“Na preocupação em fazer algo que seja condizente com o tamanho e a importância de pintar a maior empena do festival, eu não achei nada em minhas pesquisas e vivências que fosse mais grandioso do que a força de uma mãe preta!”, garante o artista Robinho Santana, que pintou uma área total de 1.892 m² da fachada do edifício Itamaraty, a maior obra de arte pública já criada no Circuito Urbano de Arte (Cura). Anteriormente, esse título pertencia à artista argentina Milu Correch e sua pintura de 1.792 m² na parede lateral da Garagem São José. Prédios vizinhos, Itamaraty e São José formam, agora, uma esquina icônica para a arte urbana com quase 4.000 m² de mural.

Artista visual, pesquisador e músico experimental, Santana, que veio de Diadema, em São Paulo, nunca havia sido posto diante de tamanho desafio. “Essa é a segunda empena que faço em minha carreira e a maior até o momento, é praticamente o dobro da primeira”, revela ele que, em seu trabalho, busca a representação plural e digna da mulher e do homem negros periféricos.

“Este trabalho é um ode a um ‘Levante Negro’, é um desejo de que outras pessoas oriundas de lugares periféricos como eu, também pintem as maiores empenas em festivais pelo mundo. Este trabalho, carrega diversos e diversos significados, mas eu, particularmente quero comentar sobre força, e tudo isso personificado na imagem de uma mãe segurando duas crianças, uma em cada braço. E eu, não conheço nada mais forte do que isso…”, reforça o muralista, que se desdobra em elogios à organização do Cura.

Santana lembra que o momento não tem sido fácil para os trabalhadores da cultura e das artes. Neste contexto, “poder sair da minha cidade e participar do maior festival de arte urbana do país, que dá visibilidade a muitas pessoas que são silenciadas e que entende a importância da diversidade, é sem dúvida nenhuma um enorme privilégio pra mim”, pontua.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Além de maior obra, etapa deste ano registrou recorde de audiência virtual

Ao término da quinta edição, a organização do Cura tem muito o que comemorar. Com experiências inéditas que ainda repercutem, o projeto foi assunto comum nas redes sociais desde 22 de setembro, dia em que foi dado o pontapé inicial desta etapa do circuito.

“A (equipe de) comunicação está muito feliz com o resultado. Este é o Cura que mais bombou nas redes! Ganhamos mais de 20 mil seguidores com a edição deste ano”, revela Juliana Flores, uma das idealizadoras e curadoras do festival. Ela destaca que, possivelmente, o estímulo para que as pessoas permaneçam em casa como medida de enfrentamento à pandemia da Covid-19 tenha reflexos nesses resultados.

Novidades desta etapa, as instalações urbanas foram abraçadas pela população e repercutiram para além das fronteiras nacionais. “A obra 'Entidades' (nos arcos do Viaduto Santa Tereza), do Jaider Esbell, um artista indígena, ganhou o mundo tamanho sucesso. Nas nossas redes vimos que certamente foi essa a ação mais fotografada do Cura 2020. São centenas de marcações por dia em nossas redes”, impressiona-se a produtora, que lembra também da ação 'Bandeiras na janela', realizada no edifício em que funcionava a antiga Escola de Engenharia da UFMG e que “contou com uma seleção de artistas incríveis e diversos, marcando um tom político muito necessário neste momento”, diz.

“Percebemos que a cidade acolheu e gostou (das instalações) tanto quanto dos grandes murais. A gente sabe que esta é uma frente que veio para ficar e esperamos surpreender o público mais uma vez em 2021”, assegura Juliana.

Todos artistas selecionados são afroindígenas

Sublinhando que todos os muralistas selecionados são afroindígenas, a curadora expõe ter ficado feliz com o resultado das pinturas não só pela beleza imponente, mas também “pela representatividade, pelo que cada obra transmite”. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Outra iniciativa inédita realizada neste ano foi a série de debates e aulões virtuais. “A experiência do 'Cura na Janela' (forma como a programação online foi chamada) foi super positiva. A gente teve apresentação da Giovanna Heliodoro, que se saiu muito bem. Notamos que a vantagem desse tipo de ação é a possibilidade de um alcance maior, mas não só: percebemos que os debates são acessados posteriormente e ficam disponíveis como conteúdo de pesquisa e consulta, o que é muito válido”, garante.

“Não poderíamos terminar essa edição mais felizes e realizadas. A gente recebeu muitos retornos de como essa edição trouxe um respiro para a cidade, trouxe uma nova energia diante do marasmo que a gente estava vivendo. Ainda bem que decidimos realizar essa edição e não adiar para 2021”, celebra Juliana.

Artistas e obras da edição 2020

Instalações. No Viaduto Santa Tereza permanece em exposição até o dia 22 a escultura inflável concebida pelo artista Jaider Esbell (Normandia/RR). Já no prédio número 842, na avenida do Contorno, que sediava a antiga Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão instaladas bandeiras produzidas pelos artistas Denilson Baniwa (Bercelos/AM), Randolpho Lamonier (Contagem/MG), Célia Xakriabá (São João das Missões/MG), Ventura Profana (Salvador/BA) e Cólera e Alegria (Brasil). 

Murais. Os artistas responsáveis por dar formas aos quatro murais que passam a integrar o mosaico de arte urbana promovido pelo Cura são: Diego Mouro (São Bernardo do Campo/SP), vencedor da seletiva online, Lídia Viber (Belo Horizonte/MG), Robinho Santana (Diadema/SP) e Daiara Tukano (São Paulo/SP). Os artistas realizaram intervenções nos edifícios Almeida, Cartacho, Itamaraty e Levy respectivamente.

Mirante. Todas as obras criadas na quinta edição do circuito, incluindo instalações e murais, podem ser vistas a partir do mirante da rua Sapucaí, no bairro Floresta.