Adotar uma atitude vegetariana pode ir além dos impactos positivos para a saúde. Ela pode também ajudar a diminuir o ritmo de aquecimento do planeta. Após a temperatura média global atingir a inédita marca de 17,01°C no dia 3 de julho, o mais quente já registrado na história, a questão das emissões de dióxido de carbono na atmosfera voltou a entrar na pauta, exigindo medidas mais assertivas dos governos.  

Mas não é preciso ficar parado esperando uma decisão “de cima” para melhorar as condições climáticas e evitar que, no futuro, a Terra vire um caldeirão fervente. “A gente não pode ficar dependendo de mudanças políticas. Temos que tomar atitudes, dentro do ambiente de cada um”, observa o ativista ambiental César Pedrosa. Uma delas é justamente deixar de comer carne bovina – ou pelo menos diminuir a presença da iguaria em nosso prato.  

“A agenda do clima – é o que temos defendido amplamente – passa por uma agenda ética, que requer mudanças comportamentais nos planos institucional, corporativo e individual. Precisamos reduzir as emissões de dióxido de carbono e gases de efeito estufa, e cada um pode dar a sua contribuição”, assinala Rodrigo Perpétuo, secretário executivo, na América do Sul, da organização não governamental Governos Locais para a Sustentabilidade (Iclei).  

E a primeira dica, aparentemente a que não envolve grandes custos, é a diminuição de alimentos de proteína animal, em especial a bovina. “Se você come carne, está contribuindo para o aquecimento global. Isso porque estimula a pecuária extensiva e a fermentação entérica”, explica Perpétuo. Trocando em miúdos, quanto mais bois nos pastos, mais esses animais soltam gases intestinais – mais conhecidos como “pum”.  

Parece inusitado, mas a verdade é que o processo digestivo natural de ruminantes tem participado de 40% das emissões da agropecuária nas últimas duas décadas. Várias organizações têm batido nessa mesma tecla, além de incentivar a população a escolher alimentos não processados e orgânicos. “Optando por comprar gêneros alimentícios próximo à sua casa, você ajuda duplamente, evitando a produção industrial e o transporte dos produtos”.  

O transporte, aliás, envolve outro quesito importante para, individualmente, ajudar a diminuir a temperatura global. “Sempre que possível, devemos optar pela mobilidade ativa. Se vou a um local próximo de casa, não preciso usar o carro. Posso ir a pé ou de bicicleta. Se o carro for inevitável, podemos evitar duplicidades e dar carona a amigos e colegas (que vão para o mesmo destino). Priorizar o transporte público também é uma alternativa”, registra.  

Outra maneira de ajudar é em relação à destinação dos resíduos de casa. Separar o lixo entre o orgânico e o reciclável é fundamental, principalmente quando o sistema de coleta de lixo disponibiliza um serviço próprio para recolhimento de resíduos recicláveis. Em relação ao lixo orgânico, salienta Perpétuo, o morador pode fazer compostagem, transformando o material em adubo natural, que é um substituto do uso de produtos químicos, diminuindo também o volume de resíduos enviados para aterros.  

A forma de César Pedrosa, um cardiologista que virou ativista ambiental (@bora_plantar_bh), de atuar para o bem do planeta é plantando árvores. “Para fazer grandes mudanças na questão climática, são necessárias, antes, mudanças políticas e econômicas muito profundas no âmbito internacional. Enquanto isso não acontece, o que deve levar ainda muitos anos para ser implementado, fazemos o que está ao nosso alcance, aumentando a população vegetal”.  

Praticamente todos os dias, César planta uma árvore, produzindo mudas no jardim de sua janela e levando para ambientes públicos. “Antigamente fazia escondido, porque não tinha a autorização da prefeitura. Agora tenho contatos com pessoas das áreas executiva e legislativa e formei uma rede de apoio. A própria prefeitura oferece as mudas e incentiva a participação desses eventos. É algo trabalhoso, pois tem a perfuração do solo, o que exige um grande número de pessoas”.  

Sobre os tipos de árvores, Pedrosa afirma que não há muita receita. “Quanto maiores forem as árvores, maior é a captura de CO2, maior é o benefício. Só é preciso estar antenado com o local da plantação, se há fiação elétrica e pouco espaço para o crescimento da raiz. Em caso contrário, o melhor é usar plantas menores, como a quaresmeira e o ipê-tabaco. Em jardins pequenos, as frutíferas são a melhor opção”, ensina.  

Pedrosa cuida das árvores como se fossem filhas, acompanhando o crescimento delas até a fase adulta. “(Plantar) não é bom apenas para evitar o gás carbônico atmosférico. É bom para o nosso ambiente urbano. Tudo vai melhorar se cada um fizer a sua parte, por menor que seja”, destaca o cardiologista. “Uma pessoa já faz a diferença. Se todos seguirem esse hábito, o resultado agregado será muito significativo”, endossa Rodrigo Perpétuo.