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'Estamos vivendo o que semeamos', diz Fabio Assunção sobre a pandemia
Em quarentena total, ator tem usado as redes sociais para aliviar as tensões dos dias reclusos e diz que precisamos nos repensar como sociedade
Desde que nossos dias foram absoluta e bruscamente transformados pela pandemia da Covid-19, Fabio Assunção tem seguido à risca sua quarentena no Rio de Janeiro, onde vive. Para aliviar as tensões da rotina enclausurada, o ator tem usado bastante as redes sociais. Em vídeos, ele aparece falando sobre questões existenciais, recitando poemas e tocando violão, paixão que cultiva desde a adolescência, quando fazia aula de canto e chegou a formar uma banda, a Delta T. Outra atividade a qual tem se dedicado é a escrita de textos próprios, mas essa produção ainda não foi revelada ao público.
A necessidade do isolamento afetou a carreira do ator e acabou por interromper as gravações da série “Fim”, baseada em livro homônimo de Fernanda Torres, em que faz par romântico com Marjorie Estiano. A produção ainda tem no elenco Bruno Mazzeo, Alessandra Negrini, Thelmo Fernandes e Zezé Motta, e a própria Fernanda assina o roteiro. Adaptando-se às restrições e impossibilidades, Fabio tem tentado se manter produtivo. “Estou trabalhando meu espírito e mantendo meus exercícios físicos. E fazendo muitas videoconferências com meus amigos e filhos”, diz o pai de João e Ella Felipa em entrevista ao Magazine.
A quarentena impactou profundamente a área cultural. Sabe-se lá quando as pessoas se sentirão à vontade para voltar a frequentar shows, teatros, cinemas, espetáculos… Em meio ao clima de incerteza, Fabio Assunção vê as consequências da ação do ser humano nessa crise humanitária, social, política e econômica. “Estamos vivendo o que semeamos. Tudo já foi afetado. Que a futura produção cultural venha com um novo olhar crítico sobre o futuro e o que estamos deixando para atrás”, reflete.
Questionado se está otimista quanto a uma nova atitude das pessoas num futuro no curto e no médio prazo, Fabio pondera: “Sim e não. Há de se colocar o mercado a serviço do ser humano e não o contrário. Coisificar as pessoas é uma toxina do neoliberalismo e isso deve mudar”. Segundo o ator, “é importante valorizar os profissionais que estão ajudando o planeta neste momento como os jornalistas, médicos, lixeiros, enfermeiros, entre outros e outras”.
Enquanto o noticiário é praticamente uma crônica dos dias tomados pelo novo coronavírus, Fabio Assunção pode ser visto na reprise do sucesso “Totalmente Demais” (2015), folhetim global das 19h que substituiu “Salve-se Quem Puder”, interrompida pela pandemia, como o dono de uma agência de modelos que se apaixona por Elisa (Marina Ruy Barbosa) ao mesmo tempo em que vive uma história com Carolina, personagem de Juliana Paes.
“Vejo, sim, meus trabalhos e especialmente ‘Totalmente Demais’ assisti quase inteira. A novela fabular é divertida e romântica. E tem também um cunho social em alguns núcleos. Como tínhamos um público jovem, acho esse lado importante enquanto valor educativo”, afirma.
Carreira
Em 2020, o ator comemora três décadas de sua estreia nas novelas. Aos 19 anos, ele foi Marco Antônio Venturini em “Meu Bem, Meu Mal”, um jovem herdeiro de uma empresa de design que se vê envolto nas intrigas da família, especialmente em uma relação turbulenta com a mãe. De lá pra cá, Fabio Assunção fez cinema, teatro e TV e também experimentou o lado por trás das câmeras, quando atuou como diretor, sendo indicado, em 2015, ao tradicional e prestigioso Troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo espetáculo “Dias de Vinhos e Rosas”. Três anos depois, ele levou o prêmio, dessa vez como ator, pela elogiada caracterização de Ramiro, o juiz inescrupuloso de “Onde Nascem Os Fortes”.
“Todos os trabalhos que fiz foram escolhidos com critério, e me orgulho deles”, destaca o ator. Sobre sua trajetória e se tem predileção por alguma área de atuação, ele diz que se sente muito confortável no teatro, “onde podemos saborear mais o tempo e trocar com a plateia”, mas também pondera que “isso não quer dizer que não se consiga isso na TV e no cinema também”.
Postura política
Outro assunto que vez ou outra permeia os comentários de Fabio Assunção nas redes sociais é a política. Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2017, o ator apoiou Fernando Haddad na campanha presidencial de 2018 e nunca escondeu suas críticas a Jair Bolsonaro. Ele diz que a sociedade precisa de uma mudança estrutural urgente e o fato de ser uma figura pública não torna seus posicionamentos uma obrigação. “Luto como cidadão, como qualquer pessoa que tem um olhar para o todo, com solidariedade e humanidade. Penso no hoje e no que podemos fazer para seguirmos melhores”, comenta.
Quando perguntado sobre a avaliação que faz do governo Bolsonaro e da atuação de Regina Duarte na pasta da cultura, ele é enfático: “Não temos um governo nem uma política cultural”.
Ator vive temporda produtiva
Antes da pandemia, Fabio Assunção gravou duas séries para a Globoplay, uma delas já está disponível no cardápio da plataforma. O ator faz uma participação em “Todas As Mulheres do Mundo”, lançada recentemente e protagonizada por Emilio Dantas, que vive o mulherengo Paulo. No episódio 7, Fabio interpreta Rui, dono do escritório de arquitetura onde Paulo trabalha. Em outra produção, “Onde Está Meu Coração”, ainda sem data de estreia, o ator é o protagonista, ao lado de Letícia Colin e Mariana Lima, da série. Eles vivem uma família que tem de lidar com o vício da filha médica em crack.
Quando foi convidado, o ator aceitou o papel no ato. Para Fabio, que tem um histórico de luta contra a dependência de drogas, confrontar o tema, em vez de jogá-lo para debaixo do tapete, é fundamental: “Tabus e moralismos não constroem nada. Herdamos isso de um passado hipócrita. A verdade é o único caminho de acolhimento e crescimento. É nesse barco que estou”.
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