A ideia do ator e cantor Dude São Thiago era montar um espetáculo que mesclasse poesia e música instrumental, mas tudo mudou em meados de 2023, quando o parceiro na empreitada, o cineasta Carlos Porto de Andrade Jr., que assumiria a direção, faleceu repentinamente. Após a perda do amigo, Dude decidiu não postergar mais: “O Sexo do Vento” estreou no fim daquele ano em São Paulo com uma importante reformulação.

“Fiquei pensando que seria mais interessante fazer um projeto de canções, entendendo que a canção é filha da música e da poesia. Levantei um repertório em grande parte autobiográfico, músicas que foram me acompanhando ao longo da vida”, conta o cantor. 

Após minuciosa pesquisa, Dude então selecionou “O Que Será (À Flor da Pele)” (Chico Buarque), “Cais” e “Conversando no Bar” (Milton Nascimento), “O Charme do Mundo” e “Grávida” (Marina Lima), “Magrelinha”, (Luiz Melodia) e “Cabaré” (João Bosco e Aldir Blanc), entre outras, para compor a trilha do espetáculo, que ganhou a companhia dos poemas autorais do ator em alguns temas.

Nesse formato que mescla as releituras de Dude para clássicos da música popular brasileira com seus textos poéticos, “O Sexo do Vento” também virou disco, lançado em maio deste ano. Para marcar a chegada do álbum às plataformas digitais, o artista voltou a viajar com a peça, que passou recentemente por São Paulo e, neste fim de semana, mais precisamente na sexta-feira (25/7) e no sábado (26/7), será encenada em Belo Horizonte (detalhes no fim da matéria), no Complexo Funarte.  

No palco, Dude estará acompanhado por Iuri Salvagnini (piano), que também assina a direção musical e os arranjos de “O Sexo do Vento”, Billy Magno (sopros) e Adriano Busko (percussão). “Não é um show, pois tem um tanto de teatro; não é uma peça, pois tem algo de récita. É nessa brecha identitária que se dá o acontecimento cênico”, explica o ator. “Quando músicas que conhecemos tão bem são colocadas lado a lado dentro de uma narrativa, é como se elas voltassem a ser inéditas”, ele completa. 

Desconstrução

Esse ineditismo mencionado por Dude se dá porque, além de propor suas próprias releituras, muitas vezes elas não são tocadas na íntegra, permitindo que os textos do ator se unam às canções em um recorte músico-textual que cria algo novo. Não há uma história linear; o espetáculo não tem começo, meio e fim.

O que há em comum entre as canções e os escritos do cantor é um traço autobiográfico, ressaltado especialmente na sua versão de “Bachianas Brasileiras nº 2”, de Heitor Villa-Lobos, entrelaçada ao poema “Vai, Menino”. No espetáculo, a faixa aparece em momentos diferentes, cantada dentro de um pout-pourri.

“Essa peça me é muito cara, é a parte mais autobiográfica, traz muito das minhas dores pessoais de crescer num mundo masculino estereotipado, angustiante, sufocante”, ele diz, ressaltando, porém, que não vê melancolia em sua releitura: “Eu a vejo com muita esperança, um grito de liberdade que diz ‘vai, menino!’, continue menino ao longo da vida, aquela meninice capaz da subversão. O poema vai por aí”.

Dude diz que “Invento”, de Vitor Ramil, uma das 18 faixas do álbum, inspirou o nome do espetáculo e é o coração da obra. Em “O Sexo do Vento”, a ideia tem a ver com sexo no sentido de secção, de corte, com a relação de ruptura que existe entre o humano e a natureza.

“A agressividade, a guerra, o ódio – se a gente considera isso como natureza, ficamos condenados, mas não há nada que não possamos reinventar. Se a natureza se transforma o tempo todo, e o vento é símbolo disso, nós também podemos, inclusive coletivamente, fazer escolhas melhores e construir um mundo melhor. É uma utopia, mas é importante insistir nisso”, conclui Dude São Thiago. 

Programe-se

O quê. Dude São Thiago apresenta “O Sexo do Vento”

Quando. Nesta sexta-feira (25/7) e sábado (26/7), às 20h

Onde. Galpão 3 do Complexo Funarte BH (rua Januária, 68 – Centro)

Ingressos. R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) via plataforma Sympla