Às vésperas de completar quatro anos no comando do "Fantástico", Maju Coutinho, de 47 anos, lembra com carinho de seu primeiro dia na redação do programa. Em entrevista à reportagem, ela conta que, minutos antes de sua primeira reunião com a equipe, deparou-se com a imagem projetada no telão de ninguém menos que a atriz Ruth de Souza (1921-2019), símbolo de representatividade negra nas telas.

"Sentei ali, abaixo daquela projeção, e senti como se fosse uma bênção, como se ela me dissesse: 'Minha filha, vai, o caminho é teu. Foi muito simbólico'", disse a jornalista, que esteve presente ao lançamento de "A Rainha da Rua Paissandu", livro de Lázaro Ramos sobre Ruth, no Rio.

Além de apresentar o programa ao lado de Poliana Abritta, Maju faz reportagens especiais, como a série sobre a África, na qual mostrou um continente muito além dos estereótipos. Ela gostou da experiência e quer mais. Seu próximo destino deve ser a América Latina. "Ainda é pouco conhecido dos brasileiros. Gosto de ir para lugares que a mídia quase não mostra. Se não estão falando, eu quero ir ver o que tem", completou.

A apresentadora comenta as recentes mudanças no jornalismo da Globo e reflete sobre os desafios e encantos da profissão: "Hoje estou no 'Fantástico', mas amanhã não sei. É preciso estar preparada para estar despreparada". E Maju diz estar feliz: "Me sinto realizada, mas não me apego. Se amanhã não estiver mais aqui tem que deixar para não adoecer. Eu sou dessa caminhada. Estou aqui, vou fazer o meu melhor aqui. Como diz Zeca Pagodinho, 'deixa a vida me levar'", finalizou.

Leia a entrevista completa abaixo.

PERGUNTA - Você esteve no lançamento do livro de Lázaro Ramos, "A Rainha da Rua Paissandu", sobre Ruth de Souza. Tem alguma lembrança dela? 
MAJU COUTINHO - Tenho uma memória muito forte do jeito doce como ela falava e contava histórias dos bastidores da vida artística. Ela fazia isso com tanto orgulho e brilho nos olhos que era uma delícia ouvir.

P - Chegou a encontrá-la pessoalmente? 
MC - Sim. Passei uma tarde com ela, um sábado. Foi maravilhoso. E há também uma lembrança muito simbólica: minha primeira reunião de pauta no Fantástico aconteceu na semana seguinte à morte de Dona Ruth. Quando cheguei à redação, havia um telão enorme com a imagem dela. Sentei ali, abaixo daquela projeção, e senti como se fosse uma bênção, como se ela me dissesse: "Minha filha, vai, o caminho é teu. Foi muito simbólico".

P - Você completa quatro anos no "Fantástico" em novembro. Como avalia sua trajetória até aqui? 
MC - Acho que o programa reúne o melhor dos mundos: apresentação, que eu adoro, e reportagem, especialmente entrevistas, que amo fazer. Nesses anos, tive a chance de conversar com personalidades muito interessantes. Para mim, a entrevista é uma arte, uma descoberta.

P - No ano passado, você apresentou uma série na África. O que esse projeto trouxe para você como repórter?
MC - A ideia era olhar para o continente africano de uma forma menos estereotipada. Geralmente se fala apenas em pobreza e dificuldades, que existem, claro, mas há também avanços, crescimento e exemplos inspiradores. Quisemos mostrar isso, e acredito que conseguimos.

P - Existe a possibilidade de novas temporadas? 
MC - Sim, temos vontade de continuar. Além de voltar ao continente africano, pensamos em explorar a América Latina. É nosso continente e ainda pouco conhecido dos brasileiros. Gosto de ir para lugares que a mídia quase não mostra. Se não estão falando, eu quero ir ver o que tem. 

P - E na América Latina também há muitos caminhos negros, não? 
MC - Exatamente. Colômbia, Haiti, Jamaica... uma história riquíssima. Quero muito mergulhar nessas narrativas.

P - Esse olhar lembra muito o de Glória Maria, não? 
MC - Sem dúvida. Ela era uma desbravadora. Acho que todas nós, jornalistas, temos um pouco desse olhar curioso e explorador que Glória tinha: mostrar ao mundo que existe muito além do nosso próprio mundo.

P - Há alguma entrevista que você sonha em fazer? 
MC - Muitas! Uma que eu gostaria muito era com Nelson Mandela. Era um sonho meu. Mas também amo entrevistar pessoas comuns: taxistas, motoboys, domésticas. Gosto de ouvir suas histórias e contá-las. Eu gosto da conversa, da escuta. Gosto de gente.

P - Recentemente, o jornalismo da Globo passou por mudanças importantes, como a saída de William Bonner e a chegada de César Tralli. Como você enxerga esse momento? 
MC - Vejo como parte do ciclo natural do jornalismo. Bonner saiu porque merece mais tempo livre, foram 29 anos. O Tralli assumiu merecidamente. Eu penso assim: hoje estou apresentadora do 'Fantástico', mas amanhã não sei. É preciso estar preparada para estar despreparada. Sou muito feliz e realizada, mas não me apego. Se amanhã não estiver mais aqui gente não adoecer. Eu sou dessa caminhada. Estou aqui, vou fazer o meu melhor aqui. Deixo fluir. Como diz Zeca Pagodinho, "deixa a vida me levar".

P - Não teve nenhuma mudança no "Fantástico", certo? 
MC - Graças a Deus! 'Fantástico' firme e forte! (risos)