Iara é como uma sereia, mas, em vez do mar, ela reina nas águas doces, e, reza a lenda, sua origem é brasileira. Essa história, que transporta o público para os cenários e mistérios das florestas da Amazônia, será contada pela Cia. Lumiato, na peça “Iara – O Encanto das Águas”, a ser apresentada amanhã e domingo na Funarte. O brasileiro Thiago Bresani, criador do espetáculo junto com a argentina Soledad Garcia, relata que o espetáculo já é um clássico do grupo e foi encenada pela primeira vez em 2014.

“Esse é também nosso primeiro trabalho que foi inteiro concebido a partir da linguagem de sombras. A companhia foi formada em 2008 em Buenos Aires. Nós trabalhávamos apenas com teatro de bonecos, mas, em 2012, a partir de uma parceria com Alexandre Fávero da Cia. Teatro Lumbra, de Porto Alegre, nós começamos a explorar mais a encenação com sombras. Alexandre é um especialista, que realiza esse tipo de trabalho há mais de 20 anos”, conta Bresani.

Dessa forma, Iara nasceu do encontro com Fávero, que foi o responsável também por dar forma à dramaturgia da peça. A ideia de criar essa encenação foi de Soledad, que propôs uma imersão nas lendas brasileiras. 

“Nós vimos a possibilidade de contarmos essa história e propusemos criar uma dramaturgia nova. Nós não queríamos trabalhar com essa lenda repetindo algumas visões meio romantizadas que conhecemos. Sempre em agosto, geralmente, as escolas trabalham com esse mito, mas é curioso o modo como eles apresentam a figura de Iara como sendo uma sereia grega”, pontua Bresani.

“Eu acho que isso tem muito a ver com a influência dos portugueses, eles transformaram essas histórias, e nós quisemos nos afastar um pouco dessa perspectiva”, completa o artista. 
Ele explica que, para criar o universo fantástico em torno dessa figura mítica, o grupo utiliza uma diversidade de recursos, entre imagens e sons. 

“O teatro de sombras engloba vários aspectos, como elementos de artes visuais e trilha sonora, que é uma parte muito significativa da peça. Ela ajuda a narrar, e eu faço questão de trabalhar a temática da Iara por meio do teatro de sombras porque é uma maneira de nos voltarmos para o repertório das lendas brasileiras”, pontua.
“Acho que hoje em dia nós vemos muitas montagens a partir de textos que tratam de um repertório estrangeiro, e as nossas histórias ficam um pouco desvalorizadas. O trabalho vai na contramão disso. E a característica cinematográfica do teatro de sombras pode estimular o interesse para esse universo”, diz Bresani. 

Serviço. Espetáculo “Iara – O Encanto das Águas” da Cia. Lumiato, amanhã e domingo, às 16h, na Funarte MG (rua Januária, 68, Centro). Ingressos: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia).