Em 2010, banhado pela Praia da Estação, o Carnaval de rua de Belo Horizonte dava seus primeiros passos rumo ao ressurgimento. Na Casa Azul, residência coletiva e cultural no bairro Carlos Prates onde um grupo de artistas morava, músicos se reuniram para escrever a letra do que viria a ser o hino do bloco Então, Brilha!.

Da inspiração no poeta russo Maiakovski, que escreveu que “gente é para brilhar, e que tudo mais vá pro inferno”, nasceu a música que será entoada por milhares e milhares de pessoas na manhã deste sábado, quando o sol anunciar o surgir do dia: “No embalo dessa onda/ Axé que contagia/ Gente é pra brilhar/ Então brilha, brilha!”.

Um dos compositores é Gustavito, cofundador do bloco e que volta, em 2020, a desfilar com a turma depois de um hiato de dois anos. Uma década depois daquela reunião, o cantor e violonista comemora o resultado da iniciativa que transformou a cidade. Para ele, o Carnaval é momento de catarse.

“Para mim, se assemelha ao transe espiritual. As pessoas sentem o Carnaval como algo significativo porque conseguem ter instantes de êxtase, comunhão e plenitude”, afirma, sem deixar de lado o caráter contestador da festa: “O Carnaval é político no sentido dos corpos ocuparem os espaços, e é importante porque coloca em evidência as pautas políticas”.

Sobre o impasse entre os blocos e as forças de segurança, que barrou 15 dos 30 carros de som, Gustavito diz que as autoridades se incomodam com a manifestação das liberdades individuais, “sobretudo nessa onda conservadora que estamos vivendo”. O músico também sai às ruas neste domingo com o Pena de Pavão de Krishna, do qual também é um dos fundadores. 

Autoconhecimento. Para além da folia, Gustavito dá sequência a projetos autorais. Em março, ele lança o single e o clipe da canção “Lembrete”, de sua autoria em parceria com Luiz Gabriel Lopes e Chicó do Céu, e bastante conhecida no repertório do Graveola, mas que ele nunca havia gravado. Junto a isso, o músico inicia a campanha de financiamento coletivo para a gravação de seu terceiro álbum solo, que sucederá “Quilombo Oriental”, de 2015. 

Gustavito diz que inicia um novo ciclo “depois de muitas coisas acontecerem, muitas transformações comigo e com minha música”. Em março de 2017, o cantor e compositor foi acusado de má conduta sexual por uma mulher. Ao fim da história, ele foi julgado inocente e a jovem pediu desculpas públicas. Após as experiências nos últimos anos, o cantor, compositor e violonista segue seu processo de autoconhecimento e cura por meio da música: “Mesmo que haja muita dor, o que vejo é que há um grande aprendizado para as pessoas, acho que isso sintetiza tudo. Quero afirmar o que é bom, mesmo que o ruim esteja nos sufocando”.

Agenda. Além de integrar o cortejo do Então, Brilha! e do Pena de Pavão de Krishna no fim de semana, Gustavito fará uma participação no Carnaval de Curvelo, na terça-feira, no evento CarnAstral. No próximo sábado, em São Paulo, o músico marca presença no bloco Franciskryshna, que é inspirado no PPK. 

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