Diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG de 2013 até agosto do ano passado, o professor do departamento do Instituto de Geociências Antônio Gilberto Costa acusou a universidade de negligência em relação à situação da instituição, localizada no bairro Horto, que foi atingida por um incêndio na manhã desta segunda-feira (15).
Segundo ele, o local tinha problemas de manutenção e a direção da universidade estava ciente deles. Os prejuízos financeiros e as perdas do acervo ainda não foram avaliados, mas três salas da reserva técnica do museu foram atingidas. Segundo a administração, no local ficavam guardados peças do conjunto que não estavam em exposição.
“Existe a especulação que possa ter ocorrido curto-circuito, problemas na rede elétrica. Lá (dentro de uma das salas incendiadas) chovia mais dentro do prédio do que fora. Durante várias exposições, não podíamos ligar a rede elétrica por conta do risco de curtos. Nós alertamos a universidade sobre esses problemas, não foi por falta de aviso (que o incêndio aconteceu)”, afirmou.
Segundo o professor, a unidade não possuía um plano para situações emergenciais. “Quando saí da administração, em agosto do ano passado, deixei recursos, cereca de R$ 600 mil, para a recuperação dos telhados, que eu sei que não foi realizada. Esse plano para situações de emergência foi aprovado internamente dentro do conselho do museu, mas não foi aprovado pela reitoria da UFMG. O que estava aqui não é algo que se compra em uma loja da esquina. É uma tristeza imensa, porque vemos todos dias museus com problemas e ninguém faz nada. Que justiça é essa? O sentimento é de impotência”, lamentou Costa.
Procurada, a UFMG ainda não se manifestou sobre as acusações do professor. Segundo o Corpo de Bombeiros, o Museu de História Natural e Jardim Botânico não possuía Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O local já havia sido fiscalizado e notificado no final de 2018.
Mais cedo a diretora do museu, Mariana Lacerda, informou que o local contava com os equipamentos necessários de segurança. “O museu tem detecção de fumaça, tem todos os mecanismos necessários. A fiação do prédio é nova, foi feita em 2013. O fogo atingiu uma área que nos preocupa muito”.
Famoso por guardar um dos grandes tesouros da arte popular mineira, o Presépio do Pipiripau, o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG possui um acervo com peças de grande valor científico e histórico.
O museu guarda um conjunto formado por aproximadamente 265.664 itens contextualizados nas áreas da Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Botânica, Zoologia, Cartografia Histórica, Etnografia e Arte Popular. O conjunto tem ainda uma biblioteca com 3.750 livros e 19.134 números de periódicos, assim como um expressivo conjunto de fotos e de documentos.
Segundo o antigo diretor, dentro dos espaços incendiados havia a rara coleção arqueologia do pesquisador inglês Harold Walter, que reunia ossos e fragmentos do famoso Homem de Lagoa. “O acervo que se perdeu era único, lá estavam não só a história de Minas, mas a história da evolução do homem. Tinham todo o acervo da coleção de insetos, borboletas, a parte de zoologia. Tinha também uma coleção fantástica de cerâmica, com peças inéditas do Jequitinhonha. Essa catástrofe só completa o que aconteceu no Museu Nacional do Rio de Janeiro”, completa.