O sinal de alerta vermelho na área da saúde inevitavelmente vem atingindo o seguimento cultural no país, uma vez que as medidas para conter o avanço do coronavírus exigem isolamento e restrição ao aglomeramento de pessoas. Dessa forma, artistas da área de artes cênicas vêm tendo seu trabalho afetado pelos cancelamentos de apresentações de espetáculos em várias cidades do país, incluindo a capital mineira e o interior de Minas Gerais.

Com o intuito de minimizar problemas emergenciais, o Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões de Minas Gerais (Sated/MG) tem mobilizado esforços para garantir o mínimo a esses profissionais neste momento de grandes restrições. A diretora da entidade, Magdalena Rodrigues, conta que estão sendo reunidas doações para viabilizar a compra de cestas básicas. A intenção é buscar suprir as necessidades imediatas dos trabalhadores das artes cênicas que vierem precisar dessa ajuda.  

“Acho que todo mundo tem consciência de que o trabalho dos artistas e o seu sustento advêm da venda do ingresso. Como a principal recomendação oficial é que as pessoas permaneçam em casa, não existe mais a possibilidade de se colocar um espetáculo para funcionar.  Então, nós que somos profissionais do entretenimento estamos nos sentindo contingenciados por esse infortúnio, não temos como vender nossos ingressos, sair pra rua pra fazer absolutamente nada, e, com isso, perdemos completamente a possibilidade de sustento”, alerta Magdalena.

“Por isso, nós propomos, em caráter de ação emergencial, a solicitação aos amigos, autoridades, ao público em geral, que contribuam para que consigamos ao menos negociar um bom número de cestas básicas para atravessarmos esse primeiro momento de necessidades, que, com certeza, vão surgir”, explica a diretora do Sated. 

Ela também informa que vem sendo estreitado diálogos com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo a fim de se obter um posicionamento oficial sobre a atual condição. “Nós sabemos muito da situação financeira do nosso Estado, que não é das melhores. Mas como nós temos muita gente precisando de apoio, nós queremos ver se há alguma saída para que possamos superar essas primeiras etapas”, pontua Magdalena.

Dentre os artistas, ela considera que os mais vulneráveis são aqueles que mantêm a tradicional arte circense. “Notadamente, os grupos de circo vendem os ingressos hoje para comer amanhã. Eles não têm outra fonte de sustento. Com a proibição de instalações de lonas de circo nas cidades, famílias inteiras se veem completamente sem caminho, sem ter para onde ir.  Então, se nós tivermos a oportunidade de reunir o recurso para distribuirmos cestas básicas ao menos para essas famílias já ficaríamos um pouco mais tranquilos”, reforça a diretora do Sated. Quem quiser colaborar com essa ação pode efetuar o depósito na Caixa Econômica Federal: conta: 500.801-5; agência: 0083; operação: 003.

Rômulo Duque, presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc), também reforça que os artistas circenses merecem atenção redobrada atualmente.  “Os trabalhos deles já são difíceis de viabilizar antes de tudo isso acontecer, imagina agora. Eles deverão ficar com a rotina muito comprometida”, comenta.

Na capital mineira, ele prevê que dificuldades para os realizadores poderão se projetar, principalmente, a partir do segundo semestre, tendo em vista que a 46ª edição da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança já foi realizada neste ano – portanto, antes de ser atingida pelos riscos da pandemia. Mas Duque pontua que diversos projetos podem ser inviabilizados de agora em diante.

“Nós temos algumas ações que estavam em fase de preparação, como a ideia de promover um festival de teatro infantil em julho. Estávamos também discutindo o retorno de temporadas nos teatros de BH. Mas se a situação não mudar tudo isso vai ser impactado”, afirma. “Essa crise do coronavírus provavelmente não vai terminar no final de julho, ela poderá se prolongar até quase o fim do ano e isso nos traz uma preocupação muito grande”, acrescenta Duque.  

Ele relata estar atento às iniciativas que vêm sendo movimentadas por entidades do Rio de Janeiro, como a Associação dos Produtores de Teatro (APTR), e de São Paulo, as quais têm recorrido ao poder público  – algo que ele não descarta como modelo para se desenvolver também em Belo Horizonte. “Mas nós estamos nos sentindo, de certa forma, 'acéfalos', sem muita informação sobre as decisões da Secretaria de Cultura”, critica Duque. 

A Secult sinaliza que ouvirá demandas da classe artística

De acordo com o secretário adjunto de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Bernardo Silviano Brandão Vianna, a pasta, inicialmente, ficou empenhada em buscar soluções para a situação dos servidores e dos equipamentos culturais. “Agora, vamos começar a fazer as reuniões com todos os seguimentos para vermos quais são as demandas e levarmos isso para o âmbito da Secretaria, do governo e do comitê extraordinário criado”, disse.

Sobre a viabilidade de algum aporte direto de recursos, tendo em vista o impacto na vida de artistas, como aqueles do circo, Vianna relata que a medida seria inviável neste momento. “Até tendo em vista a situação fiscal do Estado e do tamanho do orçamento da nossa Secretaria, não seria possível. Mas, com a evolução de toda essa situação, o que a Secult poderá fazer é uma interlocução em relação ao governo, ouvir essas demandas, entendê-las, para ver o que é possível fazer”, disse.

O secretário adjunto também explicou que há esforços em avaliar o que é possível fazer em relação a projetos e prazos da lei de incentivo estadual e dos editais mineiros. “A gente sabe da dificuldade que todo mundo está tendo, é algo coletivo, e a nossa superintendência de fomento está fazendo um levantamento do que é possível fazer para que consigamos nos flexibilizar e não haver um colapso”, explicou.