Estudo indica benefícios do namoro de mulheres com homens mais jovens que elas

Apesar de o assunto ainda ganhar destaque na mídia, mulheres que têm como parceiros homens mais novos vêm deixando de ser um tabu. Essas relações, antes mais reservadas, como se temessem a repercussão na sociedade, estão sendo assumidas sem culpa, muitas vezes como um sinal de empoderamento.

Ivete Sangalo, que é casada com um nutricionista de 38 anos, 13 anos a menos do que ela, deu uma prova desse novo momento durante uma edição de seu programa dominical “Pipoca da Ivete”, no ano passado. Ao questionar o ator e cantor Nicolas Prattes sobre se teria ciúmes de ver a mãe dele com um parceiro mais novo, ela falou de sua própria relação. 

“Se espelha na mamãe. Mamãe está pendurada naquele bonitão dela. Daniel é 13 anos mais novo do que eu. O que eu fiz? Estava disponível, para usar um pouco da minha experiência e ensinar um pouquinho para ele”, afirmou.

Carregada de leveza e bom humor, a verdade é que a dica da cantora encontra respaldo em uma pesquisa realizada pela doutora em antropologia social e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mirian Goldenberg, autora do livro “Por que os Homens Preferem as Mulheres Mais Velhas” (Grupo Editorial Record, 2017). 

Para a publicação, a estudiosa entrevistou 52 casais em casamentos de mais de dez anos, em que os homens eram no mínimo dez anos mais novos do que suas mulheres. A conclusão foi que esse tipo de casamento é o mais equilibrado, satisfatório e feliz, quando comparado aos demais relacionamentos.

“Em todos os países em que pesquisei, existe preconceito quando a mulher é mais velha do que o homem. Aqui, no Brasil, é mais aceitável que o homem se case com a mulher mais nova, sem preconceitos e sem estigma. Na Alemanha, por exemplo, é mais comum que os casais tenham idades semelhantes”, analisa. 

Ela acredita que o preconceito é maior no Brasil porque existe uma lógica de dominação masculina. “Os homens podem ser mais altos, mais ricos, mais poderosos e mais velhos. Eles devem ser superiores. Já a mulher é consequentemente inferior, seja na cultura, no sucesso, no prestígio, no dinheiro ou na idade”, indica Mirian em uma entrevista a O TEMPO.

Ela faz um alerta sobre a importância de se questionar sobre os motivos que levam a maioria dos homens a continuar preferindo se casar com mulheres mais jovens e o que leva as brasileiras a aceitar e fortalecer o tabu da idade.

Sobre as vantagens percebidas por mulheres que se relacionam com homens mais jovens, Mirian detalha que, na maioria dos casos, ocorre de elas já terem passado por outros relacionamentos e terem filhos. “Elas aprenderam a valorizar muitas questões que antes não valorizavam, principalmente o companheirismo, a reciprocidade e a confiança. Elas se sentem muito mais seguras e próximas a seus parceiros do que em relacionamentos anteriores. Geralmente, esses relacionamentos são mais equilibrados”, destaca.

Já os homens que preferem mulheres mais velhas apontam como aspectos positivos na relação o cuidado diário, o carinho e a compreensão que a mulher tem. “Eles falam que são relacionamentos mais leves, mas, ao mesmo tempo, mais maduros. A desvantagem desses relacionamentos ainda é o preconceito”, pontua. 

A sexóloga Isabela Aguiar Isabela concorda que essa diferença de idades pode ser positiva para os dois lados. Atendendo sobretudo ao público feminino, ela assinala ter percebido que, quando inseridas nessa dinâmica, essas mulheres tendem a se cuidar mais – inclusive fisicamente. “É como se a relação fosse um estímulo a mais para o autocuidado”, cita. No caso dos homens engajados nesse tipo de relacionamento, Isabela defende que tal vínculo pode ser positivo, uma vez que a experiência de uma das partes pode tornar a dinâmica mais harmoniosa. “Mas, muito mais do que a diferença de idade, interessa, na verdade, a conexão do casal”, crava.

Obstáculos

Contudo, a mesma bagagem que pode, em alguns casos, gerar benefícios para a vida a dois pode, em outros, ser um empecilho. É o que indica a sexóloga Carla Cecarello, dos sites de encontro casual C-date e Solteiros50. Ela indica que três fatores são mais comumente relatados como obstáculos para que essas relações sejam bem-sucedidas, sendo um deles justamente os traumas associados a enlaces amorosos anteriores. O segundo está ligado ao preconceito etário – quando a pessoa se julga ou é julgada velha demais para certas atividades, seja para desempenhar um trabalho ou para se relacionar com determinada pessoa. Por fim, o ciúme e a resistência dos filhos em aceitar aquele romance podem configurar um empecilho adicional àquela história.

“Esses são elementos que podem funcionar como uma barreira, impedindo que a pessoa se entregue efetivamente ao outro, ou sendo um gerador de conflitos, já que mitos e crenças limitadores podem ser transpostos para a relação, o que vai gerar conflitos e desentendimentos”, aponta.