostam de usar óculos, e se beneficiam deles tanto em termos de estética, comunicando autoridade, estilo e credibilidade, quanto em termos de saúde ocular – afinal, mesmo sem grau, eles oferecem recursos como o filtro de luz azul, que vai proteger a saúde ocular dos rais emitidos por telas e por luz de led, e quem não convive com esses estímulos hoje em dia?”, pontua.

“Notamos que há muita preocupação em encontrar a peça que mais vai combinar não só com sua fisionomia como também com seu estilo de vida, pensando nesse conjunto todo, desde a indicação médica até a personalidade e a anatomia do rosto. Ou seja, buscam uma consultoria técnica na parte de lente mas também de moda, de visagismo e de colorimetria”, detalha Karina, exaltando a diversidade de público que procura a marca, que tem, entre seus clientes mais cativos, o público 40 mais.

Entre os bestsellers da Zerezes, informa a gerente, estão os modelos: Bo, mais quadrado, mas com bordas arredondadas, cujo nome faz referência à arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi; Mira, um redondo mais volumoso, com nome em homenagem à artista visual Mira Schendel; Pape, redondinho um pouco menor, que faz tributo à artista visual brasileira Lygia Pape; Haru, de armação hexagonal, mais robusta; e Fine, com lentes arredondas e espessura fina. Os três primeiros saem a partir de R$ 795, já os dois últimos a partir de R$ 545. Alguns deles temos em diferentes tamanhos, para se adequar a diversas anatomias de rostos.