Fora das rotas mais comuns da Europa, existem cidades onde a música ecoa nas ruas, a história pulsa em cada esquina e a gastronomia preserva, ou reinventa, sabores locais. Idealizador do Guia dos Clássicos, Rafael Fonseca selecionou cinco destinos que vão além do turismo convencional. São lugares ideais para quem busca mais do que paisagens: experiências culturais profundas e autênticas.
“Cada visita a esses destinos revela novas camadas de história, cultura e expressão artística. Nessas cidades, a arte está presente nas ruas, nos palcos e também na gastronomia, oferecendo uma experiência que ultrapassa o turismo convencional. Trata-se de uma imersão completa, que combina música, arquitetura e sabores típicos, proporcionando uma vivência cultural rica e multifacetada”, afirma.
A seguir, confira as indicações de Rafael Fonseca!
1. Leipzig – Alemanha

Leipzig, joia da Saxônia, é um santuário para os amantes da música clássica e da história viva. Palco da genialidade de Johann Sebastian Bach, Felix Mendelssohn e do casal Clara e Robert Schumann, a cidade oferece uma imersão profunda na evolução musical. A Thomaskirche, onde Bach repousa, e a Mendelssohn-Haus são paradas obrigatórias. A Gewandhausorchester, com mais de 280 anos de excelência, continua a encantar plateias mundo afora, é considerada uma das melhores do mundo e mantém viva uma tradição inigualável.
Além de sua ressonância musical, Leipzig é um polo de comércio e cultura com uma história milenar, testemunha da Batalha das Nações (1813) e epicentro da Revolução Pacífica (1989), que culminou na queda do Muro de Berlim. Explore a vibrante Praça do Mercado (Marktplatz), a elegante Passagem Mädler com o lendário AuerbachsKeller, e o imponente Völkerschlachtdenkmal (Monumento da Batalha das Nações), que oferece vistas panorâmicas da região.
A culinária local é um capítulo à parte. Delicie-se com o Leipziger Allerlei, um prato de vegetais e lagostins, e o Leipziger Lerche, um doce tradicional. Para uma experiência autêntica, o Thüringer Hof é um dos restaurantes mais antigos da cidade, enquanto o bairro de Plagwitz revela uma cena gastronômica contemporânea e efervescente em antigas fábricas revitalizadas.
2. Salzburgo – Áustria

Aninhada entre os Alpes austríacos, Salzburgo, a cidade que viu nascer Mozart e Herbert von Karajan, é um tesouro barroco onde a música, a história e a natureza se fundem em uma tapeçaria singular. A imponente Fortaleza Hohensalzburg, uma das maiores e mais bem preservadas da Europa Central, é um testemunho da riqueza dos príncipes-arcebispos, impulsionada pela milenar exploração do sal (“Salz”).
A presença de Wolfgang Amadeus Mozart é sentida em cada esquina, desde a Casa de Nascimento de Mozart (Mozarts Geburtshaus) até a casa onde ele passou boa parte da juventude (Mozarts Wohnhaus), ambos museus que preservam a memória do gênio. Salzburgo é mundialmente aclamada por seus eventos musicais, com destaque para o prestigiado Festivais de Verão e de Páscoa, este último fundado por Karajan. As magníficas salas de concerto, como a Grosses Festspielhaus(com sua boca de cena de 30 metros) e a Felsenreitschule, atraem a elite artística global.
Os Jardins do Palácio Mirabell são um convite à contemplação, e para os fãs de cinema, a cidade é o cenário imortal de “A Noviça Rebelde”. Na gastronomia, a autêntica Torta Sacher no Hotel Sacher Salzburg é uma experiência imperdível, assim como o leve e tradicional Salzburger Nockerl, um suflê de claras no formato das montanhas da região em cima de geleia das frutas silvestres dos arredores.
Para uma experiência local, o Restaurant Triangel é um ponto de encontro de artistas e amantes da música, enquanto a histórica Stiftsbäckerei St. Peter oferece uma viagem no tempo com seus pães assados em forno a lenha. Mas quer mergulhar na história mesmo? Reserve uma mesa na Stiftskeller St. Peter (a Adega do Mosteiro de São Pedro), que funciona desde 803, consta que o Imperador Carlos Magno chegou a frequentá-lo.
3. Lucerna – Suíça

Lucerna (Luzern), uma cidade suíça de beleza pitoresca e história medieval, encanta pela sua vibrante cena musical e a grandiosidade de sua paisagem natural. A icônica Ponte da Capela (Kapellbrücke), a mais antiga ponte de madeira coberta da Europa, construída há quase 700 anos, e a Torre de Água (Wasserturm) são símbolos que narram séculos de história. O Monumento do Leão (Löwendenkmal), esculpido na rocha, é um tributo comovente à lealdade e sacrifício.
A cidade possui uma ligação profunda com Richard Wagner, que encontrou refúgio e inspiração na Villa Tribschen (hoje Richard Wagner Museum). A atmosfera inspiradora de Lucerna também atraiu Sergei Rachmaninoff, que construiu a Villa Senar às margens do Lago Lucerna. Essa tradição de excelência musical foi consolidada com a criação do Lucerne Festival, um dos principais festivais de música clássica do mundo, com edições de verão, Páscoa e Piano no aclamado KKL Luzern, uma obra-prima arquitetônica com acústica fenomenal.
A beleza natural de Lucerna convida à exploração do Lago Lucerna em passeios de barco, e montanhas como o Monte Pilatus (a “Montanha do Dragão”) e o Monte Rigi (a “Rainha das Montanhas”) oferecem vistas panorâmicas deslumbrantes, acessíveis por ferrovias de cremalheira e teleféricos.
Na culinária, experimente o robusto Luzerner Chögelipastete e o tradicional Rösti. O famoso fondue de queijo suíço é um clássico imperdível. Para uma experiência gastronômica memorável, o Old Swiss House é renomado por seu Schnitzel (bife à milanesa, para os íntimos) preparado à mesa, enquanto o restaurante do Hotel des Balances, com sua fachada ricamente pintada, oferece culinária contemporânea de primeira — peça uma mesa na varanda e você estará à beira do rio de águas translúcidas que cortam a cidade.
4. Berlim – Alemanha

Berlim, um dos epicentros históricos mais vibrantes da música clássica na Europa, é uma cidade que pulsa com inovação e resiliência. A Orquestra Filarmônica de Berlim, a Staatsoper e a Konzerthaus são pilares da cena musical, com raízes que remontam aos tempos do Rei Frederico II, um monarca-compositor.
Rafael Fonseca destaca a importância de estender o roteiro a Potsdam, para visitar o Palácio de Sanssouci, onde Frederico II manteve sua orquestra privada e recebeu Johann Sebastian Bach, um encontro imortalizado pela obra intitulada Oferenda Musical.
A cidade carrega as marcas de um passado complexo, sendo um museu a céu aberto com monumentos como o recém-reconstruído Palácio Real. Berlim também surpreende com atrações como a Boros Collection, uma galeria de arte contemporânea instalada de forma inusitada em um bunker da Segunda Guerra Mundial, proporcionando uma experiência imersiva e impactante.
A gastronomia berlinense é um convite à descoberta. O Crackers é uma experiência singular: um restaurante-bar com pista de dança, localizado em um porão e acessado por uma entrada de serviço escondida, conhecido por sua atmosfera e releituras de pratos, como uma berinjela parmigiana imperdível.
Para a culinária típica alemã, o Lutter & Wegner, na Praça Gendarmenmarkt, oferece os clássicos como salsichas com salada de batata e o autêntico Wiener Schnitzel. Rafael Fonseca ainda sugere o Dae Mon, uma fusão inovadora de cozinha coreana e japonesa, e o Pauly Saal, um restaurante que combina alta gastronomia com uma galeria de arte e um intrigante foguete pendurado na parede, adicionando um toque de arte e mistério à experiência culinária.
5. Amsterdã – Holanda

Amsterdã, uma cidade que harmoniza o passado e o presente, é um santuário para os amantes da música clássica e da arte. A icônica Orquestra da Concertgebouw, reconhecida como uma das melhores do mundo, e uma agenda musical que celebra os grandes mestres enquanto dialoga com o contemporâneo, são pontos altos para os visitantes.
A cidade respira arte em cada esquina. De Rembrandt a Van Gogh, de casas que guardam histórias profundas como a de Anne Frank, a galerias que provocam com arte contemporânea, Amsterdã é um lembrete vivo de que a cultura se manifesta nas ruas, nos silêncios das igrejas, nas pontes e no suave som das bicicletas.
Na gastronomia, Rafael Fonseca destaca o De Kas, um restaurante dentro de uma estufa onde ao entrar você já passa por parte da plantação que vai para o prato; toda a produção orgânica é deles, no próprio local ou em fazendas próximas. No centro histórico, o Bussia, um restaurante italiano supercharmoso no qual o carro-chefe é o espaguete com lagostim. A poucos quarteirões, coma a sobremesa na Chocolaterie Pompadour, cujos doces artesanais são de comer rezando.
Por William Bispo