Guto Goffi estima já ter feito entre 1.500 e 2.000 shows com o Barão Vermelho. O número é bastante crível. Ao lado do tecladista Maurício Barros, fundou a banda em 1981 e nunca largou a bateria do Barão, que se tornou um dos sinônimos do rock brasileiro e se mantém em atividade há quase 45 anos com pontuais hiatos e mudanças na formação. Neste sábado (12), em Belo Horizonte, Guto Goffi acrescenta mais uma apresentação à sua lista.
O Barão Vermelho, cuja formação conta com Fernando Magalhães, Rodrigo Suricato e Maurício, é um dos destaques do line-up do Prime Rock BH 2025 (detalhes no fim da matéria), que, em sua quinta edição, acontece na Esplanada do Mineirão e reúne nomes de peso do BRock, como se convencionou chamar o rock nacional que explodiu nos anos 1980 na esteira da redemocratização de um país assolado pela ditadura.
Os milhares de shows e os quase 45 anos com o Barão poderiam ter dado certa sensação de repetição e marasmo e tornado Guto Goffi um sujeito blasé e indiferente, mas o baterista ainda está imune ao cinismo e ao esgotamento que podem atingir artistas com tanto tempo de carreira.
Ele relembra quando, adolescente, andava de calça rasgada e começou a tocar rock ‘n’ roll, indo na contramão da discoteca, estilo que ditava moda e liderava as paradas de sucesso da época, e ainda se empolga, com a efusividade carioca que lhe é peculiar, ao falar sobre mais um show da banda – o primeiro na história do Prime Rock.
“Eu vivo da arte, acho isso tão bonito. Imagina a emoção que nós temos a cada novo desafio, a cada novo show. Ainda é muito prazeroso, aos 63 anos, estar na estrada com saúde e vigor. Tenho que agradecer e deixar uma parte de mim no palco. A energia e o rock estão no nosso DNA”, comenta o músico.
O Barão Vermelho viaja pelo Brasil com a turnê “Do Tamanho da Vida”, título do single, lançado em setembro do ano passado, inspirado por uma letra inédita de Cazuza. Além dessa, o repertório conta com os sucessos “Bete Balanço”, “Exagerado”, “Maior Abandonado”, “O Tempo Não Para” e “Pro Dia Nascer Feliz”, entre outros.
O show já passou por grandes festivais, como Rock in Rio, The Town e João Rock, e agora chega ao Prime Rock. O festival, aliás, reúne na programação apenas bandas e artistas dos anos 1980. Guto Goffi se alegra. Para ele, o que se fez naquela década ainda é atual.
“Aquela geração chegou para deixar uma mensagem nova. Saíamos de uma ditadura militar e as músicas falavam sobre liberdade. São músicas muito marcantes, foram e ainda são sucesso nas rádios e na TV. Tudo isso fica na memória das pessoas”, afirma o baterista do Barão Vermelho.
Paula Toller: 40 anos de sucessos
Quem for ao Prime Rock também verá uma coleção de hits no show “Amorosa”, que celebra os 40 anos de carreira de Paula Toller e compila sucessos do Kid Abelha, da trajetória solo da cantora e algumas homenagens. Segundo a artista, são canções – “Como Eu Quero”, “Fixação”, “Lágrimas e Chuva” e “Eu Tive Um Sonho” estão entre elas – que não têm data de validade.
Pensando em retrospecto, Paula diz ter deixado sua marca no pop rock nacional: “Construí um repertório atemporal, muitos adolescentes cantam e postam nas redes sociais ultimamente. São músicas que têm consistência, melodias interessantes. E, como artista, consegui captar o espírito da época, de ser mulher e líder de banda de rock, coisa raríssima então”.
Paula Toller, uma das vozes mais marcantes do pop rock brasileiro – não só aquele produzido nos anos 1980 –, enxerga ressonâncias do que ela produziu nas últimas quatro décadas. Com sua obra, ela acredita poder dialogar com artistas de outros estilos e gerações, como deixou claro no disco ao vivo “Amorosa”, lançado em meados de 2024.
Luísa Sonza, um dos nomes mais festejados do novo pop nacional, participou em “Nada Sei (Apneia)”; Fernanda Abreu, contemporânea da ex-Kid Abelha, apareceu em “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”; e Roberto Menescal, que ela chama de “Mr. Bossa Nova”, tocou o violão de “Nada Por Mim”.
A canção, parceria de Paula com Herbert Vianna, ganhou outra recente releitura de João Gomes, estrela do forró e do piseiro. “Quando um artista como ele, que admiro tanto, grava essa música com uma sanfona, cantando bonito, isso me emociona”, comenta a compositora.
A exemplo de Guto Goffi, Paula Toller, não perde o entusiasmo mesmo após tantos anos de carreira. Quatro décadas na estrada não fazem com que a cantora deixe de se surpreender com certas experiências. “Estar no palco exige entrega, mas também devolve muito. O olhar do público, o coro das vozes, a energia... Com isso eu não me acostumo. Tem artista que não gosta de encarar o público. Eu adoro, preciso disso”, destaca a compositora.
Programe-se
O evento, que chega à quinta edição em BH, acontece neste sábado (12/7), na Esplanada do Mineirão (Av. Antônio Abrahão Caram, 1001 - São José). Os portões serão abertos às 12h e o show de Nando Reis abre a programação, às 13h. Ainda sobem ao palco Barão Vermelho, Capital Inicial, Fernanda Abreu, Paula Toller, Humberto Gessinger e Biquini.
No Camarote Secreto, o tecladista Henrique Portugal, o baterista Charles Gavin e o saxofonista George Israel, que formam o POP3, tocam sucessos de suas ex-bandas – Skank, Titãs e Kid Abelha, respectivamente. Os ingressos (a partir de R$ 220) podem ser adquiridos no site da Blue Ticket.