O poeta e tradutor Leo Gonçalves lança, pela editora Urutau, na próxima sexta-feira (12/9), seu livro "Marselhesa para Sangues Impuros". O lançamento acontecerá no Território Kitutu de Aquilombamento e contará também com um bate-papo com o poeta, performer e artista visual Ricardo Aleixo, membro da Academia Mineira de Letras. A conversa promete aprofundar as questões abordadas no livro e ampliar os diálogos sobre poesia, identidade e experimentação estética.

"Marselhesa para Sangues Impuros" é um projeto que busca apontar para um lugar de destino: os povos mistos e multicoloridos que expandem as muitas línguas e linguagens que habitam o planeta na contemporaneidade. O livro é também uma declaração de lugar de enunciação, a ideia de que o poeta deve ter consciência de sua aldeia, “habitar” o planeta como se fosse sua própria cidade, enfrentando suas contradições e buscando reatar os vínculos entre os diferentes povos separados pelo colonialismo.

Segundo o poeta angolano Abreu Paxe, o livro é uma proposta séria e um testemunho de experimentação poética que remexe e recombina as profundezas da cultura em textos-espelho que “vocossonorizam, tactiabilizam, cromatizam e gestualizam”.

Ao longo dos seus 29 poemas, o livro propõe movimentos em vai-e-vem com linguagens ancestrais, traçadas em zigue-zague, como resistência vibrante e exemplar dos ovissungus, manifestações que ecoam a força de um povo que, mesmo sob o açoite da opressão, transforma a dor em luta, em gestos de fé, música, dança, narrativa, sexualidade, eroticidade, ludicidade e alegria, em miríades expandidas.

“O livro é uma orquestração de vozes e ritmos, onde o sagrado e o profano se encontram; onde a alegria, o lúdico e o erótico se manifestam de forma multiforme, agregando várias temporalidades, como o refúgio de buscas constantes, das encruzilhadas do blues aos tambores ancestrais, da diáspora à celebração da negritude. Esses ovissungus de Leo Gonçalves pulsam com a vida que insiste em florescer em meio ao caos, à seda e à ternura”, escreve Paxe na orelha do livro.

O projeto foi gestado ao longo de anos, mas Gonçalves acredita que os poemas deste livro nasceram de sua tomada de consciência de que o mundo é multicolorido e que, como dizia o poeta africano Tchicaya U’Tamsi, “branco é cor de circunstância, negro é a cor de todos os dias”.

“Ter andado por Marselha e encontrado ali uma França múltipla tem algo a ver. Ter me dedicado, nos últimos 20 anos, ao ensino da língua francesa também. Trabalhar em traduções de autores como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor e Édouard Glissant é outro fator que contribui para essa minha busca por uma escrita anticolonial ou que, ao menos, aponte para isso”, declara o autor.

Sobre Leo Gonçalves 

Contando as publicações em formato de livro, Marselha para sangues impuros é o terceiro título de Leo Gonçalves. No entanto, outros trabalhos vêm sendo publicados ao longo dos 21 anos desde a estreia com das infimidades (2004).

Gonçalves também é tradutor de nomes como Aimé Césaire, Langston Hughes, Juan Gelman, William Blake, entre outros, atuando profissionalmente para editoras como Bazar do Tempo, Civilização Brasileira, entre outras. Seus poemas estão presentes em diversas antologias, tanto no Brasil quanto no exterior. 

Serviço

Lançamento do livro Marselhesa para sangues impuros, de Leo Gonçalves (Editora Urutau) 

Onde. Território Kitutu de Aquilombamento – Rua Aarão Reis, 496A - Centro, Belo Horizonte 

Quando. 12 de setembro, às 19h 

Quanto. Gratuito 

Mais informações: @salamalandro e @kitutugastronomiafrobrasileira