A história da Estrada de Ferro Baiminas (Bahia e Minas), que ligava Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, até Caravelas (distrito de Ponta de Areia), na Bahia, é tema do documentário longa-metragem “Estrada Natural”, dirigido pelo jornalista Emerson Penha. A ferrovia era praticamente a única ligação entre os municípios do Vale do Jequitinhonha, carregava pessoas, mercadorias e tudo o que era comercializado entre as cidades – produção agrícola, artesanatos e comércio em geral.
Nesta terça-feira (25), às 19h, “Estrada Natural” estreia em Belo Horizonte com exibição no Cine Santa Tereza (rua Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza), seguida de uma sessão comentada. A entrada é aberta ao público e gratuita.
Quando a estrada fechou, em 1966, sem nenhum planejamento ou aviso prévio (como parte de um programa de desenvolvimento do governo militar da época), as pessoas ficaram praticamente sem meio de transporte e o desenvolvimento das cidades foi prejudicado. Municípios perderam população, que migrou para Belo Horizonte e até outros locais do Sul e Sudeste do Brasil, e até cinemas locais fecharam. As perdas culturais, econômicas e emocionais foram irreparáveis.
“Esse é um longa-metragem sobre o início, o auge e a decadência das ferrovias no Brasil. O filme fala, principalmente, da paixão dos mineiros pelo trem-de-ferro. Representava o sonho daqueles mineiros de ver o mar, mas foi destruída em 1966 – fechada, teve os trilhos arrancados e os funcionários foram transferidos para outros lugares compulsoriamente semanas depois”, observa Emerson Penha.
A história Estrada de Ferro Baiminas deu origem à música “Ponta de Areia”, de Fernando Brant e Milton Nascimento. Ao fazer uma reportagem sobre a Baiminas como repórter da Revista Cruzeiro, Brant soube da história do arrancamento dos trilhos e se emocionou. Por isso, ele resolveu fazer a letra de “Ponta de Areia”, em homenagem à Baiminas, e pediu a Milton Nascimento para fazer a música. Bituca, Brant e Adélia Prado dão seus depoimentos sobre a história ao longo do filme, sendo talvez a última entrevista de Fernando Brant, morto em 2015.
O filme também contém depoimentos de pessoas que viveram nas cidades atendidas por essa ferrovia e até de pessoas que trabalharam nela (maquinistas), que foram encontrados pela produção do filme para contar essa história de vida e morte daquele trem de ferro.
“A marca cultural deixada pela ferrovia, as transformações sociais que se anunciavam e foram abandonadas repentinamente e os sinais indeléveis da estrada, mais de meio século depois de sua erradicação, são tema de reflexão que o documentário traz à tona”, ressalta Emerson Penha.