A razão principal para a bilheteria bem abaixo do esperado de "Elio" é que a nova animação da Pixar, em cartaz nos cinemas, entrou num terreno bastante concorrido da ficção-científica, ao investir em raças alienígenas mais avançadas, disputas interplanetárias e a busca de paz na galáxia.
Por mais que seja um animação, e ainda com o diferencial da Pixar, as ficções-científicas se valem muito de efeitos especiais e de um universo completamente fantasioso, além de serem bastante acessíveis (em jogos eletrônicos, principalmente) às crianças, o que coloca "Elio" no mesmo patamar dessas produções.
E, para quem é fã do gênero, vai se identificar com vários filmes. Entre eles está "E.T." (1982), de Steven Spielberg, quando dois irmãos entram numa base militar, vestidos com trajes brancos contra contaminação, para salvar um alienígena que está morrendo, levando-o para o encontro de sua família.
A principal inspiração, que serve de base para toda a história relacionada à ficção científica, é uma produção B da década de 1980, "O Último Guerreiro das Estrelas" (1984), de Nick Castle. Nele, um jovem jogador de fliperama é confundido como uma soldado estelar e acaba participando de uma guerra entre planetas.
O filme de Castle foi feito na esteira do sucesso de "Star Wars", mas traz esse detalhe original, ao apresentar um garoto sem grandes perspectivas que recebe a grande chance de virar herói, como único representante da Terra a ser recrutado para uma guerra ao lado de alienígenas de várias raças.
As semelhanças não param por aí: ao abduzir Elio, as raças extraterrestres do bem deixam em seu lugar um clone, que acaba criando divertidas interações com a irmã Olga, uma major do Exército que passou a cuidar do garoto após a morte dos pais. Situação também presente no filme de 40 anos atrás.
Essa é a melhor parte de "Elio", porque possibilita desenvolver o que as narrativas da Pixar têm de melhor: emoção familiar. Invariavelmente, tudo o que vem dos estúdios da luminária saltitante envolve elementos de humanismo, mesmo quando só vemos monstros, brinquedos ou sentimentos.
Embora o miolo deixe de oferecer a mesma riqueza de produções como "Toy Story' (1995) e "Divertida Mente" (2015), ao adentrar por um "infinito e além" sem grande brilho, as relações de Elio com um amigo ET e com a própria irmã compensam parte dessa frustração.
O protagonista é um garoto que ainda não conseguiu processar a perda, sentindo-se solitário e um fardo para Olga, que tem uma carreira promissora pela frente. E que encontra um ser, em outro planeta, pressionado pelo pai, sem coragem de dizer o que sente.
Juntos, têm sucesso em mostrar o seu valor, baseado na compreensão e na amizade, sendo capazes de interferir no rumo de uma guerra de dimensão cósmica, literalmente. Desta forma, não importa a idade, o tamanho e a "patente". Para vencer, basta o que está dentro de nós - é a mensagem do filme.
O final é um dos mais melodramáticos da Pixar, porque compreende uma espécie de perdão coletivo, combustível certo para corações mais sensíveis, abraçando todos os tipos de relações sociais - até mesmo um clone é capaz de se sacrificar para o bem do próximo.
O fato de desenvolvermos esse entendimento juntamente com os personagens é uma das principais receitas de sucesso da Pixar, que, no caso de "Elio", parece repetir a "maldição" da Disney, sua empresa-mãe, que também naufragou em sua aventura espacial, com "Planeta do Tesouro" (2002).