SÃO PAULO. A mística revolucionária que marca o povo de Cuba se desfez para o escritor brasileiro Chico Mattoso, 32, justo nos seus últimos dias em Havana. O autor passou 30 dias na ilha caribenha com um único propósito: conceber uma história de amor para transformá-la em romance.


Renato larga tudo no Brasil e acompanha a namorada, Camila, que vai a Cuba produzir um documentário. Vinte e três dias depois, ela desaparece após crises de ciúme e muitas brigas.


A história do casal brasileiro que protagoniza "Nunca Vai Embora", sexto volume da coleção Amores Expressos, da Companhia das Letras, traz personagens cubanos que refletem o orgulho e, ao mesmo tempo, a desilusão com o país.


Pepe, que ajuda Renato na busca pela amada, denota a paranoia da perseguição política, mas também nutre sentimentos de admiração.


Mattoso adiou sua ida a Cuba para estar lá justamente em 26 de julho - um domingo - e ver como são as comemorações do chamado Dia da Rebeldia Nacional. Num domingo também, 54 anos antes, Fidel Castro liderou um ataque a um quartel.


O movimento fracassou, mas deu início à revolução que derrubou Fulgencio Batista seis anos depois.
"Eles pareciam ter mandado toda aquela história às favas. Foi um domingo como outro qualquer. Não havia gente nas ruas", conta Mattoso, que, desde a chegada, via cartazes espalhados pela cidade anunciando o evento.


Os "30 dias maravilhosos de trabalho" que o escritor passou em Havana foram na casa de uma família cubana. Sem saber, Mattoso alugou um quarto na morada da filha de Doña López, "La Voz Ranchera de Cuba".


Lolita López, hoje com 74 anos, foi uma das grandes cantoras cubanas de ranchera, tradicional estilo musical mexicano. Até hoje, Lolita é lembrada pela imprensa local a cada aniversário.


Mattoso tinha a certeza de que os protagonistas do livro não seriam cubanos quando saiu do Brasil porque "era muito fácil soar falso". No fim das contas, Pepe e os demais compatriotas de Fidel são bem verdadeiros.


documentários. Os diretores Tadeu Jungle e Estela Renner acompanharam os 16 escritores que produziram obras para a coleção literária Amores Expressos e filmaram a série documental homônima, que começou a ser exibida pela TV Cultura na última quinta-feira.


Cada episódio retrata as experiências de um autor diferente. Os escritores foram incumbidos de ficar 30 dias em uma cidade, criar uma história de amor que se passa no local e transformá-la em livro.


Jungle conta que, quando soube da ideia, não pôde deixar passar. "Em uma semana, estava com o plano de viagem".


O primeiro episódio exibido foi com o escritor Antonio Prata, que viajou a Xangai, na China. Na próxima quinta (5), vai ao ar o documentário com Bernardo Carvalho, que criou a história do romance "O Filho da Mãe" enquanto esteve em São Petersburgo, na Rússia.