“Eu precisaria de um curso de oito meses na Escola de Música da UFMG”, graceja o violonista Arthur Nestrovski ao ser perguntado sobre como a obra de Tom Jobim ajuda a definir a arte e a cultura brasileira e como ela permanece nos dias atuais mesmo após mais de 30 anos da morte do maestro, em dezembro de 1994.
Em uma entrevista no fim do ano passado, Nestrovski disse que “não seríamos quem somos sem a música de Tom Jobim”, numa espécie síntese de seu pensamento sobre a dimensão cultural de Tom.
Para o músico gaúcho, Tom Jobim fica lado a lado não só com os maiores compositores brasileiros, como Villa-Lobos, “de quem seguiu as pegadas”, mas com figuras que definiram a cultura brasileira moderna, entre eles Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Sérgio Buarque de Holanda, Guimarães Rosa e Oscar Niemeyer. “O impacto é tal que permite uma frase como a minha”, diz Arthur Nestrovski.
Neste domingo (20/7), e violonista e a cantora Paula Morelenbaum, que integrou, por uma década, a Nova Banda de Jobim, excursionando com o maestro pelo Brasil e pelo exterior, lançam o disco “Jobim Canção” no palco do Centro Cultural Unimed BH-Minas (detalhes no fim da matéria).
O show conta com a participação especial do violonista João Camarero, que interpretará, entre outras, a suíte “Gabriela” em versão inédita para dois violões. “Jobim Canção” marca a abertura do IV Festival de Arte & Movimento da Escola Saramenha de Artes e Ofícios. O evento também terá programação em Ouro Preto entre os dias 24 e 26 de julho.
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, sublinha Nestrovski, estabelece, entre outras inovações, um novo padrão de composição no cancioneiro popular brasileiro para muito além da bossa nova, abraçando gêneros distintos – valsa, choro, samba, peças instrumentais – a partir de uma relação muito particular e delicada com o texto, num arco temporal que cobre cinco décadas de produção.
“Desde o momento em que surge no céu da música brasileira, Tom Jobim tem uma influência imediata, avassaladora e incontornável para gerações de músicos a partir da década de 1950. Não seria possível imaginar a geração que veio depois – Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e outros – sem ele”, afirma Nestrovski.
“Tom Jobim é um compositor do artesanato mais refinado que se possa imaginar, com uma obra muito variada e rica e que avança até os anos 1990. Sem Tom Jobim, não seria possível imaginar o país que a gente sonhou ser”, ele completa.
“Jobim Canção”
Lançado em dezembro de 2024 para lembrar os 30 anos da morte de Tom Jobim, o disco reúne 10 canções – todas elas fazem parte do show deste domingo (20/7). “Passarim”, “Wave”, “Eu Não Existo Sem Você”, “Caminhos Cruzados” e “Piano na Mangueira”, parceria com Chico Buarque, são algumas que o público poderá ouvir. O repertório do álbum nasceu de um desejo de Paula Morelenbaum, parceira de longa data definida por Nestrovski como “predestinada intérprete e enciclopédia de Tom Jobim”.
“Ela mandou uma lista de 35, 40 músicas do Tom que nunca havia gravado na discografia dela. Depois fiz uma seleção de coisas que eu não tinha gravado no ‘Jobim Violão’, conta o violonista, mencionando seu disco de 2007. “Jobim Canção”, o show, conta com a inclusão de clássicos como “Águas de Março”, “Sabiá”, “Desafinado” e “Chega de Saudade”.
O samba-canção pré-bossa nova “Cala, Meu Amor”, que está no álbum e no show, é novidade que merece atenção. Composta em parceria com Vinicius de Moraes em 1958 e lançada pela cantora Sylvia Telles no mesmo ano, a faixa nunca foi gravada por Tom Jobim.
“É uma canção lindíssima, resolvemos incluir como resgate de uma música que estava esquecida. Temos muito orgulho dela. Estamos fazendo um Jobim e Vinicius que, por incrível que pareça, pouca gente conhecia”, observa Arthur Nestrovski.
IV Festival de Arte & Movimento
Com o tema “Lembrando os 50 anos do Grupo Corpo”, o IV Festival Arte & Movimento acontece nos dias 24, 25 e 26 de julho em Ouro Preto. A programação conta com workshop e residência artística com os bailarinos Janaína Castro, além da oficina de Pas de Deux, com os bailarinos Filipe Bruschi e Silvia Maia.
Criadores do Grupo Corpo, os irmãos Rodrigo, Paulo, Pedro e José Luiz Pederneiras vão falar sobre a trajetória da companhia com mediação do idealizador Paulo Rogério Lage. Além da dança, o festival também abre espaço para outras linguagens artísticas como a oficina de pintura em azulejo e oficina de torno em cerâmica. Programação completa está disponível no perfil da Escola Saramenha de Artes e Ofícios no Instagram.
Programe-se
O quê. “Jobim Canção” – Paula Morelenbaum e Arthur Nestrovski convidam João Camarero
Quando. Neste domingo (20/7), às 19h
Onde. Centro Cultural Unimed BH-Minas (R. da Bahia, 2.244 – Lourdes)
Ingressos. A partir de R$ 42,50 na plataforma Sympla