Lançamento

Livro aborda a velhice em uma casa de repouso

Lançado pela editora Maralto, Jasmins, da jornalista Claudia Nina, já está disponível nas livrarias

Por Patrícia Cassese
Publicado em 31 de outubro de 2022 | 17:22
 
 
 
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O tema da terceira idade abordado em um livro que tem como cenário principal uma casa de repouso administrada por pretensos filantropos, mas que, na verdade, nem sempre se mostram assim, tão sensíveis ao que na prática acontece ali, no dia a dia. Este é, de forma sintética, o norte do livro "Jasmins" (176 páginas, R$ 44,90), de Claudia Nina, que aportou recentemente nas prateleiras das livrarias, com a chancela da editora Maralto.

Em entrevista ao Magazine, a escritora comentou que bateu o martelo pelo tema de modo orgânico. "Na verdade, o tema dos livros que escrevo surgem a partir de vivências ou de observações que se fazem presentes em minha vida. Desta vez, por uma circunstância, me deparei com essa realidade (a de pessoas idosas)", situa. 

No momento exato em que, por um acaso da vida, se flagrou observando um grupo de idosos em uma clínica, Claudia Nina, claro, ainda não sabia que seria aquele o tema sobre o qual se debruçaria a seguir. "Em geral é assim. Eu nunca tenho essa percepção no momento", assume, acrescentando que a ideia de romancear desponta só depois, "com o filtro do tempo", que é que lhe diz se terá ou não uma boa história em mãos. "Se eu for viver ou observar uma situação já com os olhos imersos no ficcional, não fruiria as situações plenamente. E, aí, o resultado ficaria artificial", pondera ela. No caso, na verdade Claudia só teve a certeza de que iria mergulhar no tema após alguns anos. "'Jasmins' demorou uns 6 ou 7 anos para ficar pronto. Em geral é assim", reconhece ela.

A personagem principal do livro, Yasmin, é uma jovem que passa a cuidar de uma mulher chamada Wanda, que vive em uma casa de repouso em uma cidade interiorana, Hervália. A escrita aborda temas como a falta de interesse e abandono a que a terceira idade está relegada no país, com reverberações inclusive na vida dos profissionais que abraçam a missão de atender os idosos. Sem saber por quem foi contratada, Yasmin acaba se mudando para a cidade, onde, de pronto, passa a sentir até mesmo um certo asco, não só pelo local, como pela  mulher. E se vê sufocada por uma vida triste, arrastada e sem sentido. Ao longo da história, no entanto, essa relação de distanciamento se transforma.

Claudia reconhece que a velhice ainda é é um tema incômodo para muitas famílias. "Incômodo e doloroso, sobretudo quando estamos diante de uma velhice sem memória, como é o caso das histórias do livro", explana, acreditando que a ficção é uma forma de chegar ao tema pelo simbólico.

Confira, a seguir, outros trechos da entrevista

Mesmo sendo ficcional, há histórias verídicas que te inspiram?
Muitas das histórias, sim. Mas a verdade é só um ponto de partida. Eu depois faço a roda surtar. É assim que funciona. Solto a mão da realidade e embarco na criação. 

Na sua opinião,  fala-se pouco a respeito de cuidadores, sejam eles pessoas da família, sejam profissionais? 
Sim, exato. Esse personagem - o cuidador - precisa ser valorizado. Precisamos entender suas limitações, seus conflitos, seus desafios. No caso dos parentes, muitas vezes, a pessoa deixa sua vida de lado para cuidar... No caso do profissional, penso tratar-se de uma profissão que exige uma série de qualificações (paciência, atenção) que nem sempre  as pessoas têm ou se preocupam em ativar... Precisamos entender suas limitações, seus conflitos, seus desafios. Eu criei dois exemplos - a Yasmim, a personagem que vai cuidar da idosa central por obrigação, e o Jonas, que surge com o intuito de ensiná-la a cuidar sorrindo.
Sobre a autora
Claudia Nina é jornalista e doutora em Letras pela Universidade de Utrecht, na Holanda, com tese sobre Clarice Lispector. Trabalhou como professora-visitante de Teoria Literária na UERJ.  Em 2020 foi convidada para lecionar a disciplina Escrita Criativa: do real ao ficcional, na pós-graduação de Literatura Brasileira de Autoria Feminina na Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro. É autora de romances, ficção e biografias, além de se dedicar a obras infanto-juvenis. Finalista do Prêmio Rio de Literatura 2015, é também colunista da Revista Seleções (Reader´s Digest), na qual assina a coluna online “Histórias que a vida conta”. Assina, ainda, uma coluna de crônicas no site do jornal Rascunho.

 

 

 

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