Olavo Romano só vai interromper sua rotina tranquila em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde mora em uma casa com Cátia, sua companheira, Nicolas – “filho de sangue dela e meu filho de coração” –, três cachorros, sete pombas, alguns tucanos e muitas flores, por um motivo justo e especial. Mineiro de Morro do Ferro, distrito de Oliveira, o escritor é o homenageado da Bienal Mineira do Livro, que começa nesta sexta-feira (13), no estacionamento do BH Shopping, e desfila uma extensa programação até o dia 22 (detalhes no fim da matéria).

Durante dez dias, sempre às 19h30, Olavo estará no espaço “Prosa e Cantoria” para, como o próprio nome entrega, misturar música, literatura e bate-papo com os convidados Celso Adolfo, Chico Lobo, Carlos Farias, Saulo Laranjeira, Paulinho Pedra Azul, Rodrigo Delage, Tau Brasil, Tino Gomes, Wilson Dias, Celinha e Lu. “Eu inventei essa moda, esse espaço de confraternização, num gesto de retribuição à homenagem”, comenta o escritor, que avisa: chegará antes, na parte da tarde, para receber amigos, estudantes, professores e “quem quiser tomar um café e conversar”.

Presidente emérito da Academia Mineira de Letras, Olavo Romano também levará novidades à feira literária. Na bienal, ele vai lançar, pela Caravana Grupo Editorial, a reedição de seis livros, entre os quais “Casos de Minas”, “O Homem que Veio de Longe”, que o autor chama carinhosamente de “meu caçula”, “A Cidade Submersa”, “Os Mundos Daquele Tempo” e “Um Presente para Sempre”. “Estou muito feliz com esses lançamentos, é uma volta às raízes. Há um simbolismo também. O ‘Casos de Minas’, por exemplo, está completando 40 anos”, ele ressalta.

Olavo Romano foi anunciado como o homenageado da sexta edição da Bienal Mineira do Livro em 2020. O evento seria realizado em maio daquele ano, mas foi adiado em função da pandemia. Com o costumeiro bom humor, ele brinca: “Sou o homenageado da Bienal mais longevo, fiquei muito tempo com esse título”. A piada faz sentido: antes de voltar ao modelo presencial, o evento promoveu diversas atividades virtuais como uma tentativa de não deixar que a proposta de fomentar e democratizar a literatura fosse pelo ralo e caísse no esquecimento.  

Reencontro real

As ações online foram e são importantes, mas Olavo Romano não vê a hora de matar a saudade do bom e velho clima de evento literário. “É uma alegria imensa ser homenageado e ter a sorte do olho no olho, esse encontro que todo mundo precisava tanto”, diz.

Não à toa, o tema desta edição da Bienal Mineira do Livro é “O Reencontro é Real”. O momento que aproxima o autor do público e de outros escritores, os editores dos organizadores, foi muito esperado. O diretor da Bienal e diretor-presidente do Grupo Asas, responsável pelo evento em parceria com a Câmara Mineira do Livro, Marcus Ferreira, diz que a expectativa está materializada no mote da edição. “É um momento de reconexão muito especial para a cadeia da cultura e da literatura em Minas e no Brasil. Fizemos um esforço grande para entregar ao Estado sua maior iniciativa literária”, observa Ferreira.

Em 2022, a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, a Fundação Dom Cabral, a Academia Mineira de Letras, o Instituto Pró-Livro, o Instituto Fernando Sabino, a Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais e as secretarias de Educação de BH e de Minas vão participar das atividades.

Com ações formativas e culturais, o evento vai reunir editoras, centenas de autores, entre eles Carla Madeira, Leila Ferreira, Maria Esther Maciel, Leo Chalub, Ana Elisa Ribeiro, Augusto Massi e Paula Pimenta, e uma curadoria que pensou a programação espalhada por 11 eixos temáticos, que contemplam a literatura em diálogo com negócios, educação, gastronomia, audiovisual e turismo. A expectativa da organização é que 200 mil pessoas passem pelo espaço de 15.000 m² no BH Shopping.

Marcus Ferreira também destaca o caráter itinerante e permanente da Bienal Mineira do Livro em 2022. Após a passagem por BH, o evento vai realizar, nos próximos meses, edições presenciais em Bocaiuva, Curvelo, Santa Luzia e São Gotardo. “Serão cinco dias em cada cidade. Vamos compartilhar o conteúdo desenvolvido em Belo Horizonte com alunos e educadores em escolas”, explica.

Em outras 16 cidades mineiras, a Bienal vai desenvolver atividades virtuais: “Ninguém desconfia que a ferramenta mais barata de transformação social é o livro. Queremos contribuir para o desenvolvimento da capacidade crítica e do repertório cultural de cada leitor, além de conquistarmos mais leitores de diversas faixas etárias”.  

Representatividade

Uma das mesas da Bienal, no eixo Conexão Livro, lança olhar sobre a diversidade e a literatura LGBTQIA+ com o tema “A importância de mostrar meninas que amam meninas na literatura”. A convidada é a escritora baiana Elayne Baeta, autora de “Oxe, Baby”, seu primeiro livro de poesias com inspiração autobiográfica, e “O Amor Não É Óbvio”, primeiro romance jovem lésbico a entrar na lista de mais vendidos da revista “Veja”.

Os dois títulos saíram pela Editora Galera Record. Elayne, que também se dedica à carreira de roteirista e tem o programa de podcast Lésbica e Ansiosa, fará sessão de autógrafos neste domingo (15), às 14h, e o bate-papo será mediado por Laila Pimenta, do Clube Livro BH.

Segundo a soteropolitana, que chega à capital mineira pela primeira vez com a “Baby Tour”, é fundamental que eventos como a Bienal Mineira do Livro abordem pautas contemporâneas. “Isso diz muito de uma mudança coletiva. É muito especial e bonito que a minha palavra tenha saído da Bahia e esteja se espalhando por outros Estados. Quando a Bienal abre esse espaço, é de uma importância não só para mim, como escritora, mas para as mineiras que nunca se viram representadas em uma mesa de bienal, em livros, séries ou filmes”, pontua a escritora, de 24 anos, um dos fenômenos da literatura LGBTQIA+ brasileira.

Editor de O TEMPO promove livro sobre títulos do Atlético 

Frederico Jota, editor de esportes de O TEMPO e coordenador de Esportes da rádio Super 91,7 FM, marca presença na Bienal Mineira do Livro com “Vencer, Vencer, Vencer”, lançado em janeiro e que conta a trajetória do Atlético em 2021, quando o time conquistou o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. O encontro, nesta sexta (13), às 18h, terá mediação dos jornalistas Alexandre Simões e Chico Maia e será realizado no auditório Ouro Preto.

Para Fred Jota, colocar o futebol nas páginas de um livro é importante para mostrar que esporte e literatura podem andar sempre juntos. “É fundamental o registro da memória esportiva, e produzir um livro sobre um ano importante de uma entidade do tamanho do Atlético vale não só para os fãs ardorosos, como também para todos que amam o futebol”, comenta o jornalista.

De acordo com Jota, o propósito não é contar simplesmente a história dos títulos, mas mostrar toda a montagem do elenco e, também, as transformações pelas quais o time passou: “O ano atleticano teve percalços, que também são contados, até pelo fato de que as derrotas e a eliminação na Libertadores também serviram para fomentar o espírito de um time vencedor, que soube se reerguer após os reveses”.

Um plus do livro são as seções que trazem números, dados e curiosidades. “Decidi fazer um ‘almanaque’, com informações de público, média de gols, recordes batidos e marcas alcançadas pelo clube e pelos jogadores. Aqueles que quiserem conferir todos os dados, atleta por atleta, em todas as competições, vão curtir muito esse trecho da obra”, completa o autor.

Programe-se 

A Bienal Mineira do Livro será realizada entre os dias 13 e 22 de maio, das 10h às 22h, no estacionamento Ouro Preto do BH Shopping (BR–356, 3.049, bairro Belvedere). Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) e já podem ser adquiridos online pelo site do evento, no qual o público também pode acessar a programação completa.