Salvador, Bahia - Se em Minas Gerais a reunião em torno da mesa como forma de compartilhar comida e afeto é um dos nossos principais simbolismos, na Bahia não é diferente.
 
Por aqui, o mês de setembro inteiro é marcado justamente pelo sentimento de reunião e celebração por causa do caruru, uma comida feita principalmente com quiabo cortado, camarão seco, azeite de dendê entre outros temperos, e que é oferecido para homenagear diversos santos e santas tanto dentro da religião católica e dos orixás no candomblé e na umbanda.
 
O caruru é um alimento repleto de significados e ancestralidade e, nesta quarta-feira (27), dia em que é celebrado Cosme e Damião - santos gêmeos médicos na Igreja Católica, reconhecidos por cuidar das crianças - ele é oferecido na Bahia para a garotada em forma de agradecimento e de novos pedidos.
 
Em alguns lugares do Brasil, são distribuídos doces para as crianças em homenagem à Cosme e Damião. Já nas religiões de matrizes africanas, o caruru é servido para todo mundo.
Durante toda sexta-feira de setembro, o chef soteropolitano Fabrício Lemos serve em um de seus restaurantes, o Orí, que fica em Salvador, o caruru. A receita é feita com peixe, banana-da-terra, ovo, camarões, pipoca, feijão fradinho, abará, vatapá e farofa de Dendê. O prato acabou sendo incorporado à culinária brasileira, como explica o próprio chef. 
 
“O caruru faz parte da minha infância, e todo dia 27 a gente oferece, como uma festa, e pagamento de promessa. E o caruru representa bastante a nossa comida, porque cada ingrediente acaba representando um Orixá. A nossa gastronomia baiana vem da herança africana, então é a nossa identidade", contou Fabrício. 
 
Especialmente neste dia em homenagem ao Dia de Cosme e Damião, o chef e a sua família, assim como várias outras aqui na Bahia, preparam o caruru festivo e o oferecem como um grande banquete com o intuito de partilhar, sendo um pedido de saúde, prosperidade e fartura. 
 
A receita é feita com quiabos bem cortadinhos e diz a tradição que, quem encontra no prato um quiabo inteiro, deve oferecer um caruru no próximo ano. “Minha receita eu sigo do jeito que minha mãe me ensinou, com um tempero básico: camarão seco, castanha, amendoim, cebola, coentro… bate tudo isso é essa pasta é o nosso tempero básico. Sigo a tradição e à risca do que eu aprendi com a minha mãe”, explicou o chef. 
 
Dar um caruru de presente para muitos é atrair alegria e renovação. Então, se alguém te convidar para comer - aliás, o correto se diz “bater um caruru”-, saiba que essa pessoa está te desejando que esta felicidade permaneça em você o resto do ano.
 
*A repórter viajou a convite do Grupo Origem