Drama da II Guerra

Escolha de atriz na Netflix é quase um conto de fadas da vida real

Acadêmica norte-americana cega que nunca havia atuado, Aria Mia Loberti estrela a superprodução 'Toda a Luz que Não Podemos Ver', que estreia na Netflix nesta quinta (2)

Por Isis Mota
Publicado em 02 de novembro de 2023 | 13:15
 
 
 
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Uma garota cega fazia performances em casa para a família quando era pequena, mas nunca se permitiu sonhar em ser atriz. Seguiu carreira acadêmica nos Estados Unidos. Formou-se em filosofia, comunicação e ciência política, e tinha acabado de terminar um programa de PhD na Inglaterra quando uma ex-professora mandou uma mensagem: a Netflix estava à procura de uma atriz com deficiência visual para o papel principal de "Toda a Luz que Não Podemos Ver", baseada no livro homônimo vencedor do Pulitzer escrito por Anthony Doerr. A minissérie estreia mundialmente na plataforma nesta quinta-feira (2).

"Eu já adorava o livro, então reli para me divertir e depois mandei um vídeo. Gravei no meu quarto. Vesti uma blusa da minha avó, arrumei o cabelo no estilo da década de 1940 e me diverti. Achei que ninguém daria bola", conta a hoje atriz Aria Mia Loberti, sobre como participou de uma seleção com milhares de concorrentes de vários países.

Ela já tinha até decorado o discurso que faria quando fosse dispensada. "Minha ideia era agradecer a todos e dizer que esse processo significou muito para a comunidade de pessoas cegas", lembra. "Mas o Shawn (Levy, diretor e produtor executivo da minissérie) disse: 'Às vezes, a vida tem momentos de grandes mudanças. Momentos em que uma pessoa muda e nunca mais volta a ser como era. E acho que hoje é um desses momentos para você'. Então, ele disse que eu tinha conseguido o papel”, revela Aria.

Esse conto de fadas do século XXI não podia ser mais apropriado à obra, que é uma ode à resistência e à esperança em meio aos horrores da guerra. Em seu papel de estreia na vida artística, Aria Mia Loberti é Marie-Laure LeBlanc, uma garota francesa que foge da Paris ocupada pelo nazismo com o pai, Daniel (Mark Ruffalo).

No Norte do país, encontram refúgio na casa do velho Etienne (Hugh Laurie), que fazia transmissões clandestinas de rádio para a Resistência. É com o rádio do tio-avô que Marie-Laure descobre não só o poder da esperança, mas uma espécie de alma gêmea: Werner, um jovem alemão ingênuo e pensativo que é retirado do orfanato para a linha de frente das forças nazistas exatamente para localizar a origem das transmissões clandestinas.

O ator que interpreta Werner é velho conhecido do público da Netflix: Louis Hofmann, o Jonas jovem de “Dark”, que superou cerca de mil candidatos ao papel. Mas a seleção da protagonista é que foi o maior desafio, a decisão mais importante do diretor e produtor executivo Shawn Levy (“Uma Noite no Museu”, “Deadpool 3”). É a primeira produção desse porte em que os personagens cegos são interpretados por atores cegos: Nell Sutton é Marie-Laure criança, e Aria é a dona da personagem já adolescente e dos corações de todos os envolvidos na produção.

“Sei que parece exagero, mas ela realmente é única. Nem dá para acreditar que conseguimos encontrá-la. Ou melhor, que ela nos encontrou”, derrete-se o produtor executivo Dan Levine. “Eu fico com inveja, porque levei 30 anos para fazer o que essa garota chegou lá e fez em duas semanas”, comenta Mark Ruffalo.

A descoberta da capacidade de se superar, de aprender um trabalho novo na frente de 200 pessoas sem nunca ter pisado num set de filmagens, e sabendo que seria assistida por milhões, mudou a vida de Aria Loberti. “Nós nos acostumamos a ouvir e aceitar as pessoas dizendo o que é possível e o que não é. Então, o mais importante para mim foi perceber que alguma outra garotinha que esteja fazendo performances para a família em casa, como eu fazia, agora vai saber que esse sonho é possível, sim”, resume Aria.

Saiba mais sobre a minissérie 'Toda a Luz que Não Podemos Ver' em pouco mais de três minutos, no podcast Topstreaming:

 

 

Refugiados ucranianos foram figurantes

Concebida como “um filme de quatro horas” pelo diretor e produtor executivo Shawn Levy, a minissérie “Toda a Luz que não Podemos Ver” tem a mesma equipe e os mesmos colaboradores artísticos de outras obras dele, que também é produtor principal de “Stranger Things”, da Netflix. “Para contar essa história como acho que ela merece, ela precisa ser cinemática em qualquer formato”, explica.

A reconstrução de partes da França e da Alemanha durante a II Guerra Mundial é precisa, a fotografia promete ser arrebatadora, e o tema permanece atual. “Filmamos cenas com centenas de figurantes interpretando cidadãos parisienses fugindo de um exército invasor. Esses figurantes eram refugiados ucranianos. É chocante como o passado continua se repetindo”, observa Levy.

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