A personagem central só aparece nos dois capítulos finais de "A Hora do Mal", filme de terror já em cartaz nos cinemas. Ela surge repentinamente apenas para "explicar" o desaparecimento de 17 crianças de uma turma de escola. Sabemos o que ela é, o que pretende, mas nada mais será informado, como detalhes de seu passado e de sua força sobrenatural.
Essa abordagem objetiva e direta para criar o principal elemento de terror é um dos trunfos de "A Hora do Mal". O diretor e roteirista Zach Gregger monta uma estrutura narrativa muito inteligente, ao estabelecer uma divisão da história, a partir do ponto de vista de cada personagem, que gradualmente faz avançar a elucidação do mistério até o gran finale.
Possivelmente, se o roteiro seguisse uma ordem mais convencional, o resultado ficaria aquém do esperado, já que o elemento do Mal, desencadeador do acontecimento na escola, teria que já estar presente nos primeiros movimentos. Cada vez que Gregger volta ao ponto de partida, ao mudar de personagem, novos elementos são apresentados, com cada peça ajudando a montar o quebra-cabeça.
A estrutura também favorece um outro tipo de quebra: o da casa mal-assombrada. Quando nos damos conta dessa filiação, o filme já está praticamente em seu final. Essa é outra jogada de mestre de Gregger, com a ação se desenvolvendo fora do epicentro de terror. As melhores cenas estão em lugares como um posto de gasolina ou uma viatura de polícia.
Esse deslocamento proporciona um filme mais movimentado do que o normal, com muitas perseguições - e que nos remetem aos enredos de zumbis. A mais impressionante é justamente a do final, quando o Mal é, ironicamente, acuado por seus próprios artifícios de poder. A narrativa termina assim, entre muitas risadas.
À medida que o mistério ganha explicação, o humor aumenta ferozmente, chegando às raias do absurdo nos dois capítulos finais. A combinação de todos esses ingredientes culmina numa obra que certamente ganhará continuações, motivadas pelo passado e pelo o que representa aquela força maléfica, forte candidata à vilão do ano nos filmes do gênero.