Ligia Amadio toca piano desde criança e aprendeu um pouco de sax e violão na faculdade, mas seu principal instrumento é a orquestra. Primeira mulher a ser regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), ela enxerga naquele conjunto de músicos um instrumento gigante. E sua principal função como maestrina é “tocar o coração dos músicos”.
“Se essa é a receita para ser um boa regente? Acho que sim. Nós devemos inspirá-los, prepará-los”, registra Ligia, que fará nesta quarta (8) o seu primeiro concerto de gala à frente da OSMG, justamente no Dia Internacional da Mulher. Feliz por ser a pioneira, dentro de uma história de 46 anos, ela espera estar dando o primeiro passo, abrindo as portas para que venham outras.
Ela confessa que nunca se preocupou em estar num mundo tão masculino. “Não tinha muita consciência. Entrei de cabeça nele porque amava música. Queria estar dentro dos teatros, não importando qual seria a minha função. E fui aproveitando as oportunidades que tive”, ressalta Ligia, que, antes da OSMG, estava à frente da Filarmônica de Montevidéu, do Uruguai.
Na verdade, ela descobriu esse dom meio por acaso, quando estudava engenharia mecânica de produção na USP. “Eu participava de um coral na universidade, na hora do almoço. Os maestros aproveitavam o fato de eu saber piano para ensaiar os grupos. Logo descobri que eu tinha talento para a regência e decidi que seria um músico profissional”.
A primeira vez com a batuta foi em Brasília, durante os cursos de verão de regência. “Esses cursos eram famosos. O Brasil foi pioneiro em criar um festival de música para estudantes”, destaca. Mais tarde seria regente e diretora artística de orquestras de Bogotá, na Colômbia, Mendoza e Cuyo, na Argentina, além da Orquestra Sinfônica Nacional e da Sinfônica de Campinas.
Ela também já regeu, como convidada, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que acabou servindo como um grande teste para assumir o posto como titular. E foram os próprios músicos que tiveram a chance de propor o nome da maestrina. Certamente pesou nessa escolha o bom humor e a energia de Ligia Amadio durante as apresentações.
“Gosto de brincar com eles. A atividade de músico é estressante e difícil. Eles não podem se equivocar. Se não tornar isso mais ameno, ninguém aguenta. E também é muito importante incentivá-los e elogiá-los”, observa. Sobre suas vibrantes performances, ela prefere não comentar. “Coloco muito amor no que faço. Se isso gera uma vibração, você é que terá que me dizer”, delibera.
Para marcar a estreia à frente da OSMG, o repertório será especial, com obras de grandes compositoras pioneiras na história da música, como Chiquinha Gonzaga, Dinorá de Carvalho e Amy Beach, além de um solo de piano realizado pela convidada Linda Bustani, que interpreta “Rapsódia sobre um Tema de Paganini”, de Sergei Rachmaninoff.
Chiquinha Gonzaga foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, embora não tenha sido como titular. Mineira de Uberaba, Dinorá de Carvalho carrega outro pioneirismo, como primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Música. Já a americana Amy Beach é autora da primeira sinfonia composta por uma mulher nas Américas, com a composição “Gaelica”.
SERVIÇO
Quando. Quarta-feira, às 20h
Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro)
Quanto. R$ 20 (R$ 10, a meia-entrada) na Plateia I, R$ 15 (R$ 7,50) na Plateia II, e R$ 10 (R$ 5) na Plateia Superior