Historiador, doutor em história social pela USP e professor na Unicamp, Leandro Karnal é reconhecido em todo o país como importante palestrante, intelectual e formador de opinião. Alguns de seus livros estão entre os mais vendidos do Brasil, como “O Inferno Somos Nós”, “Todos contra Todos”, “Crer ou Não Crer”, “Santos Fortes” e “Diálogo de Culturas”. Participa de programas como “Jornal da Cultura” e “Café Filosófico CPFL” e é colunista fixo do jornal “O Estado de S. Paulo”. Sua página no Facebook possui mais de 1,4 milhão seguidores, e seus vídeos, comentários e frases circulam pela internet com enorme popularidade.

É com essa bagagem que ele chega a Belo Horizonte para ministrar a palestra “Onde quero estar quando o futuro chegar”, na próxima segunda-feira, às 20h, no Km de Vantagens Hall. Em pauta, o pensamento estratégico. Seria possível pensar sobre aquilo que ainda não existe? A palestra trata da noção de tempo entre nós, especialmente da aceleração no mundo líquido contemporâneo. O encontro também tratará de metas, equilíbrio, vida pessoal, trabalho, resiliência, planejamento e protagonismo.

É possível planejar estrategicamente e pensar num futuro quando o presente se encontra tão incerto, instável, e qualquer dia pode mudar tudo ou absolutamente nada?

Quanto mais incerta a jornada, mais cuidadosa será a mala preparada para ela. Nunca a estratégia foi tão importante. Estamos em um momento no qual a elaboração de boas estratégias é fundamental. Sim, o presente está incerto e instável, e isso demanda mais cuidado. Para dar um exemplo banal: a instabilidade eleitoral passará em meses, e seu projeto de vida e de carreira é para 35 anos. O primeiro item não pode barrar o segundo.

A palestra também pretende tratar da noção de tempo. Como o senhor acha que a intensa revolução tecnológica do século XXI – com redes sociais e aplicativos nos mantendo conectados o tempo todo, e o ciclo de notícias de 24 horas – afetou, positiva ou negativamente, nossa percepção e nossa relação com o tempo? Como administrá-lo para não viver num estado constante de ansiedade e expectativa?

O tempo foi acelerado, e a fluidez da percepção dele, também. Porém, vejamos: todos os dados estão disponíveis online, e formar um médico ou uma chef de cozinha continua sendo fruto de anos de estudo e dedicação pessoal. O tempo foi acelerado, mas o esforço continua intenso e necessário. Toda a velocidade de e-mail, mensagens e imagens não acelerou o esforço para que alguém se torne atleta de alto nível.

Aproveitando a deixa das redes sociais, queria falar um pouco de sua presença virtual. Sua página no Facebook tem mais de 1,4 milhão de seguidores, e suas frases e vídeos circulam diariamente pela internet de uma forma que não há como você controlar. Qual sua relação com essa nova forma de produção de conteúdo?

Sou levado a supor que é impossível controlar. Minhas frases são recortadas sempre. Faço uma palestra sobre um tema, analiso um argumento com que eu não concordo e depois digo o motivo. Só gravam o argumento sem minha resposta. Pior: emito uma opinião sobre um político há dois anos no “Jornal da Cultura”, e, agora que o político vive outra situação, pegam aquele depoimento descontextualizado para dizer que se aplica agora. Por fim, além do recorte e da citação descontextualizada, existe a franca falta de caráter de colocar uma foto minha com uma frase que eu nunca disse. Suponho que isso ocorra com todo mundo que tenha alguma projeção midiática ou relevância política. Posts de celular não são o lugar ideal para formar opinião política ou formar sua capacidade crítica.

Se o senhor pudesse descrever a forma ideal como gostaria que uma pessoa se sentisse ao sair de sua palestra, como seria?

Cheia de novas perguntas e com poucas respostas. Questionando se estava certa nas escolhas e tentando novos caminhos. Que saísse com dúvidas novas que indicassem novos caminhos. Pensar é questionar e ensinar a perguntar, jamais traçar o plano exato e preciso do que alguém deve fazer.

Além de palestras, o senhor é autor de livros de sucesso, colunista, professor. Existe alguma dessas atividades em que se sinta mais à vontade ou que considere seu estado natural? Se tivesse que escolher uma apenas, seria capaz de fazê-lo com facilidade?

Sempre me sinto completamente à vontade dando aula em qualquer situação. Amo escrever, porém dar aula é o que mais gosto.

Li também que o senhor gosta muito de viajar e testemunhar processos educativos em diferentes lugares do mundo. Existe algo específico que aprendeu ou testemunhou no exterior que gostaria de poder ensinar ou aplicar no Brasil?

Aprendi que educar não implica aparelhos sofisticados, mas projetos e filosofia. Aprendi que seria ótimo um Estado favorável e uma sociedade que apoiasse a educação, mas que toda diferença está na atitude do aluno e do professor.

Por fim, estamos vivendo um momento conturbado e violento de eleições. E pode-se dizer que os principais sentimentos que estão guiando esse processo eleitoral são a raiva, o ressentimento e a não aceitação de uma forma de pensar que seja diferente. O senhor acha que ainda é possível reverter esse “estado de espírito da nação” antes da votação? E, se não, quanto tempo o senhor acha que vai levar para “remediar”, de alguma forma mais racional, esses ânimos exaltados e um tanto destrutivos que contaminam o país hoje?

A polarização é um momento de burrice forte. Porém, temos de entender que ela é muito mais da internet do que do mundo real. O mundo real está acordando cedo, pegando ônibus, indo trabalhar etc. O mundo real não fica em manifestações o dia todo. Quem está na rua o tempo todo são profissionais da política e do controle da opinião, e a internet está dominada por robôs. O mundo real, curiosamente, continua sendo o brasileiro médio de sempre. Alguém que está me lendo agora deixou de ir ao emprego porque Bolsonaro levou facada ou porque Haddad subiu nas pesquisas? Como em um mundo de “Matrix”, estamos começando a perder clareza na distinção entre real e virtual.

Agenda

O que. Leandro Karnal ministra a palestra “Onde quero estar quando o futuro chegar”

Quando. Segunda-feira (24), às 20h

Onde. Km de Vantagens Hall (avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro)

Quanto. Ingressos variando entre R$ 50 e R$ 200