Numa banheira de água morna, cercada de ervas aromáticas, o parto se aproxima naturalmente, sem a interferência de anestésicos e medicamentos, com doce expectativa. A criança “já tem nome, já tem identidade, já tem história”. Parece já ter vindo ao mundo, mas ainda encasula-se na barriga. Isso é tudo o que sabemos sobre o novo álbum da Lamparina, previsto para o ano que vem, e cujos singles “De Novo”, “Besteira Minha” e “Conversa Fiada” deram uma amostra. Ou quase tudo.
“Vai ser diferente de tudo o que fizemos até agora, tem todo um contexto e uma relação com a nossa bandeira da luta antimanicomial, de loucura, de liberdade para acessibilidades”, entrega Marina Miglio, ou simplesmente Nina, vocalista da banda que sobe ao palco do Teatro Sesiminas nesta sexta (29), ao lado de Cotô Delamarque, Calvin Delamarque, Stênio Galgani, Bino e Thiago Groove. No repertório, um “apanhado geral” dessa trajetória.
“Vai ser um show para quem não nos conhece nos conhecer, e, para quem já conhece, vivenciar essa nostalgia de ouvir coisas que não tocamos há muito tempo”, promete Marina, oferecendo um cardápio musical que contempla faixas dos três álbuns lançados: “Manda Dizer” (2018); “Zam Zam” (2021); e “Original Brasil” (2023). O hit “Não Me Entrego pros Caretas” é outro que não poderia ficar de fora.
“Essa música foi um divisor de águas pra gente, acertamos o timing político do momento, falamos o que precisava ser dito na hora certa, e por isso ela sempre vai significar muito para a banda”, admite a cantora. No ano seguinte, a Lamparina voltou às paradas de sucesso com “Pochete”, que entrou para a trilha da novela “Cara e Coragem”, da Globo, como tema do casal formado por Paolla Oliveira e Marcelo Serrado.
As glórias do passado, no entanto, não imobilizaram a trupe, ao contrário. “Pegamos algumas músicas antigas minhas e repaginamos para esse próximo disco, criamos coisas novas, sempre observando o cotidiano, o dia a dia, que é a nossa maior inspiração”, conta Marina, ciente dos desafios de “ser uma banda independente formada em BH”, precisamente no aparentemente já longínquo ano de 2017 (há quase uma década), quando seu nome ainda era acompanhado pela Primavera.
“O universo pop vem fortalecendo as carreiras solo e esquecendo-se das bandas, isso tem mudado bastante dos anos 80 para cá, quando tínhamos muitas bandas relevantes, e, hoje em dia, a estrutura da diva tomou conta. É um desafio fazer a música que a gente quer, da nossa maneira, na atual conjuntura, ainda mais sendo um coletivo, o que parece que não está mais na moda, mas no sufoco”, finaliza Marina, com um riso que não sabemos se é de apreensão ou esperança, como às vezes acontece num parto.
Serviço
O quê. Lamparina no “Sesi em Cena”
Quando. Nesta sexta (29), às 20h
Onde. Centro Cultural SesiMinas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)
Quanto. De R$40 (meia) a R$80 (inteira) pela plataforma www.sympla.com.br ou na bilheteria do teatro