Estreia nesta quinta-feira (14/8) no Globoplay, a série "Dias Perfeitos", baseada no livro homônimo best-seller de Raphael Montes. Adaptada por Claudia Jouvin e dirigida por Joana Jabace, a produção é um thriller psicológico que retrata a história de obsessão de Téo (Jaffar Bambirra), um estudante de medicina, por Clarice (Julia Dalavia), aspirante a roteirista, a ponto de sequestrá-la acreditando que, com o tempo, vai convencê-la que seu amor é genuíno e que foram feitos um para o outro. A produção inova ao expandir a narrativa original: além de mergulhar na mente obsessiva do sequestrador, a obra dá voz e perspectiva à vítima, criando um jogo de espelhos entre a percepção e a brutalidade da realidade, além de trazer um desfecho inédito.
“Trazer o ponto de vista da Clarice foi importante para a personagem não ser apenas uma vítima. Esse ponto de vista, além de enriquecer a trama, se mostrou essencial para construir uma personagem forte e atual, apesar de tudo o que acontece com ela na história”, defende Claudia. “Essa trilha foi construída com muita atenção, para os fãs do livro não se sentirem ‘traídos’, para que ela não ficasse muito diferente da Clarice da literatura. É como se a gente visse uma perspectiva da história, que não é contada no livro, por estar mais focado no olhar do Téo”, ressalta.
O autor do livro, Raphael Montes, esteve ativamente envolvido no processo, garantindo que as mudanças servissem ao espírito da obra. Para ele, a adaptação precisava “mudar para manter” a essência. “A grande força do livro é que ele conta a cabeça do Téo. A Claudinha, que é genial, teve essa ideia brilhante de trazer os dois pontos de vista. Assim, você consegue na tela mostrar que ele enxerga de um jeito e ela enxerga de outro”, elogiou Montes.
“À medida em que você traz os dois pontos de vista, você consegue, na tela, mostrar que ele enxerga de um jeito e ela enxerga de outro jeito. A graça é justamente ter coisas na série que não têm no livro”, afirma Montes, que destaca a importância da obra para a sua carreira. “É um livro que mudou a minha vida, mudou a minha carreira. Foi o livro que me permitiu sair do direito e fez com que várias pessoas do mercado audiovisual, inclusive a Claudinha, lá no início em 2014, olhassem para o meu trabalho e falassem: 'Poxa, talvez você possa fazer roteiro’”, diz ele, que já lançou oito romances e neste ano atingiu a marca de 1 milhão de livros vendidos. Montes revelou estar animado com o resultado: “Meu Deus, como eu vou vender livro!”.
“Dias Perfeitos” terá oito episódios. “Minha preocupação era ter um novo final”, conta Claudia, que pediu a aprovação de Raphael Montes para fazer a alteração na história. “Até o capítulo sete, a série é o livro. O oito é uma extensão, com o final diferente que eu criei. Foi um processo delicioso trocar com um amigo sobre a obra dele. Eu não conseguiria adaptar esse livro se eu não pudesse trocar com o Raphael e estar com ele durante esse processo”, admite a autora.
Dualidade
Para traduzir essa dualidade para a tela, a direção de “Dias Perfeitos” apostou em uma linguagem visual distinta para cada protagonista. Enquanto as cenas de Téo são marcadas por movimentos de câmera precisos, que exploram sua frieza e perfeccionismo, as de Clarice utilizam câmera na mão e planos desenquadrados para transmitir horror, confusão e desespero.
A narrativa é dividida em quatro fases - Apresentação, Confinamento e Obsessão, Falsa Liberdade e Desfecho -, cada uma com uma evolução estética e emocional. “O maior desafio foi encontrar o equilíbrio entre dois pontos de vista tão distintos e garantir que cada um tivesse sua identidade sem perder a coesão como um todo. O Téo enxerga o mundo a partir de uma lógica doente e obsessiva, enquanto a Clarice tem uma percepção ligada à liberdade, ao fluxo e à intuição. Era essencial que o espectador sentisse essas diferenças, mas também fosse capaz de transitar entre esses universos sem rupturas”, detalha a diretora Joana Jabace.
Construindo Téo e Clarice
Os protagonistas de “Dias Perfeitos” mergulharam fundo na complexidade de seus papéis. Para Jaffar Bambirra, o desafio foi humanizar um personagem repulsivo sem romantizá-lo. “É difícil descrever o Téo, mas sinto que ele é uma ebulição interna. Ele não se sente confortável na própria casca e, quando conhece Clarice, se sente livre pra ser quem é de verdade. E quem ele é, não é nem um pouco bacana”, revela o ator. Ele complementou a dificuldade de não julgar a moralidade de Téo para entendê-lo: “Eu tenho a impressão de que a gente só vê o Téo de verdade no ponto de vista da Clarice”.
Já Julia Dalavia destaca a importância da nova perspectiva para sua personagem e o ambiente de trabalho para lidar com a densidade da trama. “O maior desafio da série é passar longos períodos em uma frequência muito alta de tensão. Nós já esperávamos por isso e tivemos um ambiente seguro e bem cuidado pela Joana Jabace, a regente dessa orquestra”, afirma. “Eu achei muito interessante a divisão das narrativas entre a do Téo e a da Clarice, principalmente por elas poderem ser completamente diferentes, assim como acontece na vida”, frisa a atriz.
A série conta ainda com Debora Bloch e Fabíula Nascimento, que interpretam as mães de Téo e Clarice, respectivamente. Ambas as personagens, embora em lados opostos da história, representam a complexidade feminina em torno da violência.
Debora, que dá vida a Patrícia, afirma que sua personagem é “uma mãe que não quer ver, não quer enxergar a doença do filho”. “Mas tem uma carga tensa nas nossas cenas, a série tem sempre uma tensão pairando. De uma certa maneira, eu acho que a Patrícia sabe da doença do Téo, sente, mas não quer enxergar”, diz.
Fabíula define Helena, sua personagem em “Dias Perfeitos”, como uma “pessoa que tem o preconceito no olhar” e, por isso, não desconfia do comportamento de Téo com Clarice. “Na primeira vista, a gente vê um futuro médico. 'Como que um futuro médico será uma pessoa que não será boa para sua própria filha? Tão branquinho, tão limpinho... Não tem como'. Então, ela tem esse lugar, que também vem do universo dela realmente, pelo que ela está passando, mas pelo que ela constrói. Porque não podemos esquecer que é uma advogada criminalista”, explica.
‘Dias Perfeitos’ terá quatro episódios lançados no dia 14 de agosto no Globoplay, com mais dois sendo disponibilizados nos dias 21 e 28 do mesmo mês. O elenco também conta com Elzio Vieira, Julianna Gerais, Clarissa Pinheiro, Lee Taylor, Teca Pinheiro, Felipe Camargo, Giovanni Venturini, Heloísa Honein e Joana Castro.