GRAMADO - Intérprete da Tia Celina na novela “Vale Tudo”, a atriz Malu Galli deu uma escapada do set, no Rio de Janeiro, para lançar “Querido Mundo” no Festival de Cinema de Gramado. Ela é a protagonista do filme dirigido por Miguel Falabella, exibido na noite de segunda-feira (18), no Palácio dos Festivais, na cidade gaúcha. Em entrevista a O TEMPO, ela comemora a boa fase no cinema, após os elogios recebidos por “Propriedade” (2024), de Daniel Bandeira, em que também vive a protagonista.
“São dois filmes bem diferentes, em todos os sentidos, tanto de tema quanto de estética. Eu fico feliz. Eu, como venho do teatro, gosto de diversidade, de me transformar, de cada vez estar num universo diferente e de me experimentar de formas diferentes. Não sentir presa a nenhum estereótipo, sair da caixinha, é o melhor dos mundos”, registra Malu, cotada para receber o Kikito de melhor atriz por “Querido Mundo”.
Intérprete da personagem Tia Celina na novela "Vale Tudo", Malu Galli está em Gramado para lançar o filme '"Querido Mundo", de Miguel Falabella. À reportagem de O TEMPO, a atriz falou sobre seu bom momento no cinema. pic.twitter.com/vqxsp8hYe6
— O Tempo (@otempo) August 19, 2025
No filme, baseado em peça de Falabella e Maria Carmem Barbosa, ela vive uma mulher que sofre violência doméstica e, inesperadamente, recebe uma chance de mudar o curso das coisas, quando vai morar num prédio inacabado. “Estou feliz com a repercussão de ‘Querido Mundo’, um filme super delicado, super poético. Adorei a parceria com o Miguel. É a primeira vez que trabalhamos juntos e foi um encontro muito feliz”.
“Estou querendo que venham mais filmes, mais desafios estéticos e temáticos, mulheres diferentes e fortes. O protagonismo das mulheres maduras é sempre muito bem-vindo, pois trazem uma carga maior de conflitos e temas complexos”, destaca Malu, que, durante o debate no dia seguinte à exibição, lembrou de suas origens teatrais, vendo-se primeiramente como uma contadora de histórias.
“Vou parafrasear o meu diretor: eu sou uma mulher de teatro, forjada no teatro desde o início. Acho que sou basicamente uma contadora de histórias, assim como Miguel, Du (Moscovis) e Dani (Winitis). Foi um feliz encontro porque rapidamente a gente entendeu que tinha uma bela história para contar, uma história tocante, de emoções puras, de delicadeza de construção e de contracenação”, assinala.
Ela define Miguel Falabella como “um homem que nos inspira todos os dias no set com as suas histórias, referências, generosidade, conhecimento do cinema e do teatro, de construção de personagem. Era muito prazeroso conversar com ele, ouvir as indicações dele. Enfim, a gente se divertia, chorava e ficava naquela poeira louca. Era muita poeira, era um set inóspito do ponto de vista físico, porém muito afetivo”.
Os elogios ao autor e diretor se estendem, ao comentar sobre a criação de um universo próprio e reconhecível. “Não é todo mundo que tem isso. A presença daquele bacalhau (numa das cenas do filme), que é um escracho, uma brasilidade, um humor popular, é muito característico do Miguel. Ele não desenvolve tanto isso no filme, porque buscou fazer outra coisa, mas acho muito bom porque é assinatura dele”, avalia.
Ao falar de sua personagem, em entrevista a O TEMPO, Malu enxerga em Elsa uma personagem de fábula. “O filme tem uma alegoria muito bonita. A Elsa é mulher que acha que não tem mais chance, que é uma perdedora. O panorama da vida dela é o pior possível. O filme fala exatamente disso, da nossa capacidade de reconstrução, de recomeçar, tem sempre um lugar por onde a gente pode seguir, mesmo quando a gente não consegue enxergar”.
Ela vê em Elsa um personagem cheio de camadas, com certa complexidade. “Realmente ela trabalha ali num equilíbrio delicado entre o drama e um leve comentário cômico, flertando com a tragédia. Na tragédia-mor, que é a explosão (de um botijão de gás), vem uma fala do Miguel, ‘Meu marido explodiu’. Aí você lembra da obra dele (Falabella) toda. O ser humano, na hora de uma situação limite, fala a coisa mais improvável”.
(*) O repórter viajou a convite da organização do Festival de Cinema de Gramado