Roberto Burle Marx pintava de manhã e fazia seus jardins à tarde. Viveu a época em que os mesmos princípios de construção valiam para uma cadeira, um canteiro, um quadro.

Nas telas, foi do realismo figurativo à abstração informal. No paisagismo, mastigou o racionalismo de Le Corbusier e desenhou as curvas ritmadas do calçadão de Copacabana.
Duas semanas antes do centenário de seu nascimento, Burle Marx (1909-1994) é tema de uma grande retrospectiva em cartaz no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, que vai até o dia 13 de agosto.

Numa cronologia invertida, a mostra começa com seus quadros mais recentes e regride até seus projetos paisagísticos dos anos 40 aos 60 - tentativa explícita de mostrar que seus jardins não foram traduções simples e diretas de suas telas.

De fato, Burle Marx ficou sempre à sombra de Guignard, Portinari e Di Cavalcanti na história da pintura brasileira, mas os jardins e parques que projetou, com flores e plantas no lugar dos pigmentos, incorporaram o passar do tempo à estética e ficaram na memória como ponto forte de seu legado.

"Ele fez composições permanentes com elementos instáveis’’, descreve Lauro Cavalcanti, 55, curador da mostra no MAM.

Segundo o organizador da mostra, esta foi sua resposta ao modernismo.

"Se o movimento preconizava um idealismo alheio à passagem dos anos, com condições rígidas de tempo e luz, o trabalho de Burle Marx introduz os ciclos de morte e vida das flores nos pátios e jardins dessa arquitetura estoica", explica.