Música

Duda Beat: “Toda mulher tem a obrigação de ser feminista”

Atração do MECAInhotim, em maio, cantora recifense é a rainha da sofrência pop

Por Raphael Vidigal
Publicado em 30 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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De joelhos, com a mão estendida e o olhar para cima, o pedido foi feito. A outra mão trazia o símbolo daquele gesto. Era tudo uma brincadeira, mas que, para Duda Beat, 31, guarda uma verdade cada vez mais moderna. “Outro dia pedi o meu namorado em casamento de brincadeira. São os direitos iguais. O homem pode fazer o papel da mulher, e a mulher pode fazer o papel do homem. Esses papéis definidos não têm que existir mais. A mulher também pode comprar aliança”, exemplifica.

Atração do MECAInhotim, em maio – ela se apresenta no dia 18, quando também sobem ao palco Gilberto Gil e Céu –, a recifense se tornou uma das sensações da música brasileira desde que lançou, em abril do ano passado, o seu aclamado disco de estreia. Sucesso de crítica e público, “Sinto Muito” ganhou o prêmio na categoria revelação de música popular da Associação Paulista de Críticos de Arte e bateu recordes de visualizações nas plataformas digitais, sendo compartilhado até por Pabllo Vittar. 

Para completar, Duda viu o seu prestígio aumentar quando, depois de cantar com a musa Ivete Sangalo no Carnaval da Bahia, mandou o seu recado para uma multidão que compareceu ao festival Lollapalooza, em abril. Chamada de “rainha da ‘sofrência’ pop”, ela se orgulha do reconhecimento. “Adoro esse título. Acho que todo mundo tem o direito de sofrer e a obrigação de se levantar. E ele é perfeito porque eu canto ‘sofrência’ (misto de sofrimento e carência) e me considero pop, o que nada mais é do que estar aberta a todos os públicos e estilos, onde todo mundo é bem-vindo”, define. 

A gama de referências no primeiro álbum comprova a tese. Faixas como “Derretendo”, “Ninguém Dança”, “Back to Bad” e “Parece Pouco” passam pelo reggae, brega, música latina e rap. “O que está no meu disco é tudo o que eu gosto de ouvir, ele é um reflexo meu para o mundo. Somos pessoas plurais, tenho batido nessa tecla. A vida é muito vasta para seguir um caminho só”, filosofa. Autora das 11 letras do trabalho inaugural, que apresenta melodias em parceria com o namorado, o produtor Tomás Tróia, Duda faz questão de ser dona do próprio discurso, o que, segundo ela, possibilita uma perspectiva única. 

“Fico feliz de ter tido a coragem de me expor e ver tantas mulheres se identificando comigo”, diz. Nos versos do envolvente hit “Bixinho”, que ganhou um videoclipe bombadíssimo, ela afirma: “Com esse sotaque cê me deixa louca/ Cheira meu cabelo, aperta minha coxa/ Que com esse beijo cê me deixa doida”. “Toda mulher tem a obrigação de ser feminista. A mulher tem que se satisfazer, seja numa relação com um homem ou com outra mulher, mas ela tem que se colocar em primeiro plano. Se a mulher tá a fim, ela tem que correr atrás mesmo”, defende. 

“No final do disco eu estou totalmente empoderada”, completa ela, em referência à abertura da música “Bolo de Rolo”, que determina: “Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém”. “Isso virou um hino para as mulheres que sofrem com pais e parceiros machistas”, afiança. 

Origem. Na certidão de nascimento, Duda é Eduarda Bittencourt. O batismo artístico ela encontrou graças à sugestão de uma amiga. Porém, a cantora resistiu, inicialmente, à ideia de agregar o Beat ao seu nome, por medo de “ficar associada apenas ao rap”. O convencimento se deu quando ela se lembrou de suas origens e do movimento capitaneado pelo conterrâneo Chico Science (1966-1997). “No início fiquei reticente, depois encarnei de corpo e alma, porque tem essa ligação com o manguebeat, que é muito importante para a minha terra”, conta.

De Pernambuco, “além do sotaque”, ela mantém o afeto pelas primeiras lembranças musicais. Era no terreiro da casa do avô que, todo domingo, “os tios tocavam violão numa espécie de sarau em que todos cantavam”, relembra. “Eu era criança e adorava aquilo”, confessa. Sem se lembrar do título da canção “Mel na Boca”, êxito do grupo Fundo de Quintal e da carreira de Almir Guineto, ela cantarola o refrão do pagode romântico que nunca saiu de sua cabeça: “É mentira/ Cadê toda promessa de me dar felicidade/ Bota mel em minha boca/ Me ama, depois deixa a saudade”. 

Saudosa de um romantismo que ela tem visto minguar com o advento das novas tecnologias, Duda não deixa de proclamar sua crença. “A fugacidade dos relacionamentos é um sintoma da nossa época. Sou romântica, gosto de construir laços, mas respeito todas as formas de amor, o importante é amar”, sustenta. Prestes a se formar em ciências políticas, ela revela que a preocupação com o momento do país vai aparecer em seu próximo trabalho musical.

“Não gosto do atual presidente, que despreza as minorias e quem mais precisa. Lula é um preso político que fez esse país crescer, abriu as portas no exterior e nos fez respeitados. A prisão dele é injusta. O (ministro) Sergio Moro falava que não tinha interesses políticos e, sem nenhum escrúpulo, agora ocupa um cargo”, conclui. 

Assista ao videoclipe  “Bixinho”, de Duda Beat: 

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