Quatro corpos em cena. Quatro histórias atravessadas por identidade, afeto e resistência. Nos dias 4, 5 e 6 de julho, o Coletivo Mambus estreará o espetáculo circense “Relatos Interpessoais” no espaço do Grupo Cultura do Guetto (rua Botelhos, 55, Bonfim), em Belo Horizonte. As apresentações acontecem sempre às 20h, com entrada gratuita e ingressos disponíveis no Sympla.
“Relatos Interpessoais” é um espetáculo circense que desloca o foco do virtuosismo para o sensível. Aqui, o corpo é linguagem, e a cena é escuta. A dramaturgia se constrói a partir de experiências pessoais dos artistas — ser negro, ser mulher, ser artista, ser corpo — compondo um mosaico de afetos, dúvidas, urgências e silêncios que também são narrativas.
Não se trata de contar uma história única, mas de partilhar o que transborda entre os gestos: relações, tensões, presenças. No elenco, sob a direção de Igor Godinho, estão Alef Costa, Carlos Paiva, Jéssica Cristiane e Roberta Turíbio.
“Neste espetáculo, o público vai observar muitas relações. São relações de afeto e de ajuda, de disputas… Em cena, são pessoas e relações como na vida real, são pessoas que querem chegar a um determinado ponto, que têm seus objetivos, que querem ajudar o próximo, mas que, às vezes, ao ajudar o próximo é derrubado também, que têm certas ilusões, quedas e, acima de tudo, afeto, que estão buscando o viver em coletivo, em massa. Em resumo, ‘Relatos Interpessoais’ retrata ajuda, decepção, afeto, busca, desilusões”, descreve a atriz Jéssica Cristiane, que entrou para o Coletivo Mambus no ano de fundação da companhia.
Em “Relatos Interpessoais”, a fisicalidade está no centro da criação, mas o risco não vem apenas do movimento. Ele emerge do encontro. O grupo constrói, com bambus, um espaço cênico instável, simbólico, mutável — onde cada ação demanda confiança, escuta e disposição para sustentar ou ceder. O bambu, elemento recorrente na pesquisa do grupo, ora é extensão do corpo, ora é obstáculo, ora é abrigo. Mas o que realmente sustenta a cena é a relação com o outro, com o tempo e com o que não se vê.
Entre a dança, o circo e a performance, “Relatos Interpessoais” desafia as fronteiras da linguagem. Cada gesto carrega a memória de quem o executa; cada silêncio pulsa como resistência; e, quando a palavra aparece, ela rompe o ar com a intensidade de quem esperou demais para ser ouvida. “Bebemos do teatro, da dança, da atividade circense… usamos o bambu, a estrutura de três pontas, fazemos acrobacias com bambu e sem o bambu, levamos para o palco muita dança, coisas teatrais, pontos de equilíbrio e desequilíbrio, técnica capilar, e por aí vai”, conta Jéssica Cristiane, sobre as linguagens presentes no espetáculo.
A pesquisa de “Relatos Interpessoais” nasce no encontro entre artistas com percursos distintos, mas que compartilham a escuta como ponto de partida e o corpo como território político e poético. Em cena, o que se vê é o resultado de um processo coletivo de criação, cuidado e risco. Um trabalho que aposta na instabilidade como campo fértil para a criação artística e para a construção de outros modos de estar juntos.
“Relatos Interpessoais”, do Coletivo Mambus
Datas: 4, 5 e 6 de julho de 2025 (sexta a domingo), às 20h
Grupo Cultura do Guetto (rua Botelhos, 55, Bonfim), em BH
Ingressos: Gratuitos no Sympla