Se a Belo Horizonte boêmia da década de 30, que via a Lagoinha como o apogeu de sua vida noturna e berço do samba, respondesse por um nome, esse seria Rômulo Paes. Radialista, compositor e boêmio convicto, Paes foi responsável por retratar a alegria e a simplicidade dos carnavais de então celebrando sua relação umbilical com a cidade que adotou como sua. Amanhã, o mineiro de Paraguaçu completaria 100 anos.
“A simplicidade das composições do Rômulo enobreciam o passado de Belo Horizonte e sua memória”, assinala a cantora Selmma Carvalho, que passou a conhecer mais sobre Paes quando foi convidada por Gervásio Horta, antigo parceiro do cantor, para gravar uma das músicas de sucesso no disco “Rômulo Paes e Coisas Mais”, de 2000. “Para mim, foi a oportunidade de conhecer a obra de um compositor que cantava outra Belo Horizonte”, completa.
Para os mais novos, talvez Rômulo Paes seja “apenas” um famoso desconhecido que dá nome a uma praça bem no coração de Belo Horizonte, que tem uma de suas frases icônicas gravadas em um monumento – “minha vida é essa, subir Bahia e descer Floresta”.
Entretanto, para uma geração de músicos e intérpretes, de todo o Brasil, Paes é uma referência, sobretudo porque teve suas músicas gravadas por nomes de peso como Orlando Silva, Luiz Gonzaga e Dircinha Batista. “O Rômulo era chamado de Lupicínio Rodrigues de Belo Horizonte pelo Gervásio Horta por sua importância na radiodifusão na cidade. Era o nosso Adoniran Barbosa”, pontua Selmma.
Aos 17 anos de idade, Paes iniciou sua carreira como cantor de rádio, mas não chegou a gravar nenhum disco. Mais tarde, foi diretor artístico da rádio Guarani e comandou a rádio Mineira. Em seus 20 anos trabalhando em rádios, foi responsável por lançar importantes nomes da música brasileira, como Dalva de Oliveira.
Paes faleceu em 1982 e, além de uma quantidade enorme de composições, também ficou conhecido por sua verve boêmia e por dar nome Kaol (cachaça, arroz, ovo e linguiça) a um dos pratos mais emblemáticos do não menos emblemático Café Palhares, que fica no centro de Belo Horizonte. Além disso, era um folclórico rei de bordões na rádio Guarani. “Ele era uma figura muito carismática, dava receitas de bolo e tinha frases superengraçadas, como: ‘Malandro é o gato. Não toma banho e está sempre limpinho’ ou ‘passarinho que dorme com morcego acorda de cabeça para baixo’”, relembra Selmma.