FIT-BH

Espetáculo fala de forma direta da relação entre Portugal e suas colônias

Libertação parte de um desejo e de uma pesquisa de André Amalio

Por Gustavo Rocha
Publicado em 22 de setembro de 2018 | 14:38
 
 
 
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É corrente em Portugal a ideia de que diz que os brasileiros não falam português, mas sim uma língua própria, o brasileiro. Tal formulação pareceu ganhar contornos mais claros durante a primeira apresentação do espetáculo “Libertação”, no teatro Raul Belém Machado, pelo Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte.

A opção por pensar que falamos o mesmo idioma é evidente e óbvia, mas em um espetáculo de duas horas com forte característica narrativa, entender o que era dito pelos três atores em cena era fundamental, e isso, infelizmente, não foi de todo possível. Embora possa parecer ofensivo ou não muito amistoso, a produção do FIT-BH poderia ter pensado em colocar as legendas para que a compreensão fosse facilitada.

Falando do espetáculo, "Libertação" parte de um desejo e de uma pesquisa de André Amalio de falar sobre as relações de Portugal com suas colônias e o longo e doloroso processo de libertação destas. A peça foi construída a partir de depoimentos de pessoas diretamente envolvidas nos violentos processos de libertação colhidos pelo diretor. O recurso para levar tais depoimentos à cena é bastante básico, por vezes previsível, com os atores "encarnando" as vozes dos entrevistados por André. A encenação opta por uma evocação sutil dos personagens históricos, sem grandes movimentações ou cenas elaboradas. A opção por não trazer um conteúdo para além da realidade para a cena é compreensível, embora resulte em um espetáculo árido.

O teatro documentário, colocado em cena, tem como grande potência sua pesquisa histórica, que revela uma relação violenta de Portugal com suas colônias. Os melhores momentos da peça, inclusive, são quando os atores colocam suas histórias na dramaturgia de "Libertação" e refletem sobre os conteúdos levantados pela pesquisa. Também eles são fruto dessas relações portuguesas com Cabo Verde, Angola, Guiné Bissau e Moçambique. A autocrítica, como apontam os atores durante todo o espetáculo, é uma ferramenta importante para falar sobre datas históricas que não são lembradas, tampouco celebradas, em Portugal. 

"Libertação" é um espetáculo importante para conhecer uma outra faceta de nossos colonizadores, que costumeiramente não estão nos livros de história dos estudantes brasileiros. Somente por isso, já é válido estar presente na sua última apresentação neste sábado (22), às 17h. Mas se prepare para as longas cenas narrativas e para as diversas histórias violentas reveladas em duas horas de peça. 
 

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