Em “Anos 80”, Raul Seixas cantava que a época seria uma “charrete que perdeu o condutor”, além de “melancolia e promessas de amor”. Mal sabia Raulzito que a década reservava muito mais – afinal, a canção foi lançada exatamente em 1980, no disco “Abre-te Sésamo”. Quem viveu os anos 1980, certamente traz na memória “ícones” como Kichute, LPs, videocassete de 4 cabeças, “Xou da Xuxa”, as revistas “Mad” e “Chiclete com Banana” e uma diversidade de elementos da cultura pop repletos de cor e forma.

Mas para além das referências físicas, de consumo, a arte brasileira ganhava uma outra dimensão - estética, política e existencial. É nesse encontro de emblemas que “Fullgás – Artes Visuais e Anos 1980 no Brasil” ocupa a partir desta quarta (27) o Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte - CCBB-BH.

Exposição apresenta uma ampla produção da arte oitentista no Brasil. Foto: Mariela Guimarães/O Tempo

Em um grande esforço para não se ater apenas aos centros da vida política, econômica e cultural do país, leia-se Rio-São Paulo, a curadoria da mostra, assinada por Raphael Fonseca e os curadores-adjuntos Amanda Tavares e Tálisson Melo, reuniu cerca de 300 obras de mais de 200 artistas de todos os estados brasileiros.

Dividida em cinco núcleos conceituais, a exposição se propõe a jogar luz na produção de artistas cujas suas obras foram concebidas um pouco além do marco temporal de dez anos. Assim, "Fullgás" compreende os questionamentos e formatações que vão de 1978 a 1993, abarcando desde o fim do Ato Institucional 5 e o ano seguinte ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Consideramos para a base de reflexões este arco de quinze anos e todas as suas mudanças estruturais e culturais para pensarmos o Brasil: do fim da ditadura militar ao retorno a uma democracia que, logo na sequência, lidará com o trauma de um impeachment”, destaca a curadoria.

Obra de Adriana Varejão (à direita), ao lado de tela do mineiro Jorge dos Anjos, revela a produção distinta da artista em 1984. Foto: Mariela Guimarães/O Tempo

E para contar a intensa atividade artística do período, a mostra nomeia seus eixos com títulos de músicas da década de 1980: "Que país é este?", "Beat acelerado", "Diversões eletrônicas", "Pássaros na garganta" e "O tempo não para".

Como o nome da mostra sugere, a provocação em revelar um país com o tanque cheio (fullgas, em inglês) de arte, de energia, e que se encontra com o “Fulgás” de Marina Lima – este com uma ideia de mostrar o que é momentâneo, efêmero –, a exposição cria uma real dimensão da arte brasileira de norte a sul.

Assim, "Fullgás" convida as gerações para momentos nostálgicos, referenciais e também para ampliar o conhecimento sobre a arte produzida em um Brasil que se livrava de amarras repreensoras para caminhar a um futuro mais permissivo, ousado e libertino.

Cenografia nostálgica

A exposição “Fullgás – Artes Visuais e anos 1980 no Brasil” reserva também um ambiente interativo que traz uma dimensão especial sobre a década de 1980. No pátio do CCBB-BH, o espaço cenográfico “De Volta aos Anos 80” dialoga com o tema da mostra, apresentando ao público elementos do imaginário oitentista, como discos, livros, roupas e móveis, em um cenário que mistura nostalgia e diversão, e uma banca de revistas repleta de publicações essenciais do período.

Instalação cenográfica no pátio do CCBB apresenta objetos 'clássicos' dos anos 1980. Foto: Mariela Guimarães/O Tempo

E “Fullgás” chega também em um momento de celebração do CCBB, que completa 12 anos de atividades neste domingo (31). Assim, a mostra abre uma série de atividades que comemoram o aniversário do equipamento.

Nesta quarta, às 20h, a cantora Marina Lima – ícone dos anos 1980 – leva ao Teatro I do CCBB grandes sucessos como “À Francesa”, “Charme do Mundo” e “Fullgás”. Os ingressos são gratuitos e serão liberados a partir das 18h, limitados a dois por pessoa, exclusivamente na bilheteria do CCBB-BH e sujeito a lotação.

E no domingo, o CCBB reserva uma intensa programação aberta ao público, a partir das 14h, com direito a lambada, aeróbica e bolo de aniversário.

Mineiros em cartaz

“Fullgás” conta com a participação de artistas mineiros. São eles:

Adélia Sampaio

Adrianne Gallinari

Ailton Krenak

Ana Horta

Ana Maria Tavares

Eder Santos

Eustáquio Neves

Hélio Coelho

Jader Rezende

Jorge dos Anjos

Jorge Duarte

Marco Paulo Rolla

Patricia Leite

Paula Sampaio

Paulo Amaral

Rosângela Rennó

Solange Pessoa

Valeska Soares

Vania Toledo

Afonso Pimenta e João Mendes, que integram o projeto Retratistas do Morr