Para falar sobre memes é preciso recorrer ao biólogo e escritor britânico Richard Dawkins. Foi ele quem cunhou o termo “meme” em seu best-seller “O Gene Egoísta”, de 1976, que introduz o conceito publicamente. Para Dawkins, a ideia de meme é, assim como o gene é para a genéticia, uma ideia que é propagada e encontra lugar no cérebro das pessoas, que replicam essa mesma ideia e a multiplicam.
Ao tentar entender a relação entre mídia e memória, a professora, e pesquisadora do programa de pós-graduação em comunicação e práticas de consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Mônica Rebecca Ferrari Nunes dedicou sua tese de doutorado ao estudo dos memes. Isso foi em 1998, quando a internet só engatinhava no Brasil, o que mostra que relacionar o tema necessariamente à era digital é um equívoco.
“É interessante ter em mente que o fenômeno não ocorre apenas no digital. Quando uma música ou uma ideia fica na cabeça, é um meme”, diz a pesquisadora, que é autora de “A Memória na Mídia: A Evolução dos Memes de Afeto”, lançado em 2001.
Segundo Mônica, não há uma definição exata do que um meme deve ter para viralizar: “São características diversas, mas tendo a reforçar que um elemento importante é o emocional”.
Para a pesquisadora, um meme nasce quando tem poder de replicação e longevidade por algum tempo, por mais curto que seja – por exemplo, enquanto uma série ou novela estiverem sendo exibidas. Produções cinematográficas, aliás, são excelentes fontes de memes, diversas vezes atrelados ao humor. “O que impera são os memes com características engraçadas, de deboche, de sátira. Isso é uma tendência”, completa.
Remix. De acordo com o professor do programa de pós-graduação em estudos linguísticos da Faculdade de Letras da UFMG, Ronaldo Gomes Jr., meme também vem da ideia de mimetismo, “de copiar, de imitar”. Ele afirma que a viralização está muito ligada a três fatores: qualidade, simplicidade e publicidade. “A ideia deve ser boa e simples, quando algo é muito complicado não pega. E, por fim, quanto mais conhecida, mais conhecida ela fica”, destaca. Além disso, a influência social conta muito para o alastramento do meme.
Por fim, ele faz uma distinção. Segundo o professor, meme é uma ideia, um comportamento, um gesto. Ou até mesmo uma fake news. Já as imagens que compartilhamos, peças gráficas que podem conter frases adaptáveis, têm outro nome: “Linguisticamente, se tivéssemos que classificar, chamaríamos de remix”.
Deputado aposta em ‘Departameme’
O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) foi eleito no ano passado. Um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), que utiliza bastante os memes para dialogar com seus seguidores, Kataguiri adotou a ideia em Brasília e criou em seu gabinete o “Departameme”.
O parlamentar afirma que o objetivo é ter uma comunicação mais rápida com o eleitor. “Em uma curta visita às minhas páginas, ele consegue verificar rapidamente quais pautas estou defendendo no meu mandato e como tenho administrado os gastos do meu gabinete”, afirma.
Kataguiri aponta a fácil compreensão como um ponto favorável para a utilização dos memes no contato com o eleitorado. Sobre os comentários negativos que recebeu quando anunciou a medida, o deputado federal afirma que “a inovação é sempre acompanhada de críticas daqueles que se mantêm presos ao paradigma passado”. “Todavia, nos cabe analisar as críticas e separar aquelas que são realmente pertinentes”, finaliza o deputado. (BM)