Fazer uma crítica de qualquer filme do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) não é simples. Os longas têm um contexto que precisa ser inserido em uma cronologia maior. Eles possuem símbolos a serem decifrados a partir de outros filmes, e, assim, uma teia vai se formando aos poucos. Porém, cada um dos títulos – sem levar em consideração sua relevância dentro da cronologia estabelecida pelos demais filmes, tem seu valor – maior ou menor.
Somando-se a isso, o Homem-Aranha é um herói que já ganhou muitas versões em live-action e animações. Com Sam Raimi e Tobey Maguire, ele teve nuances mais sombrias. Agora, com Jon Watts e Tom Holland, o garoto conquista uma leveza, que não é necessariamente boa – todo herói tem um quê de tristeza –, mas o distancia de seu antecessor, e isso facilita sua aceitação. O Peter Parker de Holland poderia ser seu filho, seu sobrinho, seu vizinho ou seu colega de classe. Ele é gente como a gente e, com seu jeito introvertido, conquista a empatia do público jovem e maduro.
“Homem-Aranha: Longe de Casa”, que estreia hoje nos cinemas, mostra o herói visto em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (2017) numa nova encruzilhada emocional. No primeiro filme, o drama de Peter era lidar com sua identidade secreta. Agora, tudo o que ele quer é livrar-se um pouco dela, ao menos durante as férias escolares. Em uma viagem da turma para a Europa, Peter planeja declarar seu amor a MJ (Zendaya), em Paris, num cenário para lá de romântico. Na realidade, porém, o jovem terá de transpor um obstáculo maior que sua timidez: uma ameaça de destruição do planeta.
Os planos vão bem para Peter, até que Nick Fury (Samuel L. Jackson, em seu 12º filme no papel) aparece, com aquele jeito nada empático de ser, e recruta o garoto para a missão de conter os seres elementais que vão aterrorizar Veneza e Praga. A tarefa do Homem-Aranha é ajudar um tal “herói” de outra dimensão, Quentin Beck, ou Mysterio. O personagem, vivido por Jake Gyllenhaal, consegue ganhar a confiança de Peter e o coloca em apuros.
Como já é de praxe tanto nos filmes do MCU quanto nos longas do Homem-Aranha, o humor percorre toda a trama, com boas piadas que vêm de todos os lados, seja da Tia May (a ótima Marisa Tomei), do Happy Hogan (Jon Favreau, divertidíssimo), dos colegas e professores de Peter, de Fury e até dos skrulls Talos e Soren, já nos sensacionais pós-créditos.
As cenas de ação são acertadas, e, diferentemente de filmes como “X-Men: Fênix Negra”, os efeitos visuais são usados a serviço da trama. As cenas de batalha são boas, especialmente a luta final, que prepara o cenário para a esperada cena romântica de Peter e MJ, que não sai bem como o garoto sonhou, mas é fofa.
Mysterio: Herói ou vilão?
“Homem-Aranha: Longe de Casa” joga com a vilania de Quentin Beck, o Mysterio, criado por Stan Lee e Steve Ditko, em 1964. No início do filme, Quentin pede ajuda a Nick Fury para salvar o mundo e conquista a confiança do chefão e de Peter Parker, que é obrigado a ajudar na missão. O problema é que tudo se resolve rápido demais e o espectador pensa: “Já se passaram duas horas?” Não! Então, prepare-se para o segundo round.
Mysterio, um especialista em ilusão, ganha uma ligação com o Homem de Ferro e é interpretado por Jake Gyllenhaal, que manda bem. Com Doutor Octopus, Electro, Kraven, Homem-Areia e Abutre, Mysterio integra o Sexteto Sinistro, que reúne inimigos do Homem-Aranha nas HQs. O cinema já retratou todos, com atores como Willem Dafoe, Michael Keaton e Jamie Foxx.
Cenas pós-créditos são de tirar o fôlego
Peter Parker, em “Homem-Aranha: Longe de Casa”, está em luto, afinal, seu mentor Homem de Ferro morreu em “Vingadores: Ultimato” para que ele e outros heróis pudessem viver. A todo momento, o garoto recorda o amigo que lhe deixou um par de óculos hi-tech especiais, objeto essencial para os acontecimentos que agitam o novo longa.
Além de contextualizar o filme logo após os acontecimentos de “Ultimato”, a primeira cena pós-crédito – são duas, por isso não desgrude da poltrona – deixa um gancho para o próximo título da franquia, previsto para 2021. Sem dar spoiler, só um aviso: após o clássico passeio de teia pelos arranha-céus de Nova York com sua amada, um telão dá o alerta que aterroriza Peter. Uma revelação é feita por J. Jonah Jameson, do jornal “Clarim Diário” – num retorno de J.K. Simmons ao papel que teve na trilogia de Sam Raimi –, numa arapuca armada por Mysterio. Já a outra cena envolve Nick Fury e os skrulls, que são seus aliados, numa pista do que está por vir dentro do Universo Cinematográfico Marvel. Vai dar o que falar...