MÚSICA

Daniela Mercury é uma das atrações do MECA (Inhotim), com início nesta sexta

Festival receberá ainda, até domingo, nomes como Adriano Calcanhotto, Rodrigo Amarante e Luedji Luna

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 04 de agosto de 2023 | 07:00
 
 
 
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Quem vê Anitta se enfronhando no mercado internacional, mal sabe que esse caminho foi aberto, há 25 anos, pela baiana Daniela Mercury. A cantora chegou segunda-feira de uma viagem a Portugal, onde tem público cativo e recordes de pop star, como o de ser a dona do álbum mais vendido na história do país – isso mesmo, acima de Michael Jackson, Madonna, Amália Rodrigues (maior diva do fado) e outros fenômenos musicais. 

“Uma em cada quatro famílias portuguesas tem o disco ‘Feijão com Arroz’”, salienta Daniela, ainda animada com a recepção dos patrícios de Penamacor, cidade tradicional da região central onde ela também comemorou os seus 58 anos de vida, no dia 28 de julho. O entusiasmo é o mesmo quando se  imagina num palco tão inusual quanto o museu Inhotim, em Brumadinho, onde será atração de amanhã no evento MECA. 

Com abertura hoje, o line-up conta também com Adriana Calcanhotto, Rodrigo Amarante, Luedji Luna, Lamparina, Tuyo e os argentinos do Las Ligas Menores, entre outros artistas, em uma programação de três dias, que terá ainda festas, projetos musicais, bate-papos e feira de produtores e designers. “Estou empolgada. Achei maravilhoso esse diálogo da música com as obras que estão ali”, destaca Daniela. 

Com trabalhos de nomes como Tunga, Cildo Meireles, Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica, Adriana Varejão e Lygia Pape em seu entorno, além da beleza geográfica do espaço, a cantora não pensou duas vezes antes de ligar para Jeane Terra – amiga e artista mineira que tem algumas de suas obras exibidas no telão do show – com um pedido especial: criar uma performance para homenagear Zé Celso Martinez Corrêa.  

A performance acontecerá durante a canção “Macunaíma”, presente no mais recente álbum da cantora, “Baiana”, lançado em dezembro, que traz uma parceria com o dramaturgo falecido no início do mês passado. “É sobre a natureza, sobre o centenário da Semana de 1922. O Zé fez um texto enorme, de sete páginas, criando uma deliciosa música para dançar, com versos interessantíssimos, em que mistura a soul music e o kuduro africano”.  

Daniela ressalta que a cenografia de seus shows busca sempre fazer uma interação com as artes visuais. Com a turnê de “Baiana” não foi diferente. Ela foi ao Rio de Janeiro conhecer a exposição de Jeane Terra, sobre cidades submersas pelas águas, enfocando as memórias dos moradores quando crianças. “No telão, ela junta as imagens das obras com fotos minhas, como se fossem minhas as histórias daqueles lugares”, assinala. 

Além de seus grandes sucessos, canções do álbum novo também constarão no repertório, como “Mulheres do Mundo”, “Bombinha”, “Carnavalesca” e “Caetano Filho do Tempo”, composta em homenagem ao conterrâneo Caetano Veloso. “É um álbum que tem muita política, muita mistura, como fusão de samba reggae e batidas eletrônicas... Isso é característico dos artistas profissionais baianos, que têm como base a cultura popular e a mistura com outros elementos, ganhando novos registros”, analisa. 

O segredo por trás do enorme sucesso de “O Canto da Cidade” foi justamente essa explosão de ritmos. A música está completando três décadas e foi fundamental na caminhada internacional de Daniela, incansavelmente tocada até hoje pela rainha do axé. A composição representou um grande desafio ao mesclar rock, samba reggae e MPB. “É um crossover mundial por sua sonoridade e estrutura. Ninguém fazia isso na época”.  

Ela pondera que um pensamento muito comum é resumir o axé a um gênero tropical. “E não é. Ele é muito mais do que isso. A Bahia tem essa capacidade de pegar músicas de tantos lugares diferentes, como América Latina, Caribe, África e América do Norte, e fazer algo tão rítmico e antropofágico. Temos uma diversidade que é impressionante. É o que faz o nosso Carnaval ser um evento pop”, registra Daniela. 

Tirando o longínquo exemplo de Cármen Miranda, foi ela quem abriu as portas do mercado internacional para as cantoras brasileiras. “Quem abriu as portas para Anitta fui eu. Quem mergulhou de cabeça fui eu. São mais de 40 anos de carreira, 30 anos de turnês. Depois veio a Ivete (Sangalo), que também conquistou um espaço fora. Vamos abrindo umas para as outras. A Anitta está recebendo um espaço de reconhecimento de várias gerações, conquistado por gente como Caetano, Gil e Chico Buarque, que tinham públicos menores, mas eram respeitados”. 

SERVIÇO 

O quê. MECA (Inhotim), com shows de Melly, Rodrigo Amarante, Adriana Calcanhotto, Lamparina e L’homme Statue (hoje), Tuyo, Las Ligas Menores, Luedji Luna, Daniela Mercury e Wealstarcks + FBC (amanhã), Ana Frango Elétrico, Alto da Maravilha (Russo Passapusso + Antonio Carlos & Jocafi) (domingo)

Onde. Inhotim (Rua B, 20, em Brumadinho) 

Quanto. Passaporte (para os três dias) - inteira: R$ 1.580 (R$ 790, a meia). Ingressos por dia - sexta: R$ 290 (meia) e R$ 580 (inteira); sábado: R$ 390 (meia) e R$ 780 (inteira); domingo: R$ 190 (meia) e R$ 380 (inteira).

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